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Executivo confirma à CPI do BNDES ter prestado serviços à Odebrecht

Taiguara Rodrigues, amigo do filho de Lula, prestou depoimento de quatro horas à comissão

Por Igor Gadelha
Atualização:

Brasília - O empresário Taiguara Rodrigues dos Santos, dono da empresa de engenharia Exergia Brasil, afirmou nesta quinta-feira que sua companhia recebeu entre US$ 1,8 milhão e US$ 2 milhões por serviços prestados à Odebrecht na obra de ampliação e modernização da hidrelétrica de Cambambe, em Angola. Em depoimento à CPI do BNDES na Câmara dos Deputados, o executivo disse que o valor é referente a serviços de sondagem, avaliação da topografia e gerenciamento de obras prestados pela empresa. Segundo ele, todos os contratos foram obtidos por meio de licitações dentro da empreiteira.

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Aos deputados do colegiado, Taiguara também confirmou ser amigo do filho do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva Fábio Luís Lula da Silva, o Lulinha, mas negou que o ex-presidente ou seu filho tenham exercido tráfico de influência para que sua companhia conseguisse contratos junto à empreiteira. O executivo disse ter contato com Lula, mas não se considerar amigo do petista, embora seu pai, que foi cunhado do ex-presidente, tenha sido "muito amigo" do petista. "Lula foi casado com minha tia, irmã do meu pai", afirmou, negando que isso signifique que ele seja sobrinho do ex-presidente, como noticiado pela imprensa. 

Taiguara foi convocado à CPI do BNDES após reportagem publicada pela revista Veja, em fevereiro deste ano, insinuar que Lula e seu filho teriam exercido influência política para a Exergia Brasil conseguir contratos em Angola. A matéria afirmava que a empresa teria sido contratada pela Odebrecht para trabalhar na ampliação e modernização da hidrelétrica de Cambambe, no país africano. O acordo entre a Exergia e a Odebrecht, segundo a reportagem, teria sido formalizado no mesmo ano em que a empreiteira conseguiu um financiamento no BNDES para realizar um projeto na África. 

Em seu depoimento à CPI nesta quinta-feira, Taiguara afirmou que é amigo de Lulinha, com o qual o empresário confirmou ter feito uma viagem a Cuba. Segundo ele, a viagem teve como objetivo prospectar negócios, mas que nenhum contrato teria sido firmado. Em relação a Angola, ele disse que as oportunidades de trabalho naquele país apareceram "com o passar dos anos". O executivo contou que, em 2007, foi convidado pelo empresário paulista Nivaldo Moreira, da companhia Morelate, para atuar no fornecimento de peças para ônibus e caminhões no país africano juntamente com o empresário português João Germano. 

De acordo com o Taiguara, a Exergia foi aberta em 2009, ele detinha 49% da sociedade, sendo o restante da participação do empresário português. Questionado por integrantes da CPI como o grupo português topou sociedade com ele, sem que ele tenha entrado com qualquer capital inicial, o executivo afirmou que foi escolhido pela sua habilidade como vendedor, uma vez que seu principal papel na companhia seria "vender" a empresa. Ele disse atuar como vendedor desde os 14 anos. Parlamentares de oposição se mostraram irritados com a resposta do empresário, que confirmou ser sócio de outras três empresas, as quais, segundo ele, não atuaram em Angola.

O empresário disse ainda que a Exergia é uma empresa pequena. Segundo ele, de 2011 a 2015, o faturamento da companhia não chegou a R$ 2 milhões por ano. "Infelizmente não sou um grande empresário", disse. Taiguara confirmou que comprou um apartamento duplex com financiamento da Caixa Econômica Federal e um veículo de luxo da marca Land Rover. Ele alegou, contudo, que, desde meados do ano passado, vive em situação econômica difícil, tendo "muitas dívidas". De acordo com o empresário, seu apartamento corre o risco de ir a leilão "A Exergia Brasil está há muito tempo sem contratos", disse.

Em seu depoimento, o executivo também confirmou que Exergia Brasil firmou outros contratos com a Odebrecht, empreiteira envolvida nas investigações da Operação Lava Jato: um deles no valor de US$ 280 mil e outro de US$ 750 mil - este para reformar uma casa em Angola. O empresário negou, contudo, ter fechado contrato de US$ 1 milhão para construir uma fazenda hidropônica no país africano. Segundo ele, o projeto não foi para frente porque ele não recebeu o dinheiro pelo serviço. No depoimento, o executivo disse ainda que não sabia que a obra da hidrelétrica de Cambambe possuía financiamento do BNDES.

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Durante sua fala a CPI na Câmara, que durou cerca de 4 horas, Taiguara aceitou a quebra dos sigilos fiscal, telefônico e bancário de sua empresa, solicitada pelo deputado Betinho Gomes (PSDB-PE). O empresário comentou ainda que não recebeu nenhuma notificação ou intimação do Ministério Público no âmbito de investigação a seu respeito. O executivo disse estar sabendo apenas pela imprensa que está sendo investigado pelo MP. "Está me incomodando aqui o menosprezo à minha pessoa o tempo todo", disse.

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