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Esquema era também luxo e ostentação

Aeronaves, lancha, Porsche, quadros, joias e outros bens apreendidos estão na mira das autoridades para serem usados para ressarcir os cofres públicos

Foto do author Fausto Macedo
Por Ricardo Brandt e Fausto Macedo
Atualização:

Coleções dos mais caros relógios (Rolex, Cartier, Baume & Mercier, Hublot), caixas de joias (brincos, colares, anéis, pingentes e pedras preciosas), obras de arte avaliadas em US$ 3 milhões, como um original de Di Cavalcanti, uma lancha de R$ 2 milhões, um helicóptero, um jato, Porsches, imóveis em Miami (EUA) e muito dinheiro em espécie, dólares, euros e reais, guardados em casa. Uma vida de muita ostentação. É o que revelam os autos de apreensão da Operação Lava Jato, que desmontou um esquema de fraudes, corrupção, lavagem de dinheiro e caixa 2, supostamente envolvendo PT, PMDB e PP, na Petrobrás, entre 2004 e 2014. O esquema abasteceu também a oposição, PSDB, e o PSB.Parte desses itens de luxo apreendidos pela Polícia Federal, todos catalogados e em poder da Justiça, está na mira das autoridades para ser usada para ressarcir os cofres públicos do rombo causado pelo esquema.Com quatro delações premiadas formalizadas até agora, entre elas a do ex-diretor de Abastecimento da Petrobrás Paulo Roberto Costa, a Justiça assegurou a devolução de R$ 165 milhões, mas espera conseguir muito mais que isso. A ocultação do dinheiro ilícito em forma de patrimônio - como imóveis, joias e obras de arte - é o ponto final do ciclo dos crimes de lavagem de dinheiro.Pedras preciosas. O doleiro Alberto Youssef, um dos alvos centrais da operação, tinha em seu apartamento em São Paulo uma coleção de relógios, canetas e joias que estão em poder da Justiça. São itens como 11 relógios da marca Suíça Rolex, um deles com pedras preciosas, nove Hublots, dois Montblanc, dois Breitling, dois Cartier, um Vacheron, um Chopard e um Baume & Mercier - num total de 25 relógios. Há ainda uma coleção de mais de dez canetas Montblanc e Cartier.Na casa da doleira Nelma Kodama, ex-namorada de Youssef e condenada a 18 anos de prisão em um dos processos da Lava Jato, foi apreendida uma coleção de 16 obras de arte, entre elas um Di Calvanti - pintor da arte modernista brasileira -, um Iberê Camargo, dois Cícero Dias e um Renoir falso. Os quadros estão no Museu Oscar Niemeyer, em Curitiba, guardados. Ela também teve apreendido um Porsche Cayman 2011, que registrou em nome de um "laranja", comprado em novembro de 2013 por R$ 225 mil. Quando foi presa, em março, ela tentava embarcar para a Itália com 200 mil na calcinha. As agendas onde eram anotados os contatos e valores do mercado negro de câmbio da Lava Jato, consideradas sempre elementos ricos em informações nas investigações sobre crimes de colarinho branco, também revelam os gostos luxuosos dos réus da operação.O doleiro Carlos Alexandre Rocha, o Ceará, que atuava como "mula" de Youssef e Nelma, anotava tudo em agendas Louis Vuitton. Apesar de declarar rendimento de R$ 18 mil à Receita e nada de patrimônio, em 29 de novembro do ano passado, sem saber que sua conversa era monitorada, ele trata da compra de um veículo da marca Camry, "aquele que custa mais caro da Toyota", afirma ele. No diálogo, ele diz que havia comprado "US$ 100 mil em relógios". "Eu sou igual a você, não quero nada, só quero um reloginho pra tá todo dia diferente no braço e carrinho pra mim andar", diz o réu ao interlocutor. O modelo do carro, anota a PF, custa R$ 130 mil. Entre sua coleção de joias e canetas apreendidas, há quatro relógios que foram devolvidos pela Justiça, da marca Hublot, avaliados em cerca de R$ 200 mil.Patrimônio ilícito. O ex-diretor de Abastecimento da Petrobrás também levantou patrimônio ilícito, confessou o crime e aceitou devolver parte dos bens. Ele, a mulher e a filha aceitaram devolver cerca de R$ 70 milhões - boa parte desse dinheiro estava na Suíça - e uma lancha de R$ 2 milhões que ele havia comprado. Outro réu da Lava Jato, já condenado no processo do mensalão, Enivaldo Quadrado também teve a vida e costumes de luxo devassados pela Polícia Federal. Relatório da PF anexou fotos dele com familiares em uma casa, aparentemente em Miami (EUA), que, segundo os agentes, teria sido comprada por ele ou pelo cunhado Rafael Ângulo Lopes, outro réu no processo.Para conseguir confiscar esses bens, a Justiça precisa provar que foram adquiridos com dinheiros dos crimes.

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