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Esta é a hora de calar, afirma ex-diretor da Petrobrás à CPI

Renato Duque comparece à sessão na Câmara, mas apenas se manifesta para rebater afirmações contra seus familiares

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Por Redação
Atualização:

Atualizado às 15h18

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Brasília - O ex-diretor de Serviços da Petrobrás Renato Duque decidiu ficar em silêncio diante dos deputados da CPI da Petrobrás, na sessão desta quinta-feira, 19. Preso na décima fase da Operação Lava Jato, Duque teve o depoimento autorizado pela Justiça Federal, mas o ex-diretor afirmou que se valeria do direito constitucional de não falar. Apenas em algumas ocasições o ex-diretou rompeu o silêncio para rebater afirmações envolvendo familiares e para negar que tenha parentesco com o ex-ministro José Dirceu e que conhecesse o doleiro Alberto Youssef, também alvo da Lava Jato.

"Existe uma hora de falar e outra de calar. Ao meu ver, essa é a hora de calar", afirmou Duque. O ex-diretor está preso na Superintendência da Polícia Federal em Curitiba (PR) e chegou a Brasília nesta manhã. Duque disse que todas as dúvidas serão esclarecidas em momento oportuno. "Estou sendo acusado, me encontro preso, por esse motivo estou exercendo o meu direito constitucional ao silêncio", completou.

O ex-diretor de Serviços da Petrobrás Renato Duque foi preso na 10ª etapa da operação, em março,chamada de "Que País é esse?" em referência a um diálogo telefônico do próprio executivo interceptado pela Polícia Federal quando ele foi preso pela primeira vez, em 2014, e depois conseguiu um habeas corpus. O ex-diretor foi detido pela segunda vez acusado de dentar ocultar patrimônio na Suíça.Entenda o caso Foto: André Dusek/Estadão

Apesar da afirmativa, os deputados fizeram as perguntas a Duque e criticaram a conduta do ex-diretor. Para o deputado Chico Alencar (PSOL-RJ), o silêncio indica "cumplicidade" e um sinal de "desrespeito" aos parlamentares. "Na minha vã esperança, achei que vossa senhoria poderia ser menos Duque, cuja etmologia significa renascido, e menos Duque, menos nobreza. Nós deploramos sua posição", afirmou.

Ao final da sessão, após quatro horas e depois de seguidos "permanecerei calado", Duque encerrou sua participação na CPI dizendo estar com a "consciência tranquila" e lamentar a atual situação da Petrobrás, onde trabalhou por 34 anos. Disse ainda ter argumentos para discutir todos os assuntos abordados na sessão, mas que preferiu seguir a orientação de sua defesa. "Não é porque eu temo ou de antemão esteja me declarando culpado; muito pelo contrário. Vou me defender", afirmou.

Ao longo da sessão, os deputados insistiram para saber qual era o vínculo de Duque com o PT, que o indicou para o cargo na Petrobrás, e com o ex-gerente Pedro Barusco, com quem trabalhou na Diretoria de Serviços. À CPI, na semana passada, ele reafirmou que Duque tinha conhecimento do esquema de desvios na estatal e eram beneficiários de propinas. Os parlamentares também perguntaram se Duque conhecia ou tinha relação com o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto, citado nos depoimentos de Barusco. 

Quatro respostas. Duque manifestou irritação com as ameaças de convocação de sua mulher à CPI. O deputado Darcísio Perondi (PMDB-RS) foi o primeiro a sugerir a convocação de Maria Auxiliadora. Momentos depois, diante da insistência no tema, Duque pediu a palavra: "Minha esposa nunca esteve com o presidente Lula ou com o senhor Okamotto. Nunca o conheceu. Responde?", declarou ao deputado Izalci (PSDB-DF). Em seguida, continuou: "O deputado Onyx (Lorenzoni, do DEM-RS) falando que tem que convocar minha esposa para esclarecer. Então estou esclarecendo. Estou entendo como uma ameaça", disse o ex-diretor. "CPI não ameaça, convoca", rebateu Onyx.

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Quando questionado pela deputada Eliziane Gama (PPS-MA) se seu filho trabalharia em uma empresa ligada à UTC Engenheria, investigada pela Lava Jato, Duque também reagiu: "Eu faço questão de responder a essa pergunta: A Technip, empresa que você citou, não tem nada a ver com a UTC. Vamos desvincular antes de tudo", afirmou.

Em outra ocasião que aceitou falar, Duque negou que conhecesse o doleiro Alberto Youssef, também preso pela Lava Jato e apontado como o principal operador do esquema. Indagado pelo tucano Otávio Leite (RJ) se conhecia ou não o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, Duque voltou a dizer que permaneceria calado. A decisão de não responder à pergunta arrancou risos da plateia que acompanha a sessão desta comissão.

Por fim, após ser questionado se sua indicação na Petrobrás partiu do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, Duque negou ter relação de parentesco com o petista, como sugerido pelo deputado Izalci Lucas (PSDB-DF).

Na sessão da CPI da Petrobrás,Renato Duque permaneceu em silêncio a maior parte do tempo Foto: André Dusek/Estadão

Duque está preso desde a semana passada, condição que impediria sua ida à comissão. O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), no entanto, decidiu suspender ato da Mesa Diretora que barrava a ida de presos à Casa para garantir a presença do ex-diretor. Criticado por parlamentares pelo custo causado com a sua viagem, o ex-diretor afirmou ter avisado que ficaria em silêncio.

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Investigações. Para os investigadores da Lava Jato, Duque é o elo do PT com o esquema de desvios na petroleira. Segundo o Ministério Público Federal (MPF), teriam sido captados na gestão de Duque cerca de R$ 650 milhões em propinas sobre contratos fechados de 2004 a 2012 com as seis empreiteiras que teriam integrado cartel para assumir negócios bilionários na estatal. Ele nega ter envolvimento com esquema.

Duque chegou a ser preso em novembro do ano passado, mas foi solto por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF). De acordo com a PF, Duque foi flagrado tentando ocultar patrimônio não declarado mantido na Suíça e por essa razão foi feito novo pedido de prisão. Uma das operações envolveu a transferência de 20 milhões de euros para uma conta no Principado de Mônaco. A defesa do ex-diretor negou a existência de movimentações financeiras. / Bernardo Caram, Daiene Cardoso, Daniel Carvalho, Raquel Brandão, Diego Moura, Natalia Cacioli e Lilian Venturini

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