Ex-empregado dos empresários de Ronaldo denuncia remessa de dólares

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Por Agencia Estado
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Empregado dos empresários Reinaldo Pita e Alexandre Martins por 11 anos, Marcelo Fernandes Mesquita contou ontem, em detalhes, como funcionava o esquema pelo qual a Passabra Turismo e Câmbio, propriedade de seus ex-patrões, remetia dólares de fiscais para o exterior. Em depoimento na 3.ª Vara Criminal Federal, Mesquita afirmou que a Passabra tinha entre seus clientes os fiscais Axel Ripoll Hamer, Heraldo Braga, Roberto Cavallieri e Amaury Franklin Nogueira. Todos estão presos sob acusação de desvio de US$ 33,4 milhões para a Suíça. Em diversas oportunidades, disse Mesquita, as remessas foram feitas pelo Israel Discount Bank, um banco suíço, representado no Rio pela empresa Coplac. Outro caminho seria uma conta em Miami do Banco Português Atlântico. Réu no processo, Mesquita decidiu colaborar com a Justiça em troca de uma possível redução da pena ou perdão judicial e, após pedir proteção, foi incluído no sistema de proteção à testemunha. Em depoimento anterior, ele alegara ?insanidade?. Ontem disse ter agido assim por pressão do então advogado de Pita e Martins, Alexandre Dumas. Cofre ? O procurador da República Gino Liccione, para quem a condenação dos réus é ?iminente?, disse que a grande contribuição de Mesquita foi identificar os titulares de contas que eram conhecidas pela Justiça e explicar o modo como o esquema funcionava. Os fiscais, segundo Mesquita, entregavam os dólares para Reinaldo Pita, que guardava o dinheiro no cofre número 32 da agência do Banco Mercantil do Brasil localizada na Avenida Sete de Setembro, centro, ao qual ele tinha acesso. O cofre, afirmou, chegou a ter US$ 400 mil. Na Coplac, os dólares eram recebidos por Marlene Rozen ou Herry Rosemberg, afirmou o réu colaborador. O dinheiro dos fiscais era, então, depositado em uma conta aberta por Pita e Martins no banco estrangeiro (60106ZP). Antes de transferir os valores para as contas dos fiscais no Discount Bank, os empresários investiam no mercado de câmbio. Quando os fiscais queriam sacar, os dólares seguiam o caminho inverso. Mesquita afirmou que certa vez levou US$ 20 mil para o irmão de Amaury Nogueira, Júlio César Nogueira, e que Pita e Martins entregaram dólares para uma auditora fiscal identificada como Rosely, em um escritório que Nogueira, apontado como ?pivô? do esquema, mantinha no centro, ?provavelmente para acertos dos fiscais?. Mesquita contou ter levado ?muitos boletos para a transferência ao exterior à Coplac?, por ordem de Pita e Martins, e disse que teve suas contas bancárias usadas pelos empresários, funcionando como ?laranja?. Ele reconheceu a assinatura de Martins em um dos boletos e afirmou que os documentos eram sempre preenchidos por outro funcionário, Aluizio de Freitas. Futebol ? Ele confirmou que Pita e Martins são sócios da Gortin Corporation, com sede nas Ilhas Britânicas, à qual era coligada a Gortin Promoções Ltda. Segundo o depoimento, Pita e Martins separaram as empresas por ocasião da CPI do Futebol no Senado. Ainda segundo Mesquita, a Gortin e a Passabra eram ?a mesma coisa?. Mesquita revelou também que as transações de Pita e Martins ? procuradores de Ronaldo Nazário, o Ronaldinho ? envolvendo jogadores de futebol eram pagas no exterior por meio da conta 075.076.010 do Banco Português Atlântico, em Miami. Ele afirmou que Pita emprestou dinheiro ao presidente do Vasco, Eurico Miranda, que cedeu ao empresário o passe do jogador Juninho Pernambucano como garantia. Afirmou, ainda, ter sido ele próprio o responsável por um ?registro? da mãe de Ronaldinho, ?para que ela pudesse fazer algum negócio no mercado?. Ontem, uma liminar da Justiça Federal concedeu a Clóvis Sahione, advogado de fiscais acusados, o direito de exercer a profissão. Ele havia sido suspenso por 90 dias pela seção fluminense da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) por ter orientado clientes a fraudar provas judiciais.

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