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Ex-assessor de Bolsonaro volta a negar rachadinha, mas defende que prática não seja punida

Segundo Waldyr Ferraz, dinheiro recolhido é irrisório e usado para manter outros assessores; ‘Ninguém me conta não, eu vejo’, disse em entrevista no YouTube

Por Fabio Grellet
Atualização:

RIO – O ex-assessor do presidente Jair Bolsonaro (PL) Waldyr Ferraz negou mais uma vez na noite desta sexta, 21, que soubesse do suposto esquema de rachadinha (desvio de salários de assessores) nos gabinetes do clã presidencial – o do presidente e de seus filhos Flávio, então deputado estadual, e Carlos, vereador no Rio. Apesar dessa negativa, Waldyr, também conhecido como “Jacaré”, em entrevista à atriz Antônia Fontenelle no YouTube, relativizou o delito. Para o Ministério Público, a prática caracteriza peculato, apropriação ilegal de verba pública por servidor. Waldyr, porém, se mostrou simpático a ela.

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“O deputado que faz isso (rachadinha), o cara que pega R$ 5 mil, R$ 6 mil de cada funcionário, esse dinheiro serve para pagar outro funcionário, para aumentar o número de gente pra trabalhar pra ele”, disse. “É esse o objetivo da rachadinha. Ninguém me conta não, eu vejo.”

Para Waldyr, o valor envolvido no esquema de rachadinha nos gabinetes de alguns deputados era irrisório – por isso, não merecia punição. O MP fluminense, porém, julga ter encontrado indícios de que parlamentares se apropriavam do dinheiro e o empregaram, por exemplo, na compra de imóveis em dinheiro vivo.

Waldyr Ferraz (à esq.) com Bolsonaro e Pazuello em carro de som no Rio, em maio do ano passado. Foto: Wilton Junior/Estadão - 23/5/2021

“Não vou nem falar do Flávio (Bolsonaro), você pega o tal do Marcos Abrahão (Avante), R$ 300 mil de rachadinha”, declarou, citando quantias cuja movimentação foi apontada como suspeita pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf). “Você está de sacanagem, porra, R$ 300 mil não paga (sic) nem a gasolina do cara. O Flávio foi prejudicado por causa de R$ 1,2 milhão, que que é R$ 1,2 milhão? R$ 100 mil por mês, isso (a acusação de rachadinha) é muita cara de pau, é muita sacanagem”.

Waldyr reclamou que o deputado estadual André Ceciliano (PT-RJ) teria usado R$ 49 milhões em seu esquema de rachadinha.

“O cara que faz rachadinha de R$ 49,3 milhões é sacanagem, né?” Depois, ele também retirou a reclamação: “Não estou criticando o cara não, isso é problema dele. Ele deve fazer alguma coisa com o dinheiro, deve fazer obras para os outros, isso é problema dele”. Em fevereiro de 2021, o Tribunal de Justiça do Rio isentou Ceciliano das suspeitas nesse caso.

Na quinta-feira, 20, a revista “Veja” publicou reportagem baseada em entrevista gravada com Waldyr. Nela, ele diz que havia desvio de salários nos três gabinetes do clã Bolsonaro. Afirma que os desvios eram comandados pela segunda ex-mulher de Bolsonaro, Ana Cristina Valle, sem o conhecimento de Bolsonaro, que só teria descoberto que existia no fim de 2018. Bolsonaro foi eleito pela primeira vez em 1988. Depois que a entrevista foi ao ar na internet, Waldyr, após telefonema do presidente, negou ao Estadão/Broadcast e nas redes sociais que soubesse de crimes. Afirmou também que as informações à revista “Veja” eram apenas o que ele havia lido na imprensa.

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Na entrevista a Antônia Fontenelle Waldyr disse: “Ganhei minha Cássia Maria”. Comparou assim o episódio à reportagem publicada em 1987 sobre o então militar Jair Bolsonaro. Nele, ele teria narrado um plano de explodir bombas em unidades militares do Rio de Janeiro em protesto contra os baixos salários dos militares. Era a Operação Beco Sem Saída. Ela lançou Bolsonaro à carreira política. Em 1988, foi eleito vereador.

A reportagem gerou um processo de expulsão de Bolsonaro do Exército O hoje presidente negou ter dado as informações à repórter. Acabou absolvido em última instância, no Superior Tribunal Militar.

Jacaré negou ter conversado com o presidente depois da publicação da reportagem. Na quinta-feira, porém, ele afirmou ao Estadão/Broadcast que Bolsonaro havia ligado para ele. A entrevista foi interrompida por causa dessa ligação telefônica. Quando foi retomada, Waldyr confirmou que Bolsonaro tinha acabado de ligar.

Antônia chamou Wldyr de “ingênuo” e pediu que ele não conceda mais entrevistas, porque, segundo ela, todas serão manipuladas. Waldyr avisou, no entanto, que já tem outras entrevistas agendadas.

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