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Estudante cria mobilização contra pobreza menstrual

Aos 17 anos, Lenice Ramos idealizou em Sergipe ação que garantiu doação de 192 mil absorventes para escolas públicas

Foto do author Levy Teles
Por Levy Teles
Atualização:

Foi pelo poder da leitura e após um “puxão de orelha” ilustre que a jovem Lenice Ramos, de 17 anos, moradora de Aracaju, Sergipe, investiu na ação política como meio de transformação social e melhoria das condições de vida das pessoas à sua volta. 

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Durante um evento de simulação da Assembleia da Organização das Nações Unidas (ONU) realizado pelo Centro de Excelência Atheneu Sergipense – colégio estadual em que ela estuda – em julho do ano passado, Lenice acompanhou uma palestra da empresária Luiza Helena Trajano. A dona do Magazine Luiza notou, na fala, que os homens lideravam os principais projetos apresentados no encontro. “Ela disse que era um clube do Bolinha”, relembra a aluna. 

Lenice concluiu que era momento de inovar. A jovem criou, em 2020, o Atheneu ONU Mulheres, o primeiro projeto de simulação protagonizado por mulheres no Brasil. Agora avança para transformar o aprendizado que teve lendo Presos que Menstruam, livro de Nana Queiroz sobre pobreza menstrual para mulheres em cárcere, na formulação de uma política pública. 

Lenice Ramos, 17, deu início ao Atheneu ONU Mulheres, primeiro projeto de simulação protagonizado por mulheres no Brasil. Ela também criou um projeto de lei para ajudar mulheres em situação de pobreza menstrual Foto: Jorge Henrique/Estadão

Da iniciativa nasceu o projeto “Absorvente é direito”, que aborda a questão da pobreza menstrual – definição dada para falta de acesso a absorventes higiênicos. O projeto garantiu a doação de 192 mil unidades de absorventes que serão distribuídos em 10 escolas escolhidas pela Secretaria de Educação de Sergipe para o programa piloto.

'Paninho'

"Se escrevi esse projeto foi porque li um livro”, relatou Lenice. “Eu não passo por pobreza menstrual e não tinha parado para pensar no tema até ler sobre”, disse. O diálogo com colegas da rede estadual a fez perceber, contudo, que era um problema mais próximo do que pensava. “Notei que colegas não tinham condições de comprar absorventes para uso próprio. Algumas usam até paninho.”

Estudo feito por pesquisadores da Universidade Federal de Pernambuco aponta que eventos relacionados com a menstruação podem causar consequências físicas e psicológicas consideráveis entre jovens. A pesquisa – que acompanhou 218 adolescentes com idades entre 12 e 17 anos que frequentavam escola pública em Petrolina (PE) – mostra que cerca de 31% das alunas faltaram às aulas por dores causadas por cólicas menstruais.

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Ao transferir a ideia para o mundo real, Lenice Ramos apresentou um projeto de lei, encaminhado à Assembleia Legislativa de Sergipe (Alese), para a distribuição de materiais básicos de higiene íntima a garotas de escola pública e de baixa renda. A arrecadação e a distribuição do material tiveram a ajuda da Magazine Luiza, da “inspiradora” Luiza Trajano, um ano após a conversa.

Começo

A proposta nasceu a partir da entrada de Lenice no Atheneu, colégio de ensino médio integral estadual de Sergipe. Na escola, os jovens possuem professores-tutores, que os orientam a pensar nos planos para o seu futuro, assim como nas maneiras pelas quais possam contribuir com a comunidade escolar e com a sociedade em geral.

Em 2020, Lenice apresentou o projeto “Absorvente é direito” para o Parlamento Jovem Brasileiro, proposta da Câmara dos Deputados para premiar e incentivar jovens para a construção de um projeto de lei. Ele foi inicialmente planejado para colaborar com a questão da pobreza menstrual para mulheres dentro das penitenciárias femininas.

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A ideia era tornar obrigatório, de parte governo federal e dos Estados, oferecer kits com absorventes, papel higiênico e lenços umedecidos para os cuidados pessoais das mulheres presas. A iniciativa esteve entre os quatro melhores projetos de Sergipe e ficou com a segunda posição a nível nacional.

Ao longo da pandemia, Lenice viu um momento para avançar com outra proposta, o Atheneu ONU Mulheres. O projeto é composto

por jovens do colégio sergipano que estejam cursando o Ensino Médio. Hoje, reúne 24 alunas do colégio e ganha força entre as estudantes mais novas. As simulações já tiveram a participação de convidados famosos. Além de Luiza Trajano, se apresentaram para os debates, entre outros, a campeã olímpica de vôlei Fofão, o apresentador de TV Marcelo Tas e o ator Mateus Solano.

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Planos

Lenice não pretende parar por aí. Quer ampliar o programa para o próximo ano e formar outras jovens lideranças políticas no próprio colégio para continuar o legado e gerar mais frutos. Para ela, a experiência é transformadora e a porta para experiências na vida pública. “Quero entrar na política”, adiantou. É o caminho para a boa renovação no setor.

