PUBLICIDADE

Estudo mostra fuga de cérebros do País

Por Agencia Estado
Atualização:

Como se não bastasse a alta do dólar e a crônica falta de verbas, que prejudicam o desenvolvimento científico e tecnológico a curto prazo, o Brasil enfrenta outro problema: a fuga de cérebros. Pesquisa divulgada nesta semana, realizada pelo médico Reinaldo Guimarães, do Instituto de Medicina Social da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), mostra que, entre 1993 e 1999, 966 cientistas foram trabalhar no exterior, 60% dos quais nos Estados Unidos ou no Canadá. É o primeiro levantamento feito desde os anos 70. Isso significa que, a cada ano do período, 138 pesquisadores ? em média, 11,5 por mês ? resolveram deixar o País. Segundo os cálculos de Guimarães, que também é presidente do Conselho Superior da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj), essa transferência causou um prejuízo de U$$ 100 milhões ao Brasil. Para chegar a esse valor, ele partiu de estimativas de agências de fomento. ?De acordo com seus cálculos, a formação de um doutor custa, em gastos diretos ? como bolsas, por exemplo ? US$ 20 mil?, explica. ?Somando-se os custos indiretos estimados, como salários de professores, custeio e infra-estrutura de pesquisa, o investimento total deve chegar aos US$ 100 mil.? Migração Guimarães realizou seu levantamento, publicado na edição de outubro da revista Ciência Hoje, por meio de questionários, enviados a 2.769 líderes de grupos de pesquisa de todas as áreas do conhecimento. Eles informaram sobre o afastamento de pesquisadores de seus respectivos grupos. Entre outros dados, ele procurou saber o motivo da transferência (se a trabalho ou para complementar a formação do emigrado) e o destino (o país estrangeiro ou outro Estado do Brasil). Depois, esses resultados foram projetados para todos os 10.055 grupos de pesquisa do País. Em relação à migração interna, a pesquisa constatou que 2.316 cientistas mudaram de Estado. Desses, 1.790 se transferiram por motivo de trabalho, e 526, para complementar sua formação. Do total de migrados, 70% foram para o Sudeste, onde se encontram as melhores instituições de pesquisa. Rotas O estudo detectou, no entanto, outras rotas migratórias importantes, para Estados com pouca tradição científica, como Paraná e Santa Catarina. ?Acreditamos que isso esteja ligado à procura de melhor qualidade de vida?, diz Guimarães. ?Talvez a excelência das instituições de pesquisa não seja o único fator de atração para os cientistas.? Embora a migração de 966 cientistas possa parecer pequena diante dos 18.180 doutores formados no Brasil no mesmo período, ela, na verdade, revela uma tendência. ?Nessa questão, o Brasil pode estar passando de uma situação de não-problema para tornar-se um problema?, diz. ?O que é certo é que as migrações, interna e externa, de pesquisadores são um fenômeno novo e complexo, que os poucos estudos ainda não explicam.? As últimas pesquisas a respeito foram feitas na década de 70, quando o Brasil ainda era um importador de mão-de-obra de uma forma geral. A partir dos anos 80, a situação se inverteu. ?O Brasil passou a ser exportador de trabalhadores?, explica Guimarães. ?Primeiro para o Japão, com os dekasseguis, e mais recentemente para os Estados Unidos.? Segundo o pesquisador da Uerj, a perda de pesquisador pode, em parte, estar sendo amenizada pelo ?aumento exponencial das possibilidades de comunicação de pessoas em todo o planeta?. ?As redes virtuais que estimulam o contato entre os cientistas migrados e os seus compatriotas que ficaram em seu país de origem têm se multiplicado com resultados promissores?, diz. ?O migrado deixa a posição de ?perdido? para a de ?pontencialmente útil?.?

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.