'Estou atento às questões nacionais', diz Patrus
Ex-ministro foi citado por Lula como exemplo de quadro experiente do PT que deveria disputar as eleições municipais em 2020
Entrevista com
Patrus Ananias, deputado federal
Entrevista com
Patrus Ananias, deputado federal
02 de dezembro de 2019 | 04h00
Ex-ministro do Desenvolvimento Social responsável pela implantação do Bolsa Família, o deputado Patrus Ananias (PT-MG) foi citado nominalmente pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva como exemplo de quadro experiente do PT que deveria disputar as eleições municipais do ano que vem – no caso, a prefeitura de Belo Horizonte, cargo que já ocupou entre 1993 e 1996.
PT sofre para ter nomes fortes em 2020
Patrus, no entanto, está mais preocupado com as questões nacionais como a soberania. Segundo ele, o PT deve aproveitar as eleições do ano que vem para criar vínculos programáticos com outras forças de centro-esquerda e fazer um debate "pedagógico" com a população sobre os efeitos do governo Jair Bolsonaro com vistas a 2022.
Leia os principais trechos da entrevista de Patrus ao Estado.
O senhor vai se candidatar à prefeitura de Belo Horizonte?
Fico muito honrado e sensibilizado por meu nome ter sido lembrado por aquele que considero ser o maior estadista do Brasil e ter sido ministro de Lula por mais de sete anos mas neste momento estou muito atento às questões nacionais. Lançamos a Frente Parlamentar em defesa da Soberania Nacional. Nosso compromisso é que essa frente se faça presente para vincular a soberania com uma discussão do Brasil no sentido amplo.
O PT deve lançar o maior número de candidatos possível ou abrir mão em alguns lugares em nome de alianças com outros partidos de centro/esquerda?
Eu tendo a trabalhar com bastante carinho a questão das alianças. Que a gente faça programa de governo e assuma compromissos claros com a população considerando a realidade de cada município. Vejo dois níveis de alianças. O primeiro mais amplo, não só eleitoral, com todas as forças comprometidas com o estado democrático de direito e liberdades que estão ameaçadas, ainda que tenhamos divergências em políticas econômicas e sociais. E depois buscarmos alianças mais eleitorais com forças políticas mais comprometidas com a pauta da justiça social.
A disputa de 2022 passa pelas eleições do ano que vem?
É claro. O processo eleitoral é muito importante, por isso acho que temos que valorizar muito a questão programática com forças comprometidas com a justiça social. O momento é pedagógico. Temos que discutir com as famílias e as comunidades as questões políticas. A questão da soberania, por exemplo, é extremamente preocupante. Temos um governo que embora fale muito do Brasil, use as cores da pátria, não tem nenhum compromisso com o País, não tem um projeto nem compromisso com o povo. É um governo a serviço de interesses do grande capital e de nações poderosas como os EUA. Considero que dada a gravidade deste momento devemos levar em conta o caráter pedagógico e aproveitar a eleição para debatermos as questões nacionais.
Quais meios o PT e a oposição podem usar para fazer este debate com a sociedade?
Acho que o PT teve um começo muito bom, mas depois as responsabilidades de governo nos afastaram um pouco disso. Precisamos recuperar a área de formação política. Penso que agora temos que conciliar mais isso, o trabalho e base, recuperando nossa pedagogia, mas sem impor às pessoas uma doutrinação. É refletir com as pessoas em um processo e ensinar e aprender juntos. Sei que isso não é fácil hoje em dia, sei da dificuldade de entrarmos nas favelas.
O PT deve dialogar mais com as igrejas evangélicas?
Sim. O PT deve dialogar mais com todas as forças sociais que tenham compromisso com o bem comum. Sou cristão, católico. Minha formação política se deu através dos valores evangélicos. Estou convencido de que os valores evangélicos são profundamente comprometidos com a dignidade da pessoa humana, com a justiça social, com os pobres e excluídos.
O ex-presidente Lula defendeu o aprofundamento da polarização. O senhor concorda?
Ele está certíssimo. Este é um governo que está entregando o País, desmontando todas as políticas sociais que nós fizemos como o Bolsa Família, as políticas de inclusão social. É um governo que faz ameaças permanentes ao estado democrático de direito. Em relação a este governo temos que fazer uma oposição muito clara, democrática, mas vigorosa.
Lula também falou que "um pouco de radicalismo faz bem à nossa alma". Paulo Guedes interpretou como uma incitação a "quebrar as ruas" para falar da volta do AI-5. Como o senhor vê as reações à fala de Lula?
Concordo com Lula. Ser radical é ir à raiz dos problemas, discutir as causas da desigualdade social.
Como o PT deve lidar com as denúncias de corrupção que ainda têm repercussão principalmente no Judiciário? O ex-governador Fernando Pimentel, por exemplo, e o próprio Lula acabam de ser condenados.
Primeiro considero que Lula foi um preso político. Vivemos uma onda conservadora de direita no Brasil que esta muito presente no Poder Judiciário e no Ministério Público. De forma mais geral o PT assumiu sim uma prática que é histórica no Brasil, o financiamento privado de campanhas. Sobre isso é importante fazermos uma revisão.
Encontrou algum erro? Entre em contato
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.