Estudo levanta 10 perfis do consumidor de baixa renda

Por Agencia Estado
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Uma das maiores obsessões dos profissionais de marketing é identificar e estudar padrões de comportamento que influenciem hábitos de consumo. No Brasil, esses estudos sempre se concentraram em um foco: as classes A e B, as mais endinheiradas. Foi deles que nasceram tipos clássicos como mauricinhos, patricinhas e mais recentemente os metrossexuais - homens vaidosos que gastam fortunas com a própria aparência. A novidade agora é que os marqueteiros e publicitários começam a descobrir que a mesma riqueza de tipos que existe entre os ricos e a classe média também ocorre entre os pobres. Um estudo realizado pelas empresas de pesquisa Ipsos-Opinion e Republica identificou dez perfis diferentes de consumidores entre as pessoas de baixa renda, as chamadas classe C e D. "Essas classes sempre foram vistas como uma massa amorfa, apenas com uma ou outra característica básica", diz Clifford Young, diretor executivo do Ipsos-Opinion. "Mas, na verdade, têm uma riqueza de detalhes e opiniões que merecia uma atenção maior", diz. O estudo coordenado por Young foi realizado a partir do cruzamento de um banco de dados formado a partir de 50 mil entrevistas realizadas em nove regiões metropolitanas. Entre os tipos identificados há desde as mulheres dispostas a tocar negócios (chamadas de Empreendedoras) até aposentados que tiveram bom poder aquisitivo no passado e hoje se vêem rebaixados a uma classe social inferior. Entre os jovens, os perfis variam desde os conformados com a pobreza e que seguem o caminho dos pais em profissões menos valorizadas até os ambiciosos - chamados de Descoladas e de Manos - que têm grande potencial de consumo e ascensão social. A pesquisa também aponta particularidades, como a presença das avós idosas em muitos domicílios, que têm grande poder de influenciar as compras. Em todos os casos, o cruzamento de dados permitiu aos pesquisadores identificar detalhes como diversões preferidas, hábitos de consumo e opiniões sobre assuntos morais. O principal objetivo da pesquisa é servir de ferramenta para publicidade, desenvolvimento de produtos e marketing político. Um do traços mais marcantes detectados é o conservadorismo e o moralismo, que em alguns casos chegam a ser maior do que nas camadas mais abastadas. Oitenta e quatro por cento dos entrevistados das classes C, D e E consideram religião uma parte muito importante de sua vida, 60% acham que empresas que tem negócio ligado à pornografia deveriam ser fechadas e 73% acham que o serviço militar deveria ser obrigatório para todos os jovens. Nas classes A e B, 80% acham religião importante, 52% querem o fim das empresas de pornografia e 55% acham que o serviço militar deveria ser obrigatório. Os pobres também são mais machistas. Para as classes C, D e E, 59% acham que a mulher tem mais capacidade para cuidar da casa do que trabalhar fora. Entre os mais ricos, 42% dos entrevistados pensam assim. Plano Real - Os consumidores de baixa renda são uma descoberta recente no Brasil e começaram a ganhar importância com o Plano Real. Com a retomada econômica dos últimos meses passaram a ter status de estrela. No Brasil, 81% da população está enquadrada nas camadas C, D e E. Para essas pessoas, que vivem em famílias com renda mensal entre R$ 350 e R$ 1 mil, qualquer acréscimo de renda desemboca em consumo, seja em um reforço na compra de supermercado com marcas mais caras, seja em um novo eletrodoméstico. No apartamento da família Jorge, na Cohab de Pirituba, extremo oeste de São Paulo, a vida é apertada. A renda de R$ 700 sustenta quatro adultos e sete crianças. A família faz malabarismos para equilibrar o orçamento doméstico, mas exibe com orgulho os bens comprados em muitas prestações. De frente para a porta fica a televisão Philco de 29 polegadas. Do lado oposto, um vistoso conjunto de som fabricado pela Philips. Na despensa, não faltam os produtos de limpeza de marcas famosas, os mais caros do mercado. Cozinheira desempregada desde dezembro, Wanda Lucia Jorge se recusa a trocar as chamadas marcas líderes de mercado por outras mais baratas. "Minha filha mais velha sempre diz que se vamos comprar alguma coisa é bom levar o que há de melhor." A família de Pirituba ilustra o sonho de ascensão social por meio do consumo de marcas de prestígio, uma das características mais marcantes das classes C, D e E. As famílias de baixa renda não medem esforços para ter em casa marcas renomadas. Segundo Michael Klein, diretor administrativo das Casas Bahia, maior rede de eletroeletrônicos do País, os clientes já chegam pedindo produtos de marcas como Brastemp, Sony, Gradiente e Philips. Quase todas elas já têm versões mais baratas de seus produtos para atender esses consumidores.

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