Estudo recomenda divisão do norte em 2

Cebrap sugere reformular território e criar Região Noroeste no País

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Por Silvia Amorim
Atualização:

A divisão do País em cinco grandes regiões - Norte, Nordeste, Sudeste, Sul e Centro-Oeste - , em vigor há 38 anos, está defasada e já não funciona como instrumento eficaz de gestão de políticas públicas. Esse é o diagnóstico de um estudo do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap), concluído em maio, que propõe a reformulação da parte norte do território brasileiro, encravando ali uma terceira região, a Noroeste. É a primeira vez que uma proposta de revisão das macrorregiões é apresentada desde 1969, quando foi instituído o atual modelo pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O trabalho será debatido no próximo mês no Encontro Anual da Associação Nacional de Pós-Graduação em Geografia, em Niterói, Rio de Janeiro. O estudo "As regiões brasileira pós-Tocantins: ensaio para um novo arranjo" defende a divisão da Região Norte em duas partes. De um lado, sob a liderança do Amazonas, ficariam Acre, Rondônia e Roraima, que formariam o Noroeste. No outro extremo, surgiria uma nova Região Norte, composta por Pará, Amapá, Tocantins e o vizinho Maranhão, hoje um dos 9 Estados nordestinos. Ao sugerir essas mudanças, o autor do estudo, José Donizete Cazzolato, usou como critério os vínculos sociais e econômicos dos Estados. "A estrutura urbana da Região Norte, como está hoje, opera em nítida dicotomia. Há o pólo de Manaus, que interage mais intensamente com Acre e Roraima. Do outro, o pólo de Belém e Palmas. Embora na mesma região, os dois pólos quase não interagem", explica Cazzolato. No Maranhão, ele destaca, o maior parceiro está do outro lado da fronteira do Nordeste. "Se as relações do Maranhão, Tocantins e Pará acontecem mais intensamente com a parte de fora do que a de dentro (das regiões), por que não mexer nisso?", questiona o pesquisador. Geógrafo, Cazzolato busca nos discursos usados em 1969 para a criação do Sudeste os argumentos para defender a união de Tocantins, Pará, Amapá e Maranhão num mesmo grupo. "O surgimento do Sudeste inaugurou uma nova visão para a divisão regional do País. Mostrou que ela estaria relacionada mais a critérios geoeconômicos, como relação de negócios, fluxos de material e circulação de pessoas, do que aos geofísicos", afirma o pesquisador. "Quando da criação das atuais regiões, Tocantins, Pará e Maranhão eram uma espécie de periferia de suas regiões. Hoje há nessa área um vetor de crescimento forte que tem tudo para ser um novo nódulo regional." O governo do Tocantins confirma o novo perfil do Estado. "De fato, nossas relações econômicas, sociais e políticas são maiores com o Pará e o sul do Maranhão", afirma o diretor de Planejamento do Estado, Raimundo Casé. Ele viu com bons olhos a proposta, sobretudo no viés político. "Isso poderia ajudar na articulação de uma bancada na Câmara que defenda os interesses da nossa região." O Maranhão, que enfrenta um movimento interno de divisão do Estado, não quis comentar o estudo. DESENVOLVIMENTO Uma das apostas do novo modelo é o desenvolvimento econômico desse quadrilátero cravado entre o Norte e Nordeste. "Acho que pode funcionar como um empurrãozinho para que a identidade local se intensifique e, com ela, venha o desenvolvimento econômico. Hoje não há culturalmente uma identidade desses quatro Estados bem definida." Diferentemente da criação de Estados, a mudança nas macrorregiões tem um custo pequeno aos cofres públicos. Os gastos são basicamente com a atualização do material didático escolar distribuído gratuitamente pelo governo federal. O estudo, no entanto, não entrou nessa questão. Estamos hoje na terceira versão oficial da divisão regional do território brasileiro. A primeira ocorreu em 1942 e durou apenas três anos, quando uma revisão repartiu o País em sete áreas: Norte, Centro-Oeste, Nordeste Ocidental, Nordeste Oriental, Leste Setentrional, Leste Meridional e Sul. Antes disso, outras tentativas, extra-oficiais, foram realizadas, sendo a primeira em 1913. Depois de 1945, a nova atualização foi em 1969, que vigora até hoje. A principal função dessas divisões é facilitar os estudos feitos pelo IBGE.

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