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Evangélico da Brasilândia comanda movimento de torcidas pró-democracia

Aos 27 anos, motorista de aplicativo organizou ato que reuniu torcidas adversárias de futebol a favor da democracia

Foto do author Adriana Ferraz
Foto do author Renato Vasconcelos
Por Adriana Ferraz e Renato Vasconcelos
Atualização:

Danilo Pássaro, 27 anos, é um dos líderes do movimento Somos Democracia, que fez seu primeiro ato público no último domingo, 31, na Avenida Paulista. Morador do bairro de Brasilândia, na zona norte de São Paulo, Pássaro é filiado ao PSOL e diz que sua formação vem de suas vivências na igreja, no movimento estudantil e na arquibancada.

"Eu cresci em Igreja Evangélica. Sempre gostei de estudar a bíblia, mas via uma diferença muito grande entre a prática de muitas igrejas e os ensinamentos de Jesus, de olhar pelos mais necessitados", disse. Atualmente frequentador da Igreja Batista, Pássaro - que é formado em Teologia - chegou a servir como missionário no Haiti pela Igreja Bola de Neve.

Danilo Pássaro, líder do movimento Somos Democracia. Foto: Werther Santana/ Estadão

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Como estudante, o jovem sempre frequentou a rede pública e disse que o incentivo à leitura veio de fora do ambiente escolar. "Na escola não tinha muito, mas na rua a gente sempre ficava ouvindo samba, rap e lendo as letras para aprender. Acho que artistas como os Racionais me fizeram evoluir também."

Apesar de se queixar da falta de incentivo à leitura, foi na escola que Pássaro entrou em contato com o movimento estudantil. "Foi lá que eu conheci pessoas ligadas a partidos políticos e movimentos sociais e consegui me aprofundar mais. Inclusive ajudei a fundar alguns movimentos, como a Ação Antifascista de São Paulo", diz o paulistano, que não integra mais o grupo.

A última vertente, mas não menos importante, foi o futebol. Inregrante da Gaviões da Fiel desde os 13 anos, ele diz que o movimento nasceu dentro da torcida, a partir da insatisfação dos torcedores com a escalada autoritária do governo. A tradição do clube em apoio à democracia, conta Pássaro, serviu de inspiração para o movimento.

"A história da Democracia Corintiana é uma diretriz para a gente, mas não só o movimento de Sócrates e Casagrande, toda a história do Corinthians. No fim da 2ª Guerra, o Corinthians fez um amistoso com o Palmeiras para financiar o Partido Comunista, que estava saindo da clandestinidade depois do Estado Novo. A Gaviões, em 1979, ergueu uma faixa pela anistia geral e irrestrita durante um jogo contra o Santos. A história do Corinthians é democrática."

Segundo Danilo, movimento pró-democracia surgiu nas arquibancadas da torcida do Corinthians. Foto: Werther Santana/ Estadão

Danilo foi alvo de ameaças nas redes sociais, mas diz que não registrou boletim de ocorrência. "É coisa de rede social. Minha família não está acostumada com isso, mas não me preocupo. Tem muito robô e gente que não faria nada além de ameaçar."

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Na manhã desta terça, o universitário conversou com o Estadão vestido com a camisa da seleção brasileira, que acabou virando quase que uniforme para os bolsonaristas. "A extrema direita se apropria de símbolos nacionais justamente para coptar o patriotismo abstrato da população e acho que a gente chegou num momento, dada essa disputa de narrativas, de também nos apropriar dessas bandeiras, camisas, símbolos. É algo particular meu que acho importante e simbólico", afirma o ativista pró-democracia, que escolheu o Pacaembu para a entrevista justamente por ser um palco neutro para todas as torcidas.

Além de dirigir o Somos Democracia, Danilo é estudante do curso de História da Universidade de São Paulo (USP) e trabalha como motorista de aplicativo. No entanto, a crise mudou a rotina. "Eu trabalhava usando um carro alugado, mas tive que devolver, porque não estava valendo a pena."

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