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Equipe econômica tem sucesso e está ´blindada´, diz Lula

A jornalistas, presidente deixou claro que manterá Mantega, Bernardo e Meirelles, e disse não ter pressa na reforma ministerial. Leia os principais pontos da conversa

Por Agencia Estado
Atualização:

No momento em que os mercados financeiros passam por turbulência e a política monetária conduzida pelo Banco Central enfrenta críticas, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assegurou que não haverá mudanças na equipe econômica do governo. "A área econômica está blindada pelo sucesso dela?, disse ele nesta quinta-feira, 1º. Mesmo sem citar o nome de nenhum integrante do primeiro escalão, Lula deixou claro que serão mantidos o presidente do BC, Henrique Meirelles, e os ministros da Fazenda, Guido Mantega, e do Planejamento, Paulo Bernardo. A afirmação foi feita durante café da manhã no Palácio do Planalto com um grupo de 11 jornalistas. Ao longo do encontro, o presidente descartou a possibilidade de disputar um terceiro mandato, confirmou não ter pressa em realizar a aguardada reforma ministerial e disse que a Petrobras deve atuar para garantir o abastecimento de um futuro mercado global de biocombustível. Confira os principais pontos da conversa: Política econômica - Ao confirmar a permanência da equipe econômica, o presidente afirmou que o País vive uma fase especial. "Desde a proclamação da República, os fundamentos da economia não estavam tão sólidos", avaliou, apontando o elevado nível de reservas do Brasil como uma garantia para resistir às oscilações dos mercados financeiros. Lula lembrou de uma viagem à Índia, na qual ficou admirado ao saber que as reservas daquele país eram de US$ 100 bilhões. "Fiquei pensando: será que algum dia teremos US$ 100 bilhões?", recordou. "Taí, nossas reservas agora estão em US$ 100 bilhões. Isso é uma conquista." Responsabilidade econômica - O presidente repetiu que não há "solução mágica" para destravar o País e considerou superados os tempos em que a política econômica sofria periodicamente guinadas bruscas. "Durante décadas, fomos irresponsáveis. Agora não custa nada sermos responsáveis por pelo menos uma década", disse. "Sou eu que me exponho e ninguém mais do que eu quer andar de cabeça erguida pelo mundo. O Brasil começa a ser visto como um país sério. Estamos a um fio de chegar lá." Crescimento do PIB - Indagado sobre o crescimento de apenas 2,9% do Produto Interno Bruto (PIB) registrado no ano passado, o presidente admitiu novamente que o desempenho foi aquém do que ele desejava. Mesmo assim, assegurou que o País está no rumo certo. Lembrou que o desenvolvimento do Brasil foi bem mais acelerado em pelo menos dois períodos - durante o governo JK e ao longo do regime militar. "Mas não houve distribuição de renda", frisou. "Agora as bases sociais estão colocadas para um crescimento com mais responsabilidade social." Gastos públicos - Lula reafirmou a intenção de, em seu segundo mandato, ampliar as despesas do governo, porém garantiu que não fará isso de forma irresponsável: "Não vou gastar mais, vou investir mais." Ele propôs uma comparação para deixar clara a distância entre as duas atitudes: é a mesma diferença entre pagar aluguel e comprar a casa própria. "No começo da vida, eu alugava uma casinha no Moinho Velho, lá em São Paulo. Pagava algo como R$ 100 e esses R$ 100 não voltavam mais", contou. "Depois, consegui um dinheiro e comprei uma coisinha no Parque Bristol. Foi investimento numa coisa minha." Terceiro mandato - A uma pergunta sobre a possibilidade de disputar um terceiro mandato em 2010, Lula reagiu: "É muito improvável. É inexeqüível." Os jornalistas insistiram: "É improvável, mas não impossível?" O presidente foi, então, mais categórico: "Coloquem que é impossível. Seria brincar com a democracia. Não tem hipótese. Disputei dentro das regras e vou respeitar as regras." Lula apontou como seu objetivo político "terminar o segundo mandato em condições melhores do que o primeiro e ter influência na eleição de um companheiro". Fechou o raciocínio com um comentário que pareceu uma estocada no antecessor, Fernando Henrique Cardoso, que em 2002 teve presença escassa na campanha do candidato do PSDB ao Planalto, José Serra: "Nada pior para um político do que ver que seus