PUBLICIDADE

Estudo mostra "poder" dos traficantes nos morros

PUBLICIDADE

Por Agencia Estado
Atualização:

A relação entre associações de moradores de comunidades carentes e a criminalidade foi percorrido pelo sociólogo Josinaldo Aleixo de Souza. Ele acaba de apresentar à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) tese de doutorado sobre o contato entre os grupos de coesão - organizações comunitárias e religiosas, além das entidades de defesa dos direitos dos cidadãos de áreas de risco - e os de violência - traficantes tidos como "donos" dos morros e matadores profissionais, que atuam na periferia. A conclusão: não há como fugir do domínio dos bandidos. O pesquisador afirma que, em algumas favelas, o poder do tráfico é tamanho que os bandidos intervêm nas associações de moradores, escolhendo seus representantes. "É impossível atuar numa favela sem o consentimento das quadrilhas", diz Souza. Em comunidades unidas, ressalva, moradores têm força para escolher o líder. Ainda assim, bandidos não deixam que o comércio de entorpecentes seja prejudicado. Muitas vezes, o terror é a forma de impor respeito. O sociólogo constatou que entidades populares são elo entre moradores, traficantes e Estado. No dia-a-dia, as associações pedem aos bandidos que não ostentem armas nem consumam drogas nas ruas. Costumam ser atendidos. "O bem da comunidade é bom para o traficante, que, na maioria das vezes, nasceu lá, tem parentes e amigos." No entanto, já houve casos de líderes que foram mortos por serem considerados empecilhos - no Morro da Formiga, zona norte, e no Vidigal, zona sul, os presidentes das associações desapareceram há dois anos. As famílias vêem os traficantes com maus olhos, mas com as quadrilhas de matadores a história é outra: são tidos como benfeitores, matando ladrões e estupradores, "protegendo" a população. Em alguns bairros, grupos de extermínio se tornaram empresas de segurança, patrulhando as ruas. O contato entre associações de moradores e traficantes pode levar representantes dos favelados à prisão. Foi o caso de André Fernandes, líder comunitário do Morro Santa Marta, zona sul do Rio. Lutando há dez anos por melhorias, ele recebeu elogios públicos do traficante Márcio Amaro de Oliveira, o Marcinho VP, que chefiou o tráfico no Santa Marta. Acabou processado por apologia ao crime.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.