Enzima ativada é nova arma contra o tabagismo

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Por Agencia Estado
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A facilidade com que algumas pessoas abandonam o cigarro mesmo depois de fumar anos a fio nem sempre é fruto apenas de uma boa dose de força de vontade. Muitos têm a seu favor uma alteração no metabolismo, na atividade da enzima CYP2A6. A partir dessa constatação, pesquisadores desenvolveram um método para ajudar no combate ao tabagismo, agora testado na Universidade de Toronto. A CYP2A6 é encarregada de tornar inativa a nicotina - uma das principais causadoras da dependência do cigarro. Em algumas pessoas, porém, ela é mais vagarosa. A alteração vem a calhar. Com o processamento mais lento, a nicotina fica durante um período maior no corpo. Uma proteção e tanto quando a pessoa está aprendendo a fumar. "Como os níveis da nicotina permanecem altos nesse grupo, são mais freqüentes sintomas como náuseas e tonturas", diz professora do Departamento de Farmacologia da Universidade de Toronto, Rachel Tyndale. Diante dessas reações, o mais comum é a pessoa pensar duas vezes antes de acender outro cigarro. Mas, mesmo no grupo que insistiu nessa fase e tornou-se fumante, a enzima continua exercendo um papel protetor. Com o metabolismo funcionando em marcha lenta, essas pessoas sentem necessidade de acender um cigarro com menor freqüência das que têm a enzima funcionando em ritmo normal. "Dependentes de nicotina são como máquinas, que fumam para manter sempre estável o nível dessa substância", diz. O grupo de Rachel vem fazendo testes para tentar bloquear a ação da CYP2A6 em pessoas cuja atividade da enzima é normal. "Como um túnel cheio de nicotina, que fica com as saídas bloqueadas", compara a pesquisadora. Os resultados têm sido favoráveis: menos necessidade de nicotina, menos cigarro. Rachel acredita que dentro de algum tempo o bloqueador possa ser usado no tratamento contra o fumo. Opções A médica do ambulatório de tabagismo do Instituto do Coração, em São Paulo, Jaqueline Scholz, admite ser imprescindível aumentar as opções de tratamento contra a dependência. Com os recursos hoje existentes, diz, os índices de sucesso são acanhados: somente 20% depois de um ano de terapia. As conseqüências da síndrome da abstinência, como irritação, falta de sono ou de concentração, são alguns dos principais fantasmas de quem está parando de fumar. Este, no entanto, é um problema menor, afirma o vice-coordenador do Previfumo, serviço da Universidade Federal de São Paulo que oferece tratamento para quem quer parar de fumar, Sérgio Ricardo Santos. Santos garante que, com reposição de nicotina e alguns medicamentos, todos esses problemas são fáceis de contornar. Para Santos, o desafio maior é banir a associação do cigarro a determinadas situações da vida. "Para algumas pessoas o fumo está intimamente ligado a situações de prazer, para outras, é uma forma de lidar com o stress", explica. Em cada um desses grupos é preciso oferecer mudanças de rotina para que o cigarro não seja mais lembrado. "Para cada grupo, uma solução" diz.

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