
19 de dezembro de 2013 | 21h33
"Há muitas pessoas interessadas no que está ocorrendo dentro do Brasil, que é o objetivo de ataques cibernéticos diários" declarou Shannon em palestra sobre a relação bilateral no Brazil Institute do Wilson Center, em Washington.
Documentos revelados pelo ex-técnico da Agência de Segurança Nacional (NSA, na sigla em inglês) Edward Snowden mostraram que os Estados Unidos monitoraram comunicações de cidadãos brasileiros e da presidente Dilma Rousseff, o que levou ao cancelamento da viagem que ela faria a Washington em outubro.
Entusiasta da relação bilateral e um dos maiores especialistas em Brasil na diplomacia americana, Shannon se disse frustrado com a interrupção do diálogo entre os dois países provocada pela divulgação dos documentos da NSA. A expectativa de seu governo é que ele seja retomado no início do próxima ano, depois que a Casa Branca concluir o trabalho de revisão das atividades de seu serviço de inteligência.
Os EUA anunciaram que estão prontos para discutir uma nova data da visita de Dilma, mas Shannon acredita que o Brasil precisa de mais tempo para dar uma resposta. "O Brasil está esperando para ver o que podemos oferecer e como poderemos avançar."
Segundo ele, os Estados Unidos apreciaram a maneira pela qual o governo brasileiro lidou com a carta de Snowden endereçada à população do país, na qual ele oferece ajuda nas investigações sobre a NSA e sugere a necessidade de asilo político.
Apesar de criar desafios, as revelações abriram a oportunidade para os dois países repensarem sua relação de inteligência, ressaltou. "Nossa esperança é que eles (os brasileiros) reconheçam que têm um parceiro útil em nós e que vão precisar olhar além das preocupações imediatas provocadas por Snowden para construir essa parceria", afirmou, em relação à cooperação nessa área.
A aprovação na quarta-feira de resolução da Organização das Nações Unidas (ONU) que estende à internet a proteção da privacidade prevista na Declaração Internacional dos Direitos foi apontada por Shannon como um exemplo de diálogo possível entre os dois países.
Apresentada por Brasil e Alemanha, a proposta foi modificada para contemplar posições americanas, o que permitiu sua aprovação por unanimidade. "Nós reconhecemos a importância da privacidade e de uma internet que é vista como um bem público global que precisa ser protegido."
O fato de que a resolução não tem caráter obrigatório não diminui sua relevância, avaliou Shannon. "Ela captura um momento político e um propósito que precisa ser entendido e respeitado."
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