Entenda o projeto de lei sobre abuso de autoridade

De autoria do senador Renan Calheiros (PMDB-AL), PL deve entrar em discussão nesta quarta-feira na CCJ

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Por Elisa Clavery
Atualização:

Previsto para entrar em discussão na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado na próxima quarta-feira, 29, o projeto de lei sobre abuso de autoridade, que altera a legislação atual, de 1965, divide opiniões de especialistas e levanta polêmicas dentro e fora do Congresso. A proposta, de autoria do senador Renan Calheiros (PMDB-AL), investigado na Lava Jato, ganhou força na Casa no mesmo mês em que o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, enviou ao Supremo Tribunal Federal 83 pedidos de abertura de inquérito com base em delações premiadas de executivos e ex-executivos da Odebrecht. O PL original era de 2009 e foi "desengavetado" em julho do ano passado, porém, na época, Renan não encontrou apoio suficiente entre os senadores para votá-lo.

Senador Renan Calheiros (PMDB-AL) Foto: DIDA SAMPAIO/ESTADAO

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O que é?

De autoria do senador Renan Calheiros (PMDB-AL), o projeto de lei do Senado (PLS 280/16) pretende punir agentes públicos, servidores ou não, que, enquanto exerciam suas funções ou a pretexto de exercê-las, abusaram de seu poder. O projeto define, ainda, o que são esses abusos considerados criminosos.Uma das justificativas é que a Lei n° 4.898, de 9 de dezembro de 1965, relativa ao abuso de autoridade, está defasada. Veja o PL na íntegra

A quem se destina?

Agentes da Administração Pública, como servidores públicos, membros dos poderes Legislativo e Judiciário e membros do Ministério Público.

Polêmica

Em tempos de Lava Jato, o projeto é criticado por membros do Judiciário e do Ministério Público, que temem que o texto seja uma forma de barrar as investigações. Parte da sociedade também é contra o projeto. Em uma consulta pública no site do Senado Federal, 149.575 pessoas votaram contrárias ao projeto de lei, enquanto apenas 2.473 eram favoráveis, segundo dados desta terça-feira, 28. O assunto também virou alvo de protesto do último domingo, 26, em apoio à Lava Jato.

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No Congresso

O apoio ao projeto cresceu após a Operação Carne Fraca da Polícia Federal, que chegou a ser criticada por alguns parlamentares por supostos exageros na divulgação. O relator do texto, senador Roberto Requião (PMDB-PR), entregou, na semana passada, um novo relatório sobre o tema à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e o texto deve ser discutido nesta quarta-feira, 29. "A Operação mostrou o que é o abuso de um delegado e o prejuízo que ele pode causar", disse Requião. 

Penalidades

O projeto prevê seis penalidades diferentes, sendo a maior delas detenção de 2 anos a 6 anos e multa e a mais branda, de 3 meses a 6 meses e multa. São mais de 50 condutas consideradas abusivas, entre elas, “executar mandado de busca e apreensão em casa alheia ou suas dependências, com autorização judicial, mas de forma vexatória para o investigado, ou extrapolar os limites do mandado” e “constranger preso com o intuito de obter vantagem ou favorecimento sexual”.

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Sugestões

O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, encontrou-se nesta terça-feira, 28, com os presidentes do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE), e da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), em Brasília, para entregar um anteprojeto elaborado pelo Ministério Público Federal (MPF) com sugestões para o projeto de lei. Entre as mudanças, Janot sugere que não seja considerada abuso de autoridade a divergência na interpretação Jurídica da lei, além da inclusão de dois novos crimes na tipificação penal - a chamada "carteirada" e o uso abusivo dos meios de comunicação ou de redes sociais pela autoridade encarregada da investigação, que antecipa a atribuição de culpa, antes de concluída a investigação e formalizada a acusação.

Opiniões sobre o PL

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"Não temos medo de lei de abuso de autoridade." (Procurador-geral da República, Rodrigo Janot)

“Independentemente das intenções dos ilustres senadores, uma mudança na lei poderia ser vista como uma tentativa de tolher as investigações.” (Juiz Sérgio Moro) 

Em altaPolítica
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Juiz sem independência não é juiz. É carimbador de despachos, segundo interesses particulares; não garantidor de direitos fundamentais, segundo a legislação vigente.” (Presidente do STF, ministra Cármen Lúcia) --- LINK

"Se for aprovado como está, será o fim da Lava Jato. O MP vai ficar ferido em sua autonomia e praticamente impedido de conduzir qualquer investigação. Pode fechar essa bodega, pois não terá mais sentido a existência do MP. Isso é um insulto às investigações em curso." (Senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP)) 

"Situações de humilhações e abusos que acontecem diariamente justificam a lei. Trata-se de uma chaga incompatível com o sistema democrático. Nenhum agente de Estado está autorizado a usar suas atribuições para ofender, humilhar ou agredir quem quer que seja." (Senador Renan Calheiros, autor do projeto e líder do PMDB na Câmara)

Serão os próprios juízes e tribunais que julgarão os casos, então não há como a proposta ser uma afronta ao Judiciário.” (Senador Edison Lobão (PMDB-MA))

"Ninguém pode se colocar acima da lei.” (Presidente do PT, Rui Falcão)

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