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Fala, Excelência!

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Por José Roberto de Toledo
Atualização:

Excelência! Excelência! Estamos ao vivo transmitindo a votação da reforma política. O senhor poderia explicar para o nosso telespectador o que foi aprovado? - A que horas vai ao ar? - Está no ar. É ao vivo. - Então espera um pouco, deixa eu passar um pente no cabelo. - As pessoas já estão vendo o senhor, Excelência. É ao vivo. - Mas a essa hora? É tão tarde. Não era para ter ninguém assistindo… - Excelência, por que os mandatos de presidente, governador e prefeito vão aumentar para cinco anos? - Porque nós acabamos com a reeleição, e quatro anos é muito pouco tempo para fazer tudo o que precisa ser feito. - E se o governante for ruim e estiver fazendo tudo errado, ele vai melhorar e passar a fazer tudo certo no quinto ano? - Veja bem… Não se pode criar uma lei pensando em casos específicos. Isso seria casuísmo. A Constituição só deve estabelecer regras universais, que valem para todos. - Se vale para todos, deputados e senadores não vão mais poder se reeleger? - Quem falou essa barbaridade? Esconjura! Pé de pato, mangalô, três vezes!  - Calma, Excelência! - Deputados e senadores continuamos podendo nos reeleger quantas vezes quisermos. - Quantas vezes o eleitor quiser… - Você me entendeu. - Se a reeleição não acabou para os deputados, por que eles também vão ter seus mandatos aumentados? - Como eu disse, cinco anos é uma regra universal. Você não pode discriminar o deputado, entende? - Não seria bom ter uma eleição exclusiva para o Congresso? Dar mais atenção ao voto em deputados e senadores?  - Se fosse assim ia ter eleição quase todo ano. O eleitor não aguenta mais votar tantas vezes. - Foi por isso que os senhores acabaram com o voto obrigatório? - Está louco! Voto facultativo é coisa de comunista neoliberal. O voto é um dever cívico! Todo mundo continua obrigado a votar e cumprir sua parte na festa da democracia. - E por que não aprovaram a coincidência de todos os mandatos? Não era para economizar e fazer uma eleição só a cada cinco anos? - Que ideia de jerico! Quem ia conseguir decorar número de candidato a presidente, a governador, três de senador, de deputado federal, de deputado estadual, de prefeito e de vereador? Iam votar mais errado do que já votam. - Foi pensando só no eleitor, então? - Sempre! - Nada a ver com o político que não se elegesse e que ficaria sem chance de disputar outro cargo por cinco anos? - Isso nem tinha me passado pela cabeça. - E por que os senhores diminuíram a idade mínima para alguém se eleger deputado? - Os jovens estão muito precoces. Veja o meu filho, por exemplo: tem só 18 anos, mas já está seguindo os passos do pai. É vereador. Por que não posso colocar ele de deputado, de uma vez? Precisamos dar chance à juventude. Tudo começa mais cedo, hoje em dia. É uma tendência, entende?  - Por isso que os senhores querem reduzir a maioridade penal? - Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. - E o financiamento empresarial, por que os senhores resolveram aprovar uma emenda constitucional sobre algo tão específico? Não era para colocar apenas princípios universais na Constituição? - Por que senão aqueles ministros do Supremo, com a mania que eles têm de legislar, iam proibir a gente de arrecadar dinheiro junto às empresas. Você tem ideia de quanto custa para eleger um deputado? - Não é o quanto aparece na prestação de contas oficial? - Você me entendeu. - Há quem diga que os senhores estão legislando em causa própria… - Dá licença, meu filho. O chefe está indo embora e preciso falar com ele. Eduardo! Eduardo!

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