Evangélicos se decepcionam com números do censo

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Por Agencia Estado
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Os dados do último censo demográfico 2000 não agradaram às lideranças de algumas correntes evangélicas. Apesar de mostrarem um crescimento de praticamente 100% na quantidade de fíéis, que passaram de 13,2 milhões em 1990 para 26,16 em 2000, os evangélicos ficaram decepcionados. Acharam muito pouco, de acordo com Antônio Flávio Pierucci, professor da Universidade de São Paulo (USP). É que a questão envolve conseqüências de caráter prático - para as eleições, por exemplo. Muitos candidatos buscam lideranças evangélicas para ampliar apoio político. Trocam favores por um público estimado em uma quantidade X de fiéis. O censo demonstra, no entanto, que esse X é bem menor do que o declarado. Alguns exemplos citados por Pierucci, nesta quarta-feira, durante palestra na 54º reunião anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), ilustram o problema. A fração da Assembléia de Deus que apóia Garotinho, do PSD, diz ter 18 milhões de participantes. A Assembléia de Deus do Mistério da Madureira, que apóia o candidato José Serra, do PSDB, afirma ter 10 milhões de fiéis. São três grandes frações dentro da Assembléia de Deus que, segundo o Censo, tem, no total, 8 milhões de fiéis. Se cada uma ficar com um terço desses oito milhões, terá no máximo 2,7 milhões. Alguém errou na aritmética. O PT uniu-se ao PL em busca do apoio da Igreja Universal do Reino de Deus. Ela tem 2 milhões de fiéis e, considerando-se que esse total inclui crianças, sobram provavelmente 1,3 milhões de eleitores, calcula Pierucci. Recentemente, quando Chico Xavier morreu, seus seguidores diziam que existem 10 milhões de espíritas no Brasil. De acordo com o censo, são 2,3 milhões. Outro ponto debatido nesta quarta na palestra ?País passa por mutação religiosa?, dentro de um dos três ciclos temáticos, fazendo uma leitura mais aprofundada dos dados do Censo 2000, foi o fato de a Igreja Católica Apostólica Romana estar perdendo espaço para outras correntes, principalmente para os evangélicos. O País do futuro será, portanto, protestante? Não. ?Mas também não será católico. Será cada vez mais diversificado,? diz Pierucci. A igreja católica é uma doadora universal de fiéis para outras denominações. Mas não é a única. Segundo Pierucci, dentro do universo de protestantes, que no Brasil são sinônimo de evangélicos, algumas vertentes também perdem seguidores, como os históricos. Por outro lado, batistas pentecostalizados e católicos carismáticos atraem mais interesse. Em termos proporcionais, a religião católica vem perdendo seguidores no Brasil desde pelo menos a metade do século 20. ?Não há como escapar dessa?, diz Pierucci. O mesmo acontece com o hinduísmo na Índia. Até a proporção de protestantes no Estados Unidos diminui, com a entrada de imigrantes latinos católicos. Mesmo com o declínio, a população católica brasileira responde por 73,8% dos habitantes. Quem também perde seguidores são as religiões afrobrasileiras. É um ramo pequeno, que fica nos 3,5% da população que declara outra religião (nem católica, nem evangélica ou outra religião). O professor Reginaldo Prandi, da USP, acredita que o censo fornece dados subestimados, porque muitos, oficialmente, se dizem católicos e se comportam como tais. Mesmo assim, trata-se de uma religião em declínio.

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