ENTREVISTA-Em campanha 'peculiar', Kassab não poupa Alckmin

Por CARMEN MUNARI
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O prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (DEM), em terceiro lugar nas pesquisas de intenção de voto, promete uma "campanha peculiar" para permanecer à frente da prefeitura. Esta é sua avaliação sobre a contradição de liderar uma administração repleta de tucanos e ter de disputar com o PSDB de Geraldo Alckmin nas urnas. Na gestão da cidade, Kassab, assim como seus adversários, tem quase que um pensamento único: as medidas para tentar solucionar o trânsito. Além de ter iniciado um embate para restringir a circulação de caminhões no centro expandido da cidade, Kassab tem uma fixação que é o investimento no metrô. Na campanha eleitoral, enquanto Alckmin, que lidera junto com a ex-prefeita Marta Suplicy (PT) as pesquisas de intenção de voto, afirma que não vê em Kassab um opositor, o prefeito não deixa dúvidas quanto à forma de seu relacionamento com o ex-governador. "Ele é adversário, é evidente, a partir do momento que ele não quis apoiar minha candidatura, ele entendeu que seria melhor outro caminho para a cidade e, portanto, é adversário. Ele escolheu seguir este caminho", disse Kassab à Reuters em entrevista concedida em seu gabinete na sede da prefeitura. Paulistano, 47 anos, Kassab assumiu em março de 2006 quando José Serra (PSDB) saiu para disputar o governo do Estado. Para o prefeito, o PSDB não entendeu que sua candidatura era "natural", por se tratar de reeleição. Alckmin saiu vencedor da disputa interna do PSDB em que uma ala apoiava seu nome e outra pregava a manutenção da aliança e o apoio a Kassab e que tinha o patrocínio do governador José Serra. Vereadores e integrantes da gestão da prefeitura defendiam a continuidade da parceria e agora terão dificuldade em subir no palanque de um ou dos dois candidatos. "O PSDB está no meu governo e portanto as críticas que ele (Alckmin) poderia fazer já teria feito. Ele tem liberdade, se ele tivesse enxergado equívocos teria dito", ironizou o prefeito em sua previsão sobre a postura de Alckmin na campanha. Das 22 secretarias da prefeitura, nove são ocupadas por tucanos, cinco pelo DEM e o restante se divide entre outros dois partidos e secretários sem filiação partidária. Dos 31 subprefeitos, cerca de 20 são do PSDB. Integrantes do DEM chegam a afirmar que 80 por cento da máquina da prefeitura é composta por tucanos. "A relação do PSDB e do DEM na campanha é muito peculiar. Eleitoralmente, existem duas candidaturas, mas não é por isso que não vou considerar o PSDB aliado. Vamos ganhar e vamos continuar com o PSDB", resumiu. Outra coincidência aproxima Alckmin e Kassab: a escolha do marqueteiro Luiz Gonzalez para realizar a campanha do prefeito. Ele foi responsável por três campanhas de Alckmin. Sobre Serra, que deixou a prefeitura para o vice Kassab, o prefeito fala com entusiasmo. Usa termos como gratidão, elogia sua habilidade política e sua integridade. "Há convergência entre nós, e o denominador comum é a cidade de São Paulo. Com essa convergência há aproximação pessoal e política", disse. Quanto ao comportamento de Serra na campanha, se ele apoiará Alckmin ou Kassab, o prefeito se diz tranquilo. "Ele vai saber se comportar com equilíbrio, ele é inteligente." MAIS METRÔ Antecipando-se às possíveis críticas em relação aos cada vez maiores congestionamentos de trânsito em São Paulo, Kassab sai atirando. Para ele, tanto a gestão do ex-governador Alckmin quando a da ex-prefeita Marta deveriam ter investido na expansão do metrô. O prefeito colocou 275 milhões de reais no metrô neste ano e se compromete com um total de 1 bilhão de reais até o final de 2008, último ano de sua administração. Segundo Kassab, desde que o metrô foi repassado ao Estado, há 30 anos, nenhum prefeito havia colocado recursos na rede. Se cada prefeito, nos últimos 30 anos, tivesse investido 1 bilhão de reais, a cidade teria mais 60 quilômetros de metrô, estima Kassab. Para ele, a gestão da cidade é uma questão de prioridade e critica as escolhas da petista Marta, que o antecedeu. "Minha principal crítica (à gestão Marta) é a falta de planejamento. Não entendo que uma administração possa construir CEUs (Centros de Educação Unificada) sem acabar com escolas de lata, não entendo como uma administração pode construir túnel sem dar aumento para professor e médico. Não sou contra túnel e ponte, mas para governar São Paulo tem que ter planejamento." O PT, de seu lado, diz que a gestão Kassab registrou sobra de caixa em todos os anos porque não sabe gastar. Em resposta, Kassab, que tem 36 por cento de avaliação positiva pelo Ibope, aponta suas realizações, entre elas a inauguração de 218 escolas, de 110 AMAs (Assistência Médica Ambulatorial), além de dois hospitais.

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