Quinze meses de pandemia, mais de 500 mil mortos, desemprego que não desce, inflação que sobe, um governo sem planos e uma crescente polarização – política e, portanto, eleitoral – que prenuncia, para 2022, tempos preocupantes para a democracia.
É com esse pano de fundo, no qual o chamado centro democrático ainda não conseguiu se firmar e nem definir um projeto nacional para as próximas eleições, que o Centro de Liderança Pública (CLP) e o Estadão organizaram e começam a apresentar, na quinta-feira (1º), o programa Primárias. O debate, que começa às 18h30, será transmitido no site do Estadão e nas redes sociais do jornal.
Em sua primeira edição, ele reúne três presidenciáveis dessa área para discutir, entre outros temas, os desafios da pandemia de covid-19 e os caminhos para a retomada da economia. São eles o ex-governador do Ceará e ex-ministro Ciro Gomes (PDT), o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), e o ex-ministro da Saúde e ex-deputado Luiz Henrique Mandetta (DEM). Em comum, os três assinaram, em março passado, o “Manifesto pela Consciência Democrática”, que reuniu várias lideranças políticas em torno da defesa da democracia.
O formato do debate é inspirado na “superterça”, um dos eventos mais importantes nas prévias para a eleição presidencial nos Estados Unidos. O Primárias ocorrerá no Teatro D, em São Paulo, sem plateia e com medidas sanitárias como distanciamento, uso de máscaras e medição de temperatura.
Ao todo, o evento terá 1h30 de debate dividido em quatro blocos, nos quais os participantes responderão a perguntas de jornalistas e farão perguntas entre si. A mediação será feita pelo cientista político Luiz Felipe d’Avila, presidente do CLP.
“O momento em que vivemos exige pensar o Brasil sem extremismos com pessoas que tenham o compromisso com a democracia e com reformas cruciais para o País”, disse d’Avila. “O evento vem para contribuir com o debate e mostrar que temos boas opções políticas para pensar soluções para o Brasil.”
Retomada
Os participantes ressaltaram a importância de promover um espaço para debate de ideias e soluções para o País. Com a pandemia e a retomada econômica como tema principal do debate, eles sugerem que o assunto é central para a discussão de todas as áreas de governo.
“Lutar para eleger um projeto que devolva ao Brasil a capacidade de crescer, se desenvolver e diminuir as desigualdades, é vital para que possamos reconstruir o nosso país”, disse ao Estadão o ex-ministro e ex-governador do Ceará Ciro Gomes.
“O diálogo fraterno entre essas forças realmente dispostas a se somar para apresentar ao povo um projeto novo ao Brasil, é que pode garantir que não sigamos o rastro de destruição que iniciou no governo lulopetista e se aprofundou com Jair Bolsonaro.”
Outro dos debatedores, o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta, acredita que a pandemia seja um marco histórico que vai determinar o desenvolvimento do mundo inteiro no século 21, como foram as grandes guerras e quedas de impérios no passado. “Essa troca de impressões tem o eleitor como maior beneficiado, pois o cidadão começa a fazer também a sua análise das possibilidades e caminhos, e isso reforça bastante o conceito de democracia e de diálogo – que deveria ser o normal”, diz o ex-ministro. “O tema é o próprio século 21 e os desafios que ele colocou através da pandemia e como reestruturar o País.”
O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, por sua vez, rechaçou a ideia de que as alternativas para a disputa de 2022 estão entre o presidente Jair Bolsonaro e o PT. Leite acrescentou ainda que o evento é um oportunidade para debater os mais diversos assuntos. “Não podemos nos contentar com o governo que está aí apenas para não voltarmos para um governo do PT. E também não podemos nos conformar em voltar a um governo no PT porque o governo que está aí é ruim”.
O governador gaúcho entende que discutir “é fundamental para mapear os principais problemas e localizar pontos de convergência, em torno dos quais as forças políticas possam alavancar uma candidatura capaz de unir o Brasil e superar um longo período de radicalismos, à direita e à esquerda.”
Foco
O CLP, criado pelo próprio d’Avila em 2008, tem como um de seus temas centrais – uma espécie de agenda mínima – a retomada do crescimento do País e a redução do impacto da atual crise nos Estados e municípios. Como uma das ferramentas para esse trabalho ele criou, entre outros, o Ranking de Competitividade dos Estados e o Ranking Municipal.
Outro de seus focos é a boa gestão do setor público, para que melhore a qualidade dos serviços à população.