pares não querem vê-lo em cima do palanque." Reforma ministerial - Não há pressa para realizar a aguardada reforma ministerial, confirmou Lula, lembrando não ter conversado ainda com o presidente do PT, Ricardo Berzoini. "Vou conversar no sábado, no domingo, qualquer dia desses", disse. "Nunca estive numa situação tão favorável. Não há pressão. Estou à vontade." De acordo com o presidente, seus aliados compreendem que é preciso haver espaço para todas as forças que apóiam o governo. "Eles podem pedir o que quiserem, mas sabem que a última palavra tem que ser do presidente, com base no interesse do País", garantiu. Segundo mandato - O presidente insistiu que se julga agora, no segundo mandato, numa situação mais confortável do que antes. "Sinto uma boa vontade que não senti durante o primeiro mandato", avaliou. Ele admitiu ter ficado contrariado com o fato de as eleições de 2006 terem sido definidas apenas no segundo turno, porém diz haver concluído que esse fato foi "uma dádiva de Deus", por ter permitido a aglutinação de forças antes dispersas. "Há casos de gente que trabalhou contra que acabou ficando a meu favor." Segurança pública - Na avaliação do presidente, não há solução fácil para reduzir os altos índices de violência do País e, por isso, o poder público não deve tomar decisões com base em impulsos motivados pelas tragédias que vêm ocupando o noticiário. "O ser humano pode agir emocionalmente e ter o desejo de descarregar uma arma na cabeça de quem pratica certas barbaridades. Mas o Estado não pode agir assim", defendeu. Para ele, é preciso oferecer oportunidades para a juventude do País. "A sociedade tem mais jovens interessados em crescer com honestidade do que jovens como aqueles que arrastaram uma criança", disse, numa referência ao assassinato brutal do menino João Hélio, no Rio. "É claro que há jovens desgarrados, no caminho da perdição, mas há muita gente pobre e bem encaminhada." Responsabilidade social - A iniciativa privada, segundo Lula, precisa assumir a responsabilidade de oferecer oportunidades à juventude e contribuir para reduzir a criminalidade. "O que custa para a Volkswagen, por exemplo, contratar 50 jovens? O que custa para o Grupo Gerdau contratar dez jovens em cada uma de suas unidades? Nada", afirmou, ressaltando que seu objetivo é incutir uma idéia na cabeça dos empresários: "Eu também tenho responsabilidade, eu também posso ajudar." Reforma tributária - Segurança pública e educação, de acordo com Lula, serão os temas principais do encontro que ele terá com governadores na próxima terça-feira. O presidente reconheceu, porém, que não deixará de falar sobre a reforma tributária. Para ele, o mais importante nessa área é estabelecer mudanças nas regras do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), o principal tributo estadual. "Reforma tributária é como combate à fome: todo mundo fala dela, mas quase ninguém faz. Nesse caso, a parte dos governos estaduais ainda não foi feita", disse. "Não é possível pensar apenas no que cada Estado vai perder ou ganhar. Se o Brasil ganhar, todos os Estados vão ganhar." Produção de biocombustíveis - Lula apontou como prioridade nas relações com os Estados Unidos a parceria para a produção de biocombustíveis e confirmou que esse será o ponto central do encontro que terá na semana que vem com o presidente dos EUA, George W. Bush. "Está provado que o mundo não precisa ficar dependente do petróleo", afirmou. Para tanto, o presidente considera que a Petrobras deve ter papel primordial na construção de um mercado global de etanol. "A Petrobras vai ter que entrar nisso. Precisamos ter um mecanismo regulador para garantir o abastecimento", disse. "Não é possível, por exemplo, fechar um acordo com o Japão e faltar etanol nos postos japoneses porque não houve produção." Relação com os EUA - Os Estados Unidos foram apontados por Lula como um parceiro estratégico. Para ele, o momento é favorável a isso. "Os EUA cometeram o erro histórico de, durante muito tempo, não darem atenção à América Latina", afirmou. "E o Brasil cometeu o erro de ser subserviente durante décadas. Nenhum interlocutor respeita a subserviência." Agora, segundo o presidente, o País está pronto para aprender com os Estados Unidos, mas também para ensinar.

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