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Estatal desmente versão divulgada por fundação

Petrobrás desconhece prestação de contas de projeto de digitalização

Por Rodrigo Rangel , SÃO LUÍS; Leandro Colon e BRASÍLIA
Atualização:

Na tentativa de se defender das suspeitas de irregularidades na fundação que leva o seu nome, o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), apresentou uma versão diferente da divulgada pela própria entidade. E a Petrobrás acabou desmentindo a Fundação José Sarney. Na tarde de ontem, a fundação divulgou nota afirmando que enviou à Petrobrás a "quitação das contas" do projeto cultural de digitalização do museu de Sarney em São Luís. No plenário, o presidente do Senado deu outra versão aos senadores. Informou que esse material foi entregue ao Ministério da Cultura, pasta que aprovou o projeto com o patrocínio da Petrobrás. Sua assessoria, porém, chegou a manter a versão da fundação. Depois de divulgar nota em que diz não ter responsabilidade sobre as empresas fantasmas contratadas pela entidade de Sarney para executar o projeto, a Petrobrás manifestou-se novamente, desta vez para corrigir a fundação e explicar que não teve acesso à prestação de contas. A estatal esclareceu que "não dá quitação às contas e sim atesta o pagamento dos valores contratados". O Ministério da Cultura confirmou que essa análise está em andamento na própria pasta. Documentos da Fundação José Sarney mostram que o senador acompanha com lupa os trabalhos de sua entidade, inclusive o projeto patrocinado pela Petrobrás que repassou dinheiro a empresas fantasmas e de sua própria família. O estatuto da entidade diz que Sarney é "presidente vitalício" da fundação. Ele apenas delegou ao amigo José Carlos Sousa e Silva poderes para "exercer" a presidência em sua ausência. Silva acaba de ser indicado pelo senador a uma vaga de juiz no Tribunal Regional Eleitoral do Maranhão. O Estado descobriu que a relação entre a fundação e o mundo do petróleo é muito maior. Um genro de José Carlos Silva - que assina a prestação de contas do suspeito convênio com a Petrobrás - foi nomeado em novembro para ser diretor da Agência Nacional do Petróleo (ANP), a convite do ministro Edison Lobão (Minas Energia), aliado da família Sarney. O assessor de imprensa de Lobão, Antônio Carlos Lima, o "Pipoca", é do conselho fiscal da Fundação José Sarney. Uma empresa de seu irmão, a Clara Comunicação, recebeu R$ 103 mil do recurso da Petrobrás repassado ao museu do senador. Ontem, Sarney tentou desvincular-se da gestão da entidade que leva o seu nome depois de o Estado revelar irregularidades na prestação de contas da verba recebida da Petrobrás. Segundo a assessoria do senador, Sarney "não participa de sua administração, nem tem responsabilidade sobre ela". Não foi bem o que ocorreu. Além da carta enviada por ele ao Ministério da Cultura pedindo agilidade no processo, o senador aparece num relatório de atividades do projeto. O texto indica que Sarney dava a última palavra no andamento dos trabalhos. "À tarde, a designer Zélia, da Clara Comunicações, fez uma exposição do cartaz que está em andamento, assim como do folder. Ficou acertado que este material iria ser enviado para o senador José Sarney".

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