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Exército reforça combate a mosquito da dengue nas ruas do Rio

Por PEDRO FONSECA
Atualização:

O Exército trocou armas e munições por uma bolsa carregada de pó larvicida nesta terça-feira para atacar focos do mosquito da dengue nas ruas do Rio de Janeiro, mas especialistas alertam que a medida é ineficaz para combater a epidemia que atinge a cidade. No primeiro dia de ação do Exército contra o mosquito "Aedes aegypti" nas ruas, os 300 militares, acompanhados de agentes de saúde, visitariam quatro mil imóveis na zona oeste da capital. Em todo o Estado, quase 60 mil pessoas foram infectadas pela dengue e 68 morreram neste ano. A capital tem a situação mais grave, e responde por mais de 41 mil casos desses e já teve 45 óbitos confirmados. Em todo o ano passado, foram 25 mil casos no município, com 26 óbitos. "Hoje estamos colocando em prática o lado da mão amiga do nosso lema Braço Forte, Mão Amiga", disse à Reuters o tenente-coronel Ugo de Negreiros, comandante da operação de combate aos focos do mosquito na rua, que deve continuar por 30 dias. "É um combate que nosso soldado não está acostumado, a gente não vê o inimigo", acrescentou. Após receberem o larvicida em uma praça militar no bairro de Relango, os soldados, acompanhados de oficiais, foram bem recebidos nas primeiras casas visitadas na manhã desta terça. Além de aplicar o produto, eles instruíam os moradores a eliminar os potenciais focos de reprodução do mosquito. Cerca de 1.200 homens do Corpo de Bombeiros já vinham exercendo a mesma atividade dos militares desde o mês passado, mas especialistas criticaram a ação, considerando-a ineficiente para deter a disseminação da doença. "Num instante de epidemia, não adianta ficar recolhendo criadouro, vaso de planta, caixa d'água, tem é que matar o mosquito adulto através de inseticida", disse por telefone o biólogo Alvaro Eiras, pesquisador da Universidade Federal de Minas Gerais, que criou uma armadilha contra o mosquito da dengue. A solução apontada por Eiras, cuja invenção permite a identificação de locais com maior infestação do inseto, seriam os carros fumacê, que têm sido pouco vistos pela população do Rio de Janeiro durante o surto deste ano. Segundo a Secretaria Estadual de Saúde, 17 fumacês estão circulando pela cidade diariamente, menos da metade dos 35 carros que estavam em ação durante a epidemia de 2002, que deixou 91 mortes em mais de 280 mil casos no Estado. Para o entomologista da Fundação Oswaldo Cruz Anthony Érico, especialista no mosquito "Aedes aegypti", a aplicação de larvicida é uma medida paliativa, que tem duração máxima de 20 dias. "O biolarvicida tem uma ação ativa de apenas 20 dias, se for uma vez só e não voltar mais, não adianta nada", disse. "A aplicação do larvicida é uma coisa pontual e de validade muito rápida", explicou. Érico acredita que os fumacês também não são adequados para o combate ao vetor, uma vez que "o mosquito da dengue é caseiro", e aponta como solução a educação da população a respeito da doença. "As pessoas recebem informação mas não são educadas a combater o mosquito. Como o Rio de Janeiro vai conviver para sempre com esse mosquito, a campanha teria que estar nas escolas, para que a criança aprendesse sobre o mosquito." Antes da participação no combate ao "Aedes aegypti", o Exército já tinha montado um hospital de campanha para ajudar no atendimento de pacientes infectados com a doença. Marinha e Aeronáutica também contribuem no atendimento com hospitais temporários.

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