Relatório

  • Higiene: 17% das meninas com até 19 anos não têm acesso à rede geral de distribuição de água. São cerca de 7,5 milhões de pessoas nessa condição – 90% delas frequentam a rede pública de ensino. O dado é apresentado no relatório Livre Para Menstruar, do Girl Up Brasil.
  • Banheiro: O mesmo relatório revela que cerca de 7,5 milhões de estudantes menstruam na escola, e 213 mil meninas brasileiras não dispõem de banheiro em condição de uso. Nas escolas que têm banheiro, elas relatam que 8% não têm papel higiênico. A pia não existe ou não funciona para 4% delas e 37% dizem que não há sabonete disponível. As negras representam mais de 60% de cada um dos três grupos apresentados.

Correções

[ASSINA]LEVY TELES <MC> </MC>[/ASSINA]<IP9,0,0><CW-2>Foi pelo poder da leitura e após um “puxão de orelha” ilustre que a jovem Lenice Ramos, de 17 anos, moradora de Aracaju, Sergipe, investiu na ação política como meio de transformação social e melhoria das condições de vida das pessoas à sua volta.  </CW><CW-20>Durante um evento de simulação da Assembleia da Organização das Nações Unidas (ONU) realizado pelo Centro de Excelência Atheneu Sergipense – colégio estadual em que ela estuda – em julho do ano passado, Lenice acompanhou uma palestra da empresária Luiza Helena Trajano. A dona do Magazine Luiza notou, na fala, que os homens lideravam os principais projetos apresentados no encontro. “Ela disse que era um clube do Bolinha”, relembra a aluna.</CW><CW-10>  </CW>Lenice concluiu que era momento de inovar. A jovem criou, em 2020, o Atheneu ONU Mulheres, o primeiro projeto de simulação protagonizado por mulheres no Brasil. Agora avança para transformar o aprendizado que teve lendo <CF742>Presos que Menstruam</CF>, livro de Nana Queiroz sobre pobreza menstrual para mulheres em cárcere, na formulação de uma política pública.  Da iniciativa nasceu o projeto “Absorvente é direito”, que aborda a questão da pobreza menstrual – definição dada para falta de acesso a absorventes higiênicos. O projeto garantiu a doação de 192 mil unidades de absorventes que serão distribuídos em 10 escolas escolhidas pela Secretaria de Educação de Sergipe para o programa piloto. [INTERTITULO]‘PANINHO’.[/INTERTITULO] “Se escrevi esse projeto foi porque li um livro”, relatou Lenice. “Eu não passo por pobreza menstrual e não tinha parado para pensar no tema até ler sobre”, disse. O diálogo com colegas da rede estadual a fez perceber, contudo, que era um problema mais próximo do que pensava. “Notei que colegas não tinham condições de comprar absorventes para uso próprio. Algumas usam até paninho.” Estudo feito por pesquisadores da Universidade Federal de Pernambuco aponta que eventos relacionados com a menstruação podem causar consequências físicas e psicológicas consideráveis entre jovens. A pesquisa – que acompanhou 218 adolescentes com idades entre 12 e 17 anos que frequentavam escola pública em Petrolina (PE) – mostra que cerca de 31% das alunas faltaram às aulas por dores causadas por cólicas menstruais. <CW-8>Ao transferir a ideia para o mundo real, Lenice Ramos apresentou um projeto de lei, encaminhado à Assembleia Legislativa de Sergipe (Alese), para a distribuição de materiais básicos de higiene íntima a garotas de escola pública e de baixa renda. A arrecadação e a distribuição do material tiveram a ajuda da Magazine Luiza, da “inspiradora” Luiza Trajano, um ano após a conversa. </CW>[INTERTITULO]COMEÇO.[/INTERTITULO] A proposta nasceu a partir da entrada de Lenice no Atheneu, colégio de ensino médio integral estadual de Sergipe. Na escola, os jovens possuem professores-tutores, que os orientam a pensar nos planos para o seu futuro, assim como nas maneiras pelas quais possam contribuir com a comunidade escolar e com a sociedade em geral. Em 2020, Lenice apresentou o projeto “Absorvente é direito” para o Parlamento Jovem Brasileiro, proposta da Câmara dos Deputados para premiar e incentivar jovens para a construção de um projeto de lei. Ele foi inicialmente planejado para colaborar com a questão da pobreza menstrual para mulheres dentro das penitenciárias femininas. A ideia era tornar obrigatório, de parte governo federal e dos Estados, oferecer kits com absorventes, papel higiênico e lenços umedecidos para os cuidados pessoais das mulheres presas. A iniciativa esteve entre os quatro melhores projetos de Sergipe e ficou com a segunda posição a nível nacional. Ao longo da pandemia, Lenice viu um momento para avançar com outra proposta, o Atheneu ONU Mulheres. O projeto é composto por jovens do colégio sergipano que estejam cursando o Ensino Médio. Hoje, reúne 24 alunas do colégio e ganha força entre as estudantes mais novas. As simulações já tiveram a participação de convidados famosos. Além de Luiza Trajano, se apresentaram para os debates, entre outros, a campeã olímpica de vôlei Fofão, o apresentador de TV Marcelo Tas e o ator Mateus Solano. [INTERTITULO]PLANOS.[/INTERTITULO] Lenice não pretende parar por aí. Quer ampliar o programa para o próximo ano e formar outras jovens lideranças políticas no próprio colégio para continuar o legado e gerar mais frutos. Para ela, a experiência é transformadora e a porta para experiências na vida pública. “Quero entrar na política”, adiantou. É o caminho para a boa renovação no setor. <MC><SC343,108>

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