ENTREVISTA-Mangabeira lamenta ter trabalhado para o Opportunity

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Por FERNANDO EXMAN E ISABEL VERSIANI
Atualização:

O ministro Roberto Mangabeira Unger, da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência, disse nesta sexta-feira se arrepender de ter trabalhado para o grupo Opportunity, ligado a Daniel Dantas. "A resposta é sim, eu me arrependo", afirmou à Reuters, quando questionado sobre como se sentia em relação ao seu envolvimento com o Opportunity, com quem manteve relações profissionais antes de se tornar ministro. "Eu deveria ter seguido o conselho dos meus colegas de separar. Eu tive atividades profissionais no Brasil porque queria ter engajamentos no Brasil. Deveria ter separado, como todo mundo me aconselhou a fazer: ter atividades profissionais fora ganhando muito mais e reservar o Brasil para as minhas grandes iniciativas cívicas." Mangabeira representou a Brasil Telecom nos Estados Unidos antes de se tornar ministro em 2007. Na época, a companhia telefônica era controlada pelo Opportunity. Dantas foi um dos alvos da Operação Satiagraha, realizada pela Polícia Federal (PF) no mês passado. Segundo a PF, ele é suspeito de ter cometido evasão de divisas e tráfico de influência, entre outros crimes. Para o ministro, não restam dúvidas de que suas relações profissionais com Dantas não existem mais. "As minhas atividades profissionais privadas já esclareci todas. Quando tomei posse, vieram com questionamentos. Agora, repetiram tudo que tinham questionado. Está 200 por cento esclarecido." Na semana que vem, a Comissão de Ética Pública do Executivo deve analisar informações sobre o suposto envolvimento de autoridades do governo com o esquema liderado por Dantas. Além do ministro, foi citado pela Polícia Federal o chefe de gabinete do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Gilberto Carvalho. A CPI da Câmara sobre Escutas Telefônicas também tratará do assunto. Na semana que vem, ouvirá o delegado Protógenes Queiroz, que deixou a direção das investigações da Operação Satiagraha. O depoimento de Daniel Dantas está marcado para a semana seguinte. Mangabeira disse que o retorno do caso à pauta não o preocupa. "Não há no governo brasileiro ou fora do governo brasileiro ninguém mais radical do que eu em afirmar a importância de uma muralha intransponível entre o privado e o público. Nesse mais de um ano de atividade pública, ninguém me abordou com assunto privado. Nunca ninguém sequer tentou, porque já sabem preventivamente que comigo não", concluiu. (Reportagem adicional de Raymond Colitt e Ana Nicolaci da Costa)

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