ESPECIAL-Atuação da Embrapa vira instrumento de política externa

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Por FERNANDO EXMAN
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A excelência da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) a transformou em ferramenta da política externa brasileira, reforçando a imagem de liderança solidária do presidente Luiz Inácio Lula da Silva entre países latino-americanos e africanos. Além de prestígio político, os convênios bilaterais de cooperação técnica da Embrapa, que também são feitos com países desenvolvidos, geram oportunidades para empresas brasileiras fornecedoras de insumos, máquinas e equipamentos. "A Embrapa é um instrumento da política externa. A área de cooperação é muito importante", ressaltou o embaixador Luiz Henrique Pereira da Fonseca, diretor da Agência Brasileira de Cooperação (ABC). A instituição é o órgão do Ministério das Relações Exteriores que coordena todos os programas de cooperação técnica internacional mantidos pelo Brasil. Criada em dezembro de 1972 como um órgão do Ministério da Agricultura, a Embrapa foi concebida para desenvolver tecnologias que ajudassem a elevar a produção agrícola nacional. Com o passar dos anos, o Brasil virou uma potência no setor e a Embrapa passou a ser assediada por outros países. Em praticamente todas as viagens internacionais do presidente Lula, seus anfitriões demonstram interesse pelo trabalho da estatal. Não bastasse, a diretoria da empresa recebe por semana até três missões estrangeiras atrás de parcerias. Na terça-feira, por exemplo, os executivos da Embrapa receberam uma comitiva liderada pelo ministro da Agricultura e Desenvolvimento Rural de Israel, Shalom Simhon. Atualmente, a Embrapa mantém parcerias com 49 países. As principais demandas são de tecnologias para a produção de alimentos e biocombustíveis. "A questão alimentar é o grande tema dos dias de hoje e o Brasil tem condições de ajudar muito. Temos o que oferecer nessa área", destacou o diretor da ABC. Em relação ao etanol e ao biodiesel, é de interesse do Brasil que mais países produzam esses combustíveis. Só assim eles virarão commodities. As recentes críticas de que o álcool seria um dos responsáveis pela alta dos preços dos alimentos, no entanto, fez o interesse por projetos no segmento diminuir. VOCAÇÃO HUMANITÁRIA A Embrapa transfere técnicas que elevam a produtividade da agricultura tropical e da produção em áreas de cerrado ou savana. Grande parte dos países em desenvolvimento encontra-se em regiões com esses tipos de vegetação. Em outros convênios, o foco é o conhecimento de sistemas e dinâmicas da criação de animais. É o caso da Venezuela, que recebeu a ajuda da Embrapa para implementar projetos de avicultura familiar. A empresa também é procurada para auxiliar no fortalecimento de centros de pesquisas, como acontece com o Instituto de Inovação Agropecuária da Bolívia e entidades de Angola e do Congo. "O Brasil tem uma vocação humanitária. Temos obrigação de transferir conhecimentos, particularmente a países da América Latina e da África. A Embrapa recebeu ajuda dos EUA em seu começo", comentou o chefe da Assessoria Internacional da instituição, Elisio Contini. "Isso coaduna com a política externa brasileira. Somos executores das políticas do governo. Se conseguimos ajudar esses países, não é de graça. Eles serão gratos. Quando precisarmos, irão nos ajudar", acrescentou. Para o embaixador de Honduras em Brasília, Victor Manuel Lozano Urbina, a Embrapa é reconhecida como a maior instituição latino-americana de pesquisa em tecnologia agropecuária e uma das maiores e melhores de todo o mundo. A internacionalização da instituição, argumentou o diplomata, aproxima o Brasil de outros países. "O Brasil é o líder da América Latina. O presidente Lula está consolidando uma liderança que é indiscutível", destacou o embaixador. "Queremos uma sede da Embrapa na América Central. Os presidentes da região discutirão isso com o presidente Lula no fim do ano, em Salvador." A Embrapa já abriu um escritório em Gana. JANELA DE OPORTUNIDADES As parcerias bilaterais de cooperação também beneficiam a Embrapa. Os pesquisadores da instituição têm acesso a novas tecnologias em países desenvolvidos, que depois são trazidas e empregadas no Brasil. Por isso, a Embrapa matém equipes de pesquisadores em instituições dos Estados Unidos, França e Holanda. "Ganhamos conhecimento e levantamos o nível e a qualificação dos nossos pesquisadores. Nosso objetivo final é manter a competitividade do agronegócio brasileiro no futuro", declarou Contini. Além da aproximação política, a presença da Embrapa no exterior gera oportunidades de negócios para empresas brasileiras. Quando a instituição de pesquisa ajuda os países a aumentarem a produtividade no campo, a demanda por equipamentos tende a aumentar. A Dedini Indústrias de Base, que produz máquinas e unidades completas para os setores de etanol e alimentos, é uma das beneficiadas. Segundo o diretor de Exportações da companhia, Antonio Carlos Pereira, a ida da Embrapa a Angola, Moçambique e Nigéria, despertou o interesse do empresariado local pelos produtos da Dedini. O executivo reclama, no entanto, da falta de entrosamento entre os setores público e privado. "O trabalho da Embrapa é muito bom, mas ela age sozinha e nós também. É preciso uma maior sinergia. O ganho seria muito maior", ponderou Pereira.

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