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Escutas do caso Detran-RS deixam governo na defensiva

Por Elder Ogliari
Atualização:

Uma audição pública de 34 escutas telefônicas feitas pela Polícia Federal durante o ano passado voltou a colocar hoje a oposição na ofensiva contra o governo do Rio Grande do Sul na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga uma fraude de R$ 44 milhões no Departamento Estadual de Trânsito (Detran-RS). Ao final da reunião extraordinária, 11 dos deputados assinaram um requerimento apresentando por Elvino Bohn Gass (PT) para convocar o secretário-geral de governo, Delson Martini, a prestar depoimento. O pedido será votado na sessão da próxima segunda-feira, mas como foi feito pela maioria, sua aprovação é tida como certa. Martini foi citado em algumas das gravações ouvidas pelos integrantes da CPI e por cerca de 50 pessoas que abarrotavam o plenarinho da Assembléias Legislativa. Uma das conversas mostrou o ex-diretor da Companhia Estadual de Energia Elétrica (CEEE), Antônio Dorneu Maciel, orientando o ex-presidente do Detran, Flávio Vaz Neto, a ir a um evento em Esteio, na região metropolitana de Porto Alegre, e esperar por uma oportunidade para perguntar para a governadora se deveria tomar instruções com Martini em meio às pressões que sofria para manter alguns prestadores de serviços superfaturados à autarquia. "Se tu tiveres chance, ela dando um pequeno espaço, pergunta ''sigo orientação do Delson?''", diz Maciel num trecho da conversa. Maciel e Vaz Neto estão entre os 40 réus do caso em processo aberto na semana passada e em depoimentos já dados à CPI asseguraram que não participaram do esquema e que vão provar inocência na Justiça. Como haviam prometido que assinariam o requerimento se ouvissem citações a Martini nas escutas, os deputados Cassiá Carpes (PTB) e Alexandre Postal (PMDB) foram desafiados por Bohn Gass e cumpriram a palavra, dando maioria à oposição. Na seqüência, até o relator Adilson Troca (PSDB) concordou com a convocação e também colocou seu nome. Para Bohn Gass, a escuta revelou que a governadora Yeda Crusius sabia da fraude. "É o desmoronamento político de um governo inteiro", proclamou. O presidente da CPI, Fabiano Pereira, também do PT, foi mais cauteloso. "Martini poderá nos dizer se houve intermediação da governadora para fazer orientações sobre o esquema", comentou. Postal sustentou que o secretário deve prestar esclarecimentos, mas não vê motivos para acusar Yeda de envolvimento. Resposta Logo depois da audição, Martini resolveu falar, quebrando o silêncio que mantinha desde o início da CPI, em fevereiro. "O fato de aparecer o meu nome citado por terceiros não é de minha responsabilidade", ressaltou, atribuindo os diálogos a possíveis tentativas de obter audiências com a governadora. "A Polícia Federal investigou durante meses e nenhuma das conversas gravadas disse que eu estava envolvido". A resposta da governadora à manifestação de Bohn Gass foi dada pelo porta-voz Paulo Fona. "O deputado terá de esperar até 2010 para tentar novamente derrotar a governadora nas urnas", afirmou. Fona também não deu importância à menção de integrantes do governo gaúcho nas conversas telefônicas gravadas pela Polícia Federal. "As citações de terceiros não são relevantes". Segundo a Polícia Federal, a fraude no Detran começava pela contratação de fundações ligadas à Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) para a elaboração e aplicação de testes de habilitação de motoristas. Os serviços eram terceirizados para empresas e superfaturados. Os lucros ilegais eram distribuídos entre dirigentes das empresas, fundações e Detran. O esquema funcionou de 2003 a 2007.

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