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Exército faz estudo sobre retomada do País após a crise da covid-19

Documento do Centro de Estudos Estratégicos do Estado-Maior analisa hipóteses para o País deixar isolamento horizontal; diante da repercussão, instituição o retirou do ar

Foto do author Marcelo Godoy
Por Marcelo Godoy e Ricardo Galhardo
Atualização:

Testar em massa os brasileiros, agir rapidamente para isolar novos infectados e tentar manter o isolamento dos grupos de risco são as estratégias defendidas pelo Centro de Estudos Estratégicos do Exército (CEEEx) para o momento em que o País decidir pela retomada das atividades econômicas. O estudo foi publicado na quinta-feira pelo CEEEx, um órgão do Estado-Maior do Exército.

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O estudo feito pelo CEEEx é um rotina do órgão. Assim como o Observatório da Praia Vermelha, o centro tem desenvolvido cenários sobre a evolução da crise da covid-19. Após a sua publicação, o documento acabou sendo interpretado como mais uma manifestação técnica no governo que se opõe à visão do presidente Jair Bolsonaro de lidar politicamente com a crise, o que o Exército nega. Diante da repercussão, o Exército decidiu retirar o conteúdo do ar para evitar polêmicas.

O documento estabelece dois caminhos para a abertura: o primeiro deles é a transição direta do isolamento horizontal - atualmente adotado pela maioria dos Estados brasileiros com maior ou menor grau. Essa transição é comparada pelos militares com a estratégia usada em Taiwan, Cingapura e Coreia do Sul. Ela se baseia na adoção de testes em massa, no isolamento rápidos dos infectados e na comunicação imediata dos casos.

FAB enviou dois aviõespara resgatar brasileiros em Wuhan Foto: Gabriela Biló/Estadão

O segundo caminho identificado pelos CEEEX foi chamado pelos responsáveis pelo estudo de "estratégia de sequenciamento ou mista". Nela, o País alternaria quinzenas de isolamento horizontal com o vertical em razão do tempo necessário de quarentena para o coronavírus (14 dias). Haveria revezamento de atividades permitidas com dias e horários pré-determinados e limite para a presença de pessoas em lojas. Haveria ainda a adoção de distância obrigatória entre as pessoas e de limites no transporte público, além de serem mantidas as proibições de aglomerações.

Por fim, os militares reconhecem que a situação brasileira tem especificidades que devem ser levadas em conta. A primeira delas é a dimensão do País - muito diferente dos países asiáticos onde as duas estratégias de retorno à normalidade foram aplicadas. Além disso, o estudo chama a atenção para o fato de grandes contingentes populacionais viverem em ambientes precários e superpovoados nas grandes cidades ocupando comunidades carentes. O saneamento básico precário, deficiências no sistema hospitalare "características culturais diversas" também devem ser levados em consideração.

"Consenso tem de ser construído de forma urgente. Não parece razoável quebra de governabilidade num momento tão crítico", afirma o estudo. O documento ainda diz que o país deve ter "vontade de mobilizar todos os recursos da nação". "Fica claro que o objetivo principal será o de proteger vidas. Mas isso não pode ser atingido sem os meios necessários. Para isso o custo financeiro será alto, como em toda a guerra e, portanto, não poderemos desperdiçar recursos, sejam eles de pessoal, de material, financeiros, de infraestrutura ou quaisquer outros."

O documento do Exército chama a atenção ainda para o papel que os municípios devem desempenhar na crise em um país com as dimensões do Brasil. Pois mesmo dentro de Estados existem realidades e desafios completamente diversas entre as cidades. O estudo também aponta que as pesquisas sobre medicamentos e vacinas ainda são incipientes. Por isso, reconhece que o isolamento horizontal, por ora adotado em regiões com maior número de casos, aparentemente contribuiu para reduzir a curva de contágio do vírus. Os militares ainda alertam para um possível agravamento do quadro da doença quando o Brasil entrar no inverno, principalmente, na região Sul do País.

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