Escândalo do mensalão derrubou diretoria em 2005

Para CPI dos Correios, fundo de pensão teve perdas propositais com o objetivo de alimentar esquema

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Por Vannildo Mendes
Atualização:

O Real Grandeza teve toda a diretoria destituída em setembro de 2005, por seu suposto envolvimento nos escândalos detectados pelas CPIs dos Correios e do Mensalão. Com aplicações temerárias via instituições de segunda linha, o fundo deu um prejuízo estimado na época em mais de R$ 150 milhões aos seus contribuintes. A CPI dos Correios, por exemplo, indicou que o prejuízo nas aplicações era proposital e que parte dos supostos lucros auferidos por um grupo de especuladores do esquema era desviado para financiar o mensalão, espécie de mesada paga a partidos e parlamentares da base aliada no primeiro mandato do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Entre 2003 e 2004, as aplicações do fundo somaram R$ 336 milhões, sendo que 54% das aplicações foram centradas em três bancos menores. Produzido por uma sub-relatoria específica sobre os fundos de pensão, o Volume III do relatório final da CPI do Mensalão, realizada em 2006, também dedica um capítulo com mais de 50 páginas ao modus operandi usado pelo grupo, do qual faria parte o Real Grandeza, para fabricar o dinheiro necessário ao pagamento dos mensaleiros, mediante desvio de recursos de grandes fundos de pensão de empresas estatais. O esquema, segundo o relatório, teve um operador financeiro - o publicitário Marcos Valério de Souza - e um político, Delúbio Soares, ex-tesoureiro do PT. Eles eram auxiliados por um grupo de especuladores do mercado financeiro, integrado por corretoras de valores, doleiros e investidores. "Real Grandeza apresentou substantivo volume de investimentos nos bancos Santos, BMG e Rural" nesse período, contatou o relatório da CPI dos Correios, referindo-se aos bancos envolvidos. Além do Real Grandeza, os fundos de estatais que também teriam participado do esquema seriam o Refer (dos funcionários da antiga Rede Ferroviária), Portus (Companhia Docas), Centrus (Banco Central) e Nucleos (Eletronuclear). Esses fundos, conforme as investigações dos parlamentares, teriam participado de uma cascata de operações financeiras forjadas, todas guardando semelhança entre si no mercado futuro de índices. A CPI concluiu que os problemas tinham na origem o aparelhamento partidário dos fundos, que tiveram suas diretorias, sobretudo financeiras, ocupadas por indicação política. Coube ao então ministro José Dirceu nomear as diretorias do Real Grandeza, Refer e Nucleos. Ele negou a acusação na CPI. O relatório observa que "profissionais sem preparo adequado" eram nomeados por critério partidário. Essas nomeações teriam fragilizado os mecanismos de controle interno e o cenário montado teria permitido "investimentos de alto risco", além de "rentabilidades negativas".

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