EUA manobram para matar proposta sobre genéricos na OMS

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Por Agencia Estado
Atualização:

O governo e as empresas farmacêuticas norte-americanas estão se utilizando de toda as manobras diplomáticas, econômicas e políticas para impedir que a proposta brasileira de patentes da Organização Mundial da Saúde (OMS) seja aprovada nos próximos dias. Ontem, representantes da Casa Branca e do Brasil estiveram reunidos a portas fechadas em Genebra e, durante mais de três horas de debates tensos e de ameaças, Washington tentou convencer o Brasil a desistir de sua proposta. Na semana passada, o País apresentou uma resolução na OMS para que seja criado um comitê independente para avaliar as patentes aos remédios. Além disso, a proposta pede que a OMS dê uma sinalização política para que o tema de acesso a medicamentos seja solucionada na Organização Mundial do Comércio (OMC). Atualmente, as negociações na OMC estão paralisadas diante da recusa dos Estados Unidos de aceitarem que países pobres importem remédios genéricos. Por enquanto, a proposta brasileira já conta com o apoio de mais de 70 governos e poderia ser votada nos próximos dias. Além disso, 56 países decidiram assinar o projeto de resolução, incluindo todos os governos africanos. Ontem, porém, Washington apresentou durante a reunião bilateral uma nova proposta e, sem consultar os brasileiros, rescreveram algumas das propostas do País e amenizando algumas sugestões. Um dos delegados que participou da reunião afirmou ao Estado que o Brasil não aceitou a proposta. "O governo está sendo fortemente pressionado", afirmou o delegado. Durante a reunião, os Estados Unidos ainda deixaram claro que irão alongar debates para que não haja tempo para que a proposta seja votada. "Eles querem matar a resolução", afirmou outro diplomata que participou das negociações de ontem e que lembra que a votação poderá ocorrer apenas até a próxima quarta-feira. Enquanto os representantes oficiais da Casa Branca se reúnem com o Brasil, lobbistas do setor farmacêutico pressionam os países africanos a retirar seu apóio à idéia brasileira. Diplomatas africanos revelaram ao Estado que estão sendo "assediados" pelas empresas, que os propõe benefícios individuais se desistirem de apoiar o Brasil. O temor de muitos é de que se repita o que ocorreu na Comissão de Direitos Humanos, há um mês, quando os Estados Unidos conseguiram que países africanos que haviam assinado uma resolução a favor de Cuba retirassem sem apoio na última hora.

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