Evangélicos e receitas light preocupam baianas do acarajé

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Por Agencia Estado
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Principal petisco da culinária baiana, o acarajé pode ser registrado como patrimônio cultural do Brasil para ter a receita, os ritos de preparação e tradição preservados pelo Instituto do Patrimônio Histórico Artístico Nacional (Iphan). Amanhã representantes da Associação das Baianas de Acarajé, do Terreiro Axé Opô Afonja, Centro de Estudos Afro Orientais e Funarte entregam à superintendência regional do Iphan em Salvador o dossiê com mais de 300 documentos, reivindicando a certidão de bem cultural brasileiro para o acarajé. Ao contrário dos monumentos e imóveis históricos, bens imateriais como o acarajé e outras manifestações típicas do País não podem ser tombados da forma tradicional, explicou a superintendente da Iphan em Salvador, Adalgisa Bonfim D´Eça. "O decreto 3.551 de 2000 assinado pelo presidente da República normatizou o registro dos bens imateriais culturais para que eles sejam protegidos e não se corra o risco de desaparecerem", disse Adalgisa. Dossiê A forma de fazer isso é reunir a maior quantidade de informações sobre essas manifestações, discorrer sobre a importância histórico-cultural e arquivar o material no Iphan. O dossiê passa por uma análise preliminar dos técnicos do patrimônio histórico, que verificam se o material está completo. Depois é encaminhado ao Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural do Ministério da Cultura, que dá a palavra final sobre a concessão de registro. Esse registro é renovado de dez em dez anos, para verificar se o bem cultural foi modificado pelo povo ou continua com os mesmos parâmetros de quando recebeu a certificação. A próxima reunião do Conselho Consultivo será em 21 de novembro, mas o acarajé não está na pauta. O caso deve ficar para o segundo semestre de 2003. Feijão Os que defendem o bolinho de feijão baiano querem preservar seus ingredientes originais e ritos de preparação. A iniciativa surge no momento em que aparecem receitas lights de acarajé de soja, que descaracterizam completamente o petisco. Uma outra preocupação das baianas de acarajé é a participação cada vez maior de evangélicas vendendo o produto, sem serem iniciadas no Candomblé, sem fazer as cerimônias inerentes à preparação do bolinho (que é um alimento dos orixás Xangô e Iansã), e vestidas de forma inadequada com os colares de contas e outros símbolos da religião africana. A presidente da Associação das Baianas, Clarice dos Anjos, afirma que a proteção do acarajé será uma vitória da categoria, que luta pela preservação das características originais do alimento. "Não é qualquer bolinho frito no azeite de dendê que pode ser chamado de acarajé", disse. No período colonial o petisco era feito pelas filhas de Iansã nos terreiros de candomblé, colocados numa gamela e servido em palha de bananeira. Parte do dinheiro arrecadado era revertido para as ´obrigações do orixá´ (rituais de oferenda). Atualmente, o acarajé é fonte de renda para milhares de baianas.

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