Expedição encontra vestígios de isolados no rio Boia

Equipe da Frente de Proteção levou sete dias para chegar ao ponto de entrada na mata

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Por Roberto Almeida
Atualização:

A expedição da Frente de Proteção Etnoambiental Vale do Javari, comandada pelo indigenista Rieli Franciscato, encontrou vestígios de índios isolados, não contactados, a cerca de 40 quilômetros dos limites da Terra Indígena Vale do Javari, no Amazonas.

 

São quebradas, varadouros e varadouros de caça, que indicam que há perambulação do grupo isolado próximo à nascente do rio Boia, onde ainda há mata virgem. Para Franciscato, os índios saem da área do rio Jandiatuba e cruzam os limites da terra indígena em busca de caça e pesca, abundante na região.

 

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A Terra Indígena Vale do Javari foi demarcada em 2000, mas nunca havia sido realizada uma expedição profunda nas cabeceiras do rio Boia. A equipe da Frente de Proteção, composta por 11 pessoas, levou sete dias em voadeiras para chegar ao ponto de entrada na mata.

 

Em seguida, foram mais seis dias de caminhada em terreno encharcado, onde foram encontrados os vestígios. Quando perambulam em busca de caça, os índios deixam as quebradas - ou pequenas árvores dobradas com a mão para abrir passagem.

 

Uma sequência de quebradas sem rumo definido configura um varadouro de caça. E uma sequência de quebradas com direção e caminho demarcado é um varadouro, ou seja, delimita o trajeto percorrido pelos isolados.

 

O grupo de isolados do rio Jandiatuba já é conhecido. Por meio de sobrevoos, a Funai constatou a existência de malocas e roças. Até hoje, eles não têm contato direto com não-índios, não se sabe quantos membros são e sua área de perambulação não foi delimitada.

 

Franciscato, que marcou em um localizador via satélite as coordenadas de cada vestígio, não acredita que os indícios sejam suficientes para pedir uma nova demarcação de terra, mas vê como essencial que a área seja monitorada.

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Fora da terra indígena, o grupo está desprotegido e pode sofrer com ação de garimpeiros, que exploram ilegalmente o rio Boia, a 500 quilômetros da cidade de Jutaí. Suas margens estão devastadas e há enormes bancos de areia, do tamanho de 30 campos de futebol, subproduto do garimpo.

 

No final de dezembro, a expedição da Frente de Proteção encontrou cinco grandes balsas de garimpo de ouro e encaminhou a informação à Polícia Federal para que fossem tomadas providências.

 

MORTES

 

O objetivo inicial da expedição era investigar boatos de que índios isolados de um grupo desconhecido teriam matado dois moradores da região em 2004 e 2008. As histórias correram pelas comunidades ribeirinhas.

 

A primeira morte, em 2004, foi da mulher de "seu Heleno", madeireiro que explorava a área. Em 2008, uma criança teria sido morta, de acordo com relatos de índios kanamaris.

 

No entanto, os poucos vestígios encontrados não colaboram para a tese. A expedição esperava por uma área de perambulação com mais sinais dos isolados, o que indicaria presença constante na área, a fim de protegê-los do contato com não-índios.

 

EXPEDIÇÃO

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A expedição da Frente Etnoambiental Vale do Javari, realizada pela Funai em parceria com o Centro de Trabalho Indigenista, partiu no dia 1º de dezembro da cidade de Tabatinga, no extremo oeste do Amazonas, prevendo duas grandes entradas na mata.

 

A primeira ocoreu para verificar se uma clareira encontrada na área do rio Boia fora realizada por índios isolados. A hipótese foi refutada em meados de dezembro. A segunda, para investigar as duas mortes supostamente ocorridas por ação dos isolados, o que restou inconclusivo.

 

Caso fossem encontrados vestígios nas duas entradas, o objetivo seria de catalogá-los como provas de sua existência nas duas áreas expedicionadas e elaborar um projeto para protegê-los do avanço do garimpo, da extração de madeira e do tráfico de drogas.

 

Se houvesse contato direto com os índios, a missão recuaria até o ponto inicial, sem estabelecer comunicação. A Funai aposta na proteção dos isolados, e não em realizar contatos, para manter sua existência.

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