''Eu quero unificar todas as forças''

Ele prega recuperação do Rio nos moldes de uma Frente de Salvação Nacional, como nos casos de ameaça externa

PUBLICIDADE

Por Wilson Tosta
Atualização:

Quando o assunto é o lado em que estará nas eleições de 2010, o candidato do PV à Prefeitura do Rio, Fernando Gabeira, prefere a cautela dos políticos de Minas Gerais, onde nasceu há 67 anos. Cobiçando votos petistas e bom relacionamento com o governo federal, ele se recusa a antecipar quem apoiará na sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, cujo governo acusa de fisiologismo, mas elogia pelas políticas econômica e social. Também não confirma nem desmente se ficará neutro na disputa de 2010 e refuta a idéia de que sua vitória hoje seria também do presidenciável José Serra (PSDB). Entusiasmado pela possibilidade de vencer, Gabeira avalia que sua chegada à prefeitura poderá até aumentar o turismo estrangeiro no Rio, já que sua propaganda no site YouTube, afirma, atingiu recordes de exibição. Ele explica que sua aproximação de setores tradicionalmente identificados com o conservadorismo, como religiosos e militares, é uma tentativa de unificar a cidade e compara seu eventual governo às Frentes de Salvação Nacional. Deu entrevista ao Estado no Varandão, uma choperia em Bangu, na noite de terça, após um dia de campanha na zona oeste. O senhor tem procurado manter as questões nacionais fora de sua campanha, mas sua candidatura tem sido associada por seu adversário à oposição ao presidente Lula. Qual vai ser sua postura em 2010 se for prefeito? Acho difícil definir agora minha postura em 2010. Acredito que a eleição de 2008 tem uma singularidade, uma independência em relação a 2010. O que eu articulo na minha eleição com 2010 é que estou tentando fazer no Rio uma melhoria de qualidade nas relações da política com a sociedade. E acredito que essa experiência, vitoriosa ou não, será importante para 2010. Porque vou experimentar, no Rio, não ter uma relação fisiológica com os vereadores. Há quem diga que, se o senhor vencer, seria uma vitória de José Serra. Por que só do José Serra? Uma vitória do José Serra, do Aécio Neves, uma vitória de todos os brasileiros que vão disputar. Até da Dilma (Rousseff), de todos, é uma vitória do Brasil. O senhor poderia adotar uma postura de neutralidade em 2010? Não sei. É difícil dizer agora para onde vou em 2010. Minhas preocupações estão muito ancoradas no presente. Vou possivelmente me tornar prefeito de uma cidade em profunda crise, com problemas superiores à nossa capacidade de resolvê-los. Então, vou ter de me dedicar integralmente à cidade. Se começo agora a falar em 2010, vou envenenar as relações do presente em nome de uma eleição futura. Como o senhor avalia o governo do presidente Lula? Muito sábio na aplicação da política econômica, muito generoso na política social, mas absolutamente convencional nas relações políticas. Tradicional e clássico nas relações políticas. Em que sentido? No de estabelecer uma relação com o Parlamento que enfraquece o Parlamento e o mantém dependente do Executivo. O senhor quer dizer fisiologismo? Essa é uma das palavras. Temos no horizonte uma crise que pode chegar ao Brasil e ao Rio. Como o senhor pretende agir para enfrentar esse perigo? Fizemos um debate sobre isso. Estamos vendo a crise como algo muito sério e muito perigoso, mas estamos também tentando trabalhar com ela em algumas janelas de oportunidade. Concretamente, como seria isso? Acho que minha vitória estimularia o turismo no Rio de Janeiro. Porque a nossa campanha está sendo acompanhada no mundo. Esta semana, fomos, pela primeira vez na história do Brasil, o centésimo lugar nos vídeos mais vistos no mundo, no nosso canal no YouTube. Isso para mim mostra que há também um acompanhamento. E há a possibilidade de brasileiros voltarem ao Brasil e cariocas exilados em São Paulo voltarem. O senhor sempre foi muito associado a bandeiras alternativas, como a descriminação das drogas. Nesta eleição, já se encontrou com o cardeal emérito d. Eugenio Sales e com o Clube Militar. Isso é um aceno deliberado em direção aos conservadores|? Estou tentando, de alguma maneira, unificar no Rio todas as forças. Porque considero que o modelo de recuperação do Rio é a idéia da Frente de Salvação Nacional, desenvolvida em outros momentos, quando se está diante de um adversário externo. Então, quero unificar todas as forças em torno do projeto. Qual seria seu primeiro ato como prefeito? Vai ser atacar pelo menos quatro problemas com muita clareza: tapar buraco, iluminar o que for possível, limpar a cidade e podar as árvores. Vou começar do prosaico. O senhor, se eleito, tomará posse em pleno verão, talvez com uma epidemia de dengue já em andamento. O que pretende fazer para enfrentar esse problema? Quando for eleito, vou descansar dois dias. E, no dia seguinte, começo com três atividades: a prevenção da dengue, a organização da equipe de transição e a formação de governo. O senhor diz que quer um governo de técnicos. Onde vai buscá-los? Da mesma maneira como as grandes empresas buscam: headhunter, caçador de talentos. Vamos ter de caçar talentos. Tem de ser muito competente naquela área e ter conhecimentos políticos. Em seu programa de TV, o senhor apresentou como sua primeira grande obra como prefeito a revitalização do porto do Rio. Mas esse projeto depende da coordenação dos três níveis de governo, tem mais de 20 anos e andou muito pouco. Como fazê-lo andar? Ali já tem duas obras concluídas e tem 16 projetos já com dinheiro. Então, quando houver problema institucional, eu vou entrar no problema institucional. Quando houver problema de financiamento, vou atrair esse financiamento. Como a prefeitura vai agir na questão da violência, se o senhor for eleito? Em primeiro lugar, vamos estruturar a Guarda Municipal. Além disso, pretendo iluminar os lugares mais perigosos, ter uma política de iluminação que contemple com prioridade a questão da segurança. Pretendo consertar os equipamentos públicos. E constituir na prefeitura um grande trabalho de inteligência, para oferecer à polícia. Com esse trabalho, e se a polícia estiver disposta, acredito que a gente reduza os índices de violência. Que marca o senhor gostaria de deixar ao fim de seu governo? Que as pessoas sentissem que houve prosperidade e que os níveis de segurança aumentaram, que elas reconquistaram as ruas.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.