
03 de outubro de 2011 | 23h00
“Vi Fabrício entregar nas mãos do deputado José Antonio Bruno (DEM) um maço de notas de R$ 100”, afirmou a testemunha C.A.A.V., em depoimento na Corregedoria-Geral da Administração (CGA). As notas de R$ 100 teriam origem em suposto esquema de venda de emendas parlamentares na Assembleia Legislativa de São Paulo, denunciado pelo deputado Roque Barbiere (PTB).
A cena relatada ocorreu em agosto de 2009, enfatiza o depoente, que se identifica como “pastor evangélico autônomo”. O depoimento reforça ainda mais a denúncia de Barbiere, segundo quem deputados estaduais paulistas negociam sua cota de verbas no Orçamento do Executivo, por meio das emendas, com prefeitos e empreiteiras.
Ainda conforme o depoente, um homem identificado apenas como “Fabrício” frequentava o gabinete do parlamentar, mas não era funcionário: “Houve uma oportunidade em que Fabrício chegou muito eufórico na sede do gabinete, cumprimentou a todos e entrou direto na sala do deputado”, relata.
A porta da sala de Bruno ficou entreaberta. “Então, eu ouvi ele (Fabrício) dizer ao deputado José Antonio Bruno: ‘Deputado, tá aqui a emenda’. Ato contínuo eu vi Fabrício entregar nas mãos do deputado um maço...”
Zé Bruno, como é conhecido, exerceu mandato no período 2007-2010. Deixou o Legislativo estadual em março passado e hoje se dedica à Resgate, sua banda musical. Ele é guitarrista e vocalista.
O ex-deputado nega ter recebido valores em troca de emendas (leia texto abaixo). “Não faço isso”, afirmou. Porém, ele próprio disse suspeitar que um ex-assessor seu, que identifica apenas como “Cremonesi”, participasse de negociações para a venda de emendas.
Os nomes são apontados em procedimento da CGA, a corregedoria vinculada diretamente ao governador. A CGA está na estrutura da Casa Civil. Atua na prevenção e no combate à corrupção nos órgãos da administração. A investigação da CGA não mira a Assembleia, nem poderia. Não é sua competência institucional vasculhar a vida de parlamentares. Mas a apuração foi aberta porque a preocupação do governo é se o episódio pode ter provocado alguma lesão aos cofres públicos do Estado.
Comissões. Oficialmente, a CGA informou que conduz uma apuração preliminar. A corregedoria vai se manifestar “no momento oportuno”. Seus primeiros movimentos revelam que não existe nenhum convênio, ou assinatura de repasse de verba atendendo a indicação de Zé Bruno no exercício 2010.
C.A.A.V. foi ouvido por uma equipe de seis corregedores, sob comando do delegado da Polícia Civil João Batista Palma Beolchi.
A testemunha disse que trabalhou no gabinete de Zé Bruno de fevereiro de 2009 a maio de 2010, como auxiliar parlamentar. Ele contou que certa ocasião foi “isolado” depois que se recusou a repassar parte de seu salário para o deputado. “Em meados de abril de 2010 eu fui chamado à sala do deputado, o qual me informou que a partir do mês seguinte uma parte do meu salário deveria ser repassada a ele. Eu não concordei com isso e 15 dias depois, fui exonerado.”
“Deixei de participar de reuniões como costumeiramente fazia”, relata. “Tanto nas reuniões no gabinete como nas nas sedes dos municípios os participantes passaram a ser apenas a chefe de gabinete Fran, Cremonesi, o prefeito, o deputado e, vez por outra, Fabrício.”
Ele declarou que “sabia pelos comentários correntes que o objetivo dessas reuniões era obter comissões para liberação das emendas”.
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