FAB mantém treinamento em epicentro de covid

Não recomendada pelo governo do Estado, atividade vai reunir 700 militares em Campo Grande, que concentra 40% dos casos no MS

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Por Vinícius Valfré
Atualização:

BRASÍLIA - Mesmo com o avanço da covid-19 no Centro-Oeste, a Força Aérea Brasileira (FAB) manteve, neste mês, a realização de um treinamento para 700 militares na região metropolitana de Campo Grande. A decisão incomodou o governo estadual, que defende restrição de atividades que não sejam essenciais.

Campo Grande concentra aproximadamente 40% dos 29 mil casos de covid-19 no Mato Grosso do Sul, que, até sexta-feira, registrava 481 óbitos pela doença. No mapa da administração estadual, a cidade aparece como “risco extremo”.

Helicópteros das Forças Armadas usados durante treinamento operacional em Campo Grande, em 2019 Foto: SARGENTO BRUNO BATISTA-CECOMSAER - 30/4/2019

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A Secretaria de Saúde do Estado informou que “não recomenda a realização do evento neste período”, mas que “respeita a decisão da FAB” por acreditar que o plano sanitário criado para o exercício militar “possui todas as medidas necessárias para a segurança dos envolvidos”.

Professor da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul e infectologista da Fiocruz, Júlio Croda diz que a região vive o momento mais delicado na pandemia até agora. A ocupação dos leitos de UTI alcançou 94%, sem sinais de estabilização no total de infecções. “É um momento crítico. Se muitas pessoas vêm para a cidade com elevado nível de contaminação, temos que pensar se o evento é essencial, se deve ser realizado e se não pode ser adiado. Não é momento de aglomerar pessoas, de nenhuma atividade que não seja essencial”, afirmou.

Justificativa

O chamado Exercício Operacional Tápio (Expo Tápio) ocorrerá em uma base militar de Campo Grande, de 17 de agosto a 4 de setembro. A atividade capacita a Força Aérea para cenários de “guerra irregular” – conflitos com grupos como de traficantes ou guerrilheiros.

A Aeronáutica afirma que o treinamento, que ocorre pelo terceiro ano consecutivo, é necessário para manter a capacidade de operação dos militares e para emprego imediato em missões em curso, como a Verde Brasil 2 e a que combate incêndios no Pantanal. Segundo a FAB, todas as medidas de proteção estão sendo tomadas para que militares não sejam infectados e para que, em caso de contaminação, o sistema de saúde local não seja sobrecarregado. Os participantes do Expo Tápio serão submetidos a testes para covid-19 às vésperas do embarque. Uma comissão de vigilância vai monitorar as instalações e uma equipe médica estará a postos.

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Os participantes serão obrigados a utilizar equipamentos de proteção. As reuniões serão feitas em etapas para reduzir aglomerações e o auditório usado no treinamento não terá mais de 40% de sua capacidade preenchida. Etapas do treinamento que não demandarem o deslocamento serão feitas de maneira remota.

No ano passado, o treinamento mobilizou 50 aeronaves da FAB e mil militares de Marinha, Exército e Aeronáutica. As manobras envolveram equipes de Transporte, Caça, Asas Rotativas, Reconhecimento e Busca e Salvamento, além do esquadrão Aeroterrestre de Salvamento, da Brigada de Defesa Antiaérea e dos Grupos de Defesa Antiaérea. “A realização do Expo Tápio é fundamental para garantir a continuidade da capacitação operacional dos militares e a pronta resposta para emprego em diversas missões, além da atuação em casos de resgate de enfermos em navios, transporte de medicamentos e equipamentos de saúde”, disse a FAB, em nota.

No interior do MT, indígenas doentes ficam sem aviões

Moradores de regiões mais isoladas do Centro-Oeste enfrentaram, nas últimas semanas, falta de aeronaves para socorrer vítimas da covid-19. A suspeita de adulteração em lotes da gasolina usada em aviões com motor a pistão, investigada pela Agência Nacional do Petróleo (ANP), afetou o tráfego de aeronaves que prestam serviço ao Distrito Sanitário Especial Indígena do Xingu, unidade que integra a rede pública de atenção à saúde indígena, em Canarana (MT). Por recomendação da ANP, a empresa contratada para levar pacientes das aldeias suspendeu temporariamente as decolagens. Entidades contrataram voos alternativos. Na semana passada, uma grávida da aldeia piyulaga, às vésperas de dar à luz, precisou ser transportada de avião às pressas por causa da saúde debilitada. Segundo o Distrito Sanitário Especial Indígena do Xingu, o problema está sanado e os voos, restabelecidos.

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