PUBLICIDADE

Episódio reprisa roteiro do caso Vedoin

Nos dois cenários, Lula vivia bom momento e terminou na mira da oposição

PUBLICIDADE

Por Isabela Salgueiro e Guilherme Scarance
Atualização:

Dois momentos do governo Lula, separados por 1 ano, 5 meses e 3 dias, mostram como reunir munição contra adversários pode ter efeitos imprevisíveis. O dossiê Vedoin e o dossiê dos cartões, que culminaram com um tiro no pé em plena eleição presidencial, no primeiro caso, e efeitos colaterais para a ministra de maior visibilidade, no cenário atual, têm várias similaridades: mobilização de pessoas próximas do núcleo do poder, vazamento de dados à imprensa e versões conflitantes. Nas duas ocasiões, o presidente Lula vivia fases extremamente favoráveis, até a artilharia da oposição começar a causar estrago. Em 14 de setembro de 2006, quando a Polícia Federal prendeu o ex-agente Gedimar Passos e o ex-arrecadador de campanhas do PT Valdebran Padilha perto do Aeroporto de Congonhas, em São Paulo, com R$ 1,75 milhão para a compra de um dossiê contra políticos tucanos, as pesquisas davam como certa a reeleição de Lula no primeiro turno. Atingira 50% das intenções de voto, em curva ascendente, segundo o Ibope. O tucano Geraldo Alckmin tinha 29%. No último levantamento daquele mês, porém, Lula já caíra para 45% e Alckmin atingira 34%. A vitória veio, mas só em segundo turno. Em janeiro deste ano, começou a se desenhar uma nova crise, agora em torno dos cartões corporativos. Primeiro, derrubou a ministra da Igualdade Racial, Matilde Ribeiro. Sob ameaça de CPI, o Planalto ordenou a coleta de dados da gestão Fernando Henrique, segundo revelou o Estado, em 19 de fevereiro. O dossiê vazou para a revista Veja. Descobriu-se que a ordem para coleta das informações veio do Ministério da Casa Civil, de Dilma Rousseff. Essa crise, que ainda não aponta para um desfecho no curto prazo, também atinge Lula, que comemora o aumento da classe C no País, a aprovação inédita de 58% (CNI/Ibope) e a exposição da pré-candidata Dilma, a "mãe do PAC". RAMIFICAÇÕES O primeiro dossiê, no rastro da Operação Sanguessuga - na qual a PF desbaratou um grupo ligado à família Vedoin -, respingou em Oswaldo Bargas (ajudou a elaborar o programa de governo de Lula), Jorge Lorenzetti (da "Abin do PT", amigo e churrasqueiro do presidente) e Freud Godoy (ex-assessor e segurança de Lula), entre outros. Desta vez, além de Dilma - que sexta-feira teve de dar explicações e já foi convocada a depor no Senado -, a crise atingiu a secretária-executiva, Erenice Guerra, e reacendeu uma CPI que começara morna. As versões conflitantes permearam os dois escândalos. No caso Vedoin, o governo e os citados primeiro negaram com veemência as irregularidades. Por fim, Lula tachou de "aloprados" os envolvidos. Desta vez, a negativa evoluiu para a versão de que o governo montou um " banco de dados", não um dossiê. "A matriz é a mesma", critica o líder do PSDB na Câmara, José Aníbal (SP). "Tentam desqualificar o adversário com dossiê. É péssimo, antidemocrático. Um vale-tudo muito preocupante", diz o tucano. O líder do PT na Câmara, Maurício Rands (PE), destaca que a única similaridade com o caso Vedoin é a forma como reage uma parte do setor político, que alcunha de "baião de dois". "Ora obstrui a pauta, ora faz CPI", diz. "Procuram maximizar fatos e dar dimensão de crise." Apesar da alta temperatura no Congresso, ele não vê risco de a base dar tiros no pé.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.