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EUA devem mudar política para o Brasil com eleições

Para analistas, é provável que mudanças sejam positivas para o país.

Por Denize Bacoccina
Atualização:

Qualquer novo presidente dos Estados Unidos deve mudar a política externa do país e as chances da mudança ser para melhor são grandes, na opinião de dois analistas ouvidos pela BBC Brasil sobre as eleições americanas, que ocorrem no final deste ano. "Qualquer candidato que vencer vai fazer uma política externa melhor do que a atual, que está muito desgastada com a guerra no Iraque, mas não tenho expectativa de que nada vai mudar radicalmente", afirmou à BBC Brasil o cientista político Octavio Amorim Neto, professor da Escola de Economia da Fundação Geúlio Vargas, no Rio. Ele acha que a mudança na política externa será inevitável, já que o presidente George W. Bush está muito desgastado. Mas diz que não espera uma mudança radical e diz que nem mesmo um governo democrata mais liberal vai abrir mão da prerrogativa de interferir em outros países se considerar necessário. Na agenda com o Brasil, os Estados Unidos têm uma visão positiva do país, como um fator de estabilização e contenção do bolivarianismo na América Latina. "Minha visão é de um otimismo moderado, já que a situação atual deve mudar muito pouco", afirmou Amorim Neto. Democratas O cientista político e professor da Universidade de Brasília (UnB) David Fleischer, americano radicado no Brasil, acha que no caso de vitória de um candidato democrata, haveria uma convergência maior entre Estados Unidos e Brasil em áreas como as negociações da Rodada de Doha e o intercâmbio em ciência e tecnologia. Amorim Neto acha que num próximo governo pode haver também uma mudança em relação ao meio ambiente, o que traria uma maior aproximação com o Brasil. A área mais importante para o país, o comércio externo, é justamente a que causa mais dúvidas. "Não se pode ter muita empolgação com um presidente democrata nessa área", diz Amorim Neto. Embora tradicionalmente os governos democratas fossem considerados mais protecionistas na área comercial, o governo republicano atual tomou várias medidas protecionistas contra os interesses do Brasil, como o estabelecimento de uma sobretaxa ao aço brasileiro e a manutenção do imposto sobre o etanol, além do não cumprimento das decisões da Organização Mundial do Comércio (OMC) para acabar com os subsídios aos produtores de algodão. O melhor cenário para o Brasil, para Fleischer, seria a vitória de um republicano liberal, mas ele acha esta hipótese pouco provável. Embora representantes dos atuais governos brasileiro e americano tenham dito diversas vezes que as relações entre os dois países são excelentes, o resultado concreto foi muito pequeno, na avaliação dos analistas. "Mesmo o acordo do etanol é muito badalado, mas até agora de fato concreto, quase zero", diz Fleischer. Ele acha que a vitória de um democrata pode trazer de volta para o Brasil os embaixadores de carreira do Departamento de Estado. No governo Bush, os embaixadores que serviram no Brasil eram executivos de empresa, ligados ao Partido Republicano. É este o caso do atual embaixador, Clifford Sobel, no país desde agosto do ano passado. "É um desprestígio (ter um embaixador nomeado politicamente), porque o Brasil é um país importante", afirmou o cientista político. O pouco interesse dos Estados Unidos pelo Brasil e atualmente pelo restante da América Latina é um fator positivo, na avaliação de Amorim Neto. "A negligência benigna não é tão ruim assim. Historicamente, quando os Estados Unidos estão muito presentes num país, desastres acontecem", diz ele. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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