BRASÍLIA – O presidente da Agência Brasileira de Promoção de Exportações (Apex), Mário Vilalva, foi demitido nesta terça-feira, 9, depois de uma queda de braço com dois diretores ligados ao ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, e com o próprio chanceler. A saída de Vilalva foi interpretada como uma vitória de Araújo na disputa de poder travada com militares na agência.
A demissão foi anunciada pelo Itamaraty em nota. Em entrevista ao Estadão/Broadcast, Vilalva acusou Araújo de ter dado um “golpe”, ao mudar o estatuto da Apex sem consultá-lo. O novo texto do estatuto retira poderes do presidente e amplia a força de seus diretores.
Na nota, o próprio Araújo anuncia a exoneração de Vilalva, que também é diplomata de carreira e foi embaixador do Brasil na Alemanha e no Chile. Ele não informa quem será o próximo diretor. Segundo o Estadão/Broadcast apurou, Araújo defendia colocar o atual diretor de Gestão da agência, Márcio Coimbra, na presidência, mas Bolsonaro prefere um diplomata, o que deve prevalecer.
Exonerado um dia depois da troca de comando no Ministério da Educação, Vilalva foi o segundo presidente da Apex a ser demitido no governo Bolsonaro. Ainda em janeiro, o primeiro escolhido do presidente para o cargo, Alexandre Carreiro, foi dispensado depois de apenas uma semana no cargo.
Nos dois casos, a disputa foi a mesma. Tanto Carreiro quanto Vilalva bateram de frente com a diretora de Negócios da Apex, Letícia Catelani. Carreiro se opunha a demissões defendidas por Letícia.
Com Vilalva, a briga atingiu também a renovação de contratos e nomeação de pessoal. A disputa começou depois que Letícia e Coimbra se recusaram a assinar a renovação de contrato com uma empresa contratada para a participação da Apex em feiras como de design em Milão, na Itália.
Vilalva defendia a renovação, mas os diretores se recusavam com o argumento de que a empresa havia sido citada na Lava Jato. Eles também não assinavam a contratação de pessoas indicadas pelo presidente, e vice-versa, o que levou várias pessoas a trabalharem na agência temporariamente, sem serem nomeadas.
Coimbra e Letícia são da “cota” de Ernesto Araújo – a Apex é subordinada ao Itamaraty – e têm o apoio do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP). Segundo interlocutores, Araújo pediu a Bolsonaro que Vilalva fosse retirado do cargo antes de viajarem a Israel e, para isso, ofereceu postos em embaixadas, para não parecer que o embaixador foi demitido.
Vilalva não aceitou. “Eu não estou à venda, não estou aqui para amanhã ser comprado”, afirmou, na entrevista ao Estadão/Broadcast. Procurados, Vilalva, Letícia e Coimbra não se pronunciaram.
Vilalva havia colocado ‘interventor’ na agência
Em outro episódio, Letícia decidiu não renovar um contrato, o que deixou de fora ações da Apex no Festival de Cannes, em maio. A participação brasileira era parte de um convênio firmado entre a Apex-Brasil e o Sindicato da Indústria Audiovisual do Estado de São Paulo (Siaesp).
Vilalva, então, baixou uma portaria em que retirou poder dos outros diretores e levou reclamações até o ministro da secretaria-geral do Governo, general Carlos Alberto dos Santos Cruz. Na sequência, Santos Cruz decidiu colocar na agência o general Roberto Escoto como uma espécie de “interventor”. A nomeação do general agravou ainda mais a crise. Ele levou a Santos Cruz e a Bolsonaro pedido para que Coimbra e Letícia fossem os demitidos.
Bolsonaro não comenta demissão, diz porta-voz
O presidente Jair Bolsonaro não vai comentar a demissão do presidente da Apex. Segundo o porta-voz da Presidência, Otávio do Rêgo Barros, a exoneração é responsabilidade do chanceler Ernesto Araújo e questões sobre o assunto devem ser dirigidas a ele. “O presidente não faz comentários sobre as ações de instâncias que estão subordinadas aos seus ministros”, respondeu ao ser questionado se Bolsonaro fez algum tipo de orientação sobre a escolha do sucessor de Vilalva. /COLABOROU JULIA LINDNER