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Era Lula consagra república sindical

Setor acumula cargos estratégicos e mais de uma dezena de vitórias

Por Ricardo Brandt e Wilson Tosta
Atualização:

Com a regulamentação das centrais sindicais, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva acaba de consagrar seu governo como o que mais benefícios concedeu aos sindicalistas. Cinco anos após sua eleição, mais de uma dezena de conquistas podem ser listadas, como reflexo direto de suas origens, mas também da massiva ocupação de cargos de comando na máquina federal por ex-sindicalistas. Uma pesquisa coordenada por Maria Celina D?Araújo, da Fundação Getúlio Vargas, indica que 45% dos cargos de alto comando dentro do governo estão hoje nas mãos de sindicalizados - enquanto a média nacional é de apenas 14%. A vantagem oferecida por Lula na semana passada às centrais sindicais - livrando-as da fiscalização do Tribunal de Contas da União (TCU) - é apenas uma das benesses conquistadas pela categoria como fruto desse espaço obtido. Mas há muitas outras vitórias, como o acordo que fixou uma política de reajuste para o salário mínimo até 2023 com reajuste indexado à inflação e ao crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), a correção da tabela do Imposto de Renda ou mesmo a garantia de que os trabalhadores terão assento nos conselhos das estatais. "Nos governos anteriores, era a tropa de choque que nos recebia em Brasília, não era o presidente. Agora, a gente faz uma manifestação e o presidente nos recebe, coloca ministro para receber, dialoga, estabelece processo de negociação", afirma José Lopez Feijóo, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC e ex-companheiro de manifestações nas portas das fábricas do presidente. "Foram essas negociações que resultaram na política do salário mínimo, no envio para o Congresso da convenção 151 e 158 da OIT (Organização Internacional do Trabalho), sobre negociação coletiva no setor público e contra demissões sem justa causa na iniciativa privada. Então, veja, há uma postura diferenciada em relação aos movimentos sociais", conclui Feijóo. A força dos sindicalistas, com cada vez mais espaço e cargos, pode ser verificada também com a pressão exercida pelo setor para impedir a votação de reformas, como a da Previdência e a trabalhista. RUPTURA O risco de ruptura entre Lula e as bases sindicais chegou a existir no início do primeiro mandato, quando nomeou como ministros o banqueiro Henrique Meirelles e o industrial Luiz Fernando Furlan. No segundo mandato, já com a presença do PDT na base, Lula voltou a se aproximar dos trabalhadores e conseguiu pôr do mesmo lado do ringue rivais históricos, como a Central Única dos Trabalhadores (CUT), ligada ao PT, e a Força Sindical, ligada ao PDT. "O movimento sindical tem conquistas históricas no governo Lula e tem ampliado seu espaço, pois agora pode ser ouvido pelo presidente", afirma o presidente da CUT, Artur Henrique Santos. CONTRAPONTO A presença de ex-sindicalistas no governo trouxe vitórias para a máquina sindical, mas poucas conquistas que beneficiaram diretamente os trabalhadores assalariados. A análise é do professor de ciências políticas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Armando Boito Júnior, pesquisador do assunto. Ele afirma que o governo do presidente-trabalhador ajudou apenas a "burocracia sindical". "A presença de sindicalistas não tem resultado numa política favorável aos trabalhadores assalariados. Tem trazido, sim, vantagens para as diretorias sindicais, para a burocracia sindical", salienta Boito Júnior. Na opinião do professor, o fundamental não é ver que cargos esses ex-sindicalistas ocupam, mas "o conteúdo das medidas de política econômica e social que essas pessoas implementam" e verificar a quais interesses atendem ou contrariam. "Se olharmos para o conteúdo das medidas implementadas, o sindicalismo brasileiro, a despeito de o governo ter na sua equipe muitos sindicalistas, não ganhou muito com isso."

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