Espectadores reclamam de enxurrada de números

Eleitores que assistiram ao debate se disseram confusos e gostariam de verificar veracidade das cifras citadas pelos candidatos no debate

Por Roldão Arruda
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Três casais de eleitores do condomínio Alphaville reuniram-se ontem para assistir ao último debate entre os candidatos Gilberto Kassab (DEM) e Marta Suplicy (PT), na TV Globo. Embora o condomínio fique situado em Barueri, na região metropolitana de São Paulo, todos votam na capital. Queriam conhecer melhor as propostas dos candidatos e ver seu desempenho. Na opinião deles, Marta bateu pesado, provocou o oponente - como deveria fazer, por estar em segundo lugar nas pesquisas. Mas Kassab não aceitou a provocação, não jogou no campo dela. "Do ponto de vista da tática política, ele agiu certo. O Brasil quando aceita as provocações dos argentinos e entra no jogo deles sempre perde", comparou o engenheiro Norival Norberto. Os dois estavam nervosos, observou a psicóloga Renata Zanin Malek. "Mas o Kassab conseguiu passar mais tranqüilidade e chegou a dominar o debate em alguns minutos." Ela citou como exemplo o momento em que a ex-prefeita disse que o prefeito vive dizendo que está fazendo, que vai melhorar, mas que não faz nada. A resposta - "Obrigado por reconhecer que estou fazendo, que sou prefeito" - foi elogiada pela psicóloga. Outro sinal do maior nervosismo de Marta foi o fato de atravessar ou se confundir mais vezes que o oponente em relação ao tempo e à ordem das perguntas. Cyro Malek, também engenheiro, considerou o debate, de maneira geral, chato: "Parecia que cada um tinha um roteiro para dizer e faziam isso, ignorando em parte o que o outro dizia. E nem todo debate precisa ser chato. Já tivemos debates presidenciais que foram decisivos, como o do Lula com o Collor, e do Lula com o Serra." Os espectadores também reclamaram das citações infindáveis de números, de obras feitas ou que serão construídas. "A gente fica confusa diante de tantas citações e não tem como verificar. Seria ótimo se pudéssemos de alguma forma verificar se o que estão dizendo corresponde à realidade ou é ficção", afirmou a professora Miquelina Cursio Norberto. "Falam na movimentação de milhões e milhões de reais e ninguém consegue saber ao certo do que estão falando. Precisaria haver algum mecanismo para verificar o que dizem", emendou o comerciante Vivaldo Xavier de Lucia. Vivaldo e sua mulher, Marilaine, já foram eleitores do PT. Mas desde o escândalo do mensalão deixaram de votar nos candidatos do partido. Hoje, ele, assim como os amigos que se reuniram diante da TV, não votam mais em partidos. "Eu escolho o candidato", disse Vivaldo. Um dos temas que mais provocaram a atenção deles foi o pedágio urbano. Citaram experiências de outros países que já visitaram e concluíram que será quase inevitável implantá-lo em São Paulo. Mas fizeram ressalvas. "O preço do pedágio não pode ser muito alto como tem acontecido no Brasil", disse Malek. "Também é preciso melhorar muito o sistema de transporte público, para que as pessoas se convençam a deixar o automóvel em casa." Para Marilaine, uma das coisas preocupantes nos debates como o de ontem é o fato de os candidatos não valorizarem as obras um do outro. "Seria bom se mostrassem preocupação em dar continuidade às boas obras já iniciadas." Norival disse que o excesso de números faz com que os telespectadores acabem prestando mais atenção nas reações dos candidatos, no comportamento, do que no conteúdo: "Sai ganhando aquele que demonstra mais firmeza, mais segurança. Uma pisada de bola pode derrubar um candidato." EU VOTO EM... KASSAB Mayana Zatz Geneticista "A gestão dele tem sido muito melhor que a da Marta. Nessa disputa, os ataques pessoais não têm importância. Importa a capacidade de gestão" MARTA Vera Vieira Coordenadora da ONG Rede Mulher "Marta tem a melhor proposta para todas as áreas, mas foca muito mais no social. Sempre tem idéia de trabalhar pelas minorias e mulheres"

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