Enquanto caminha, grupo vê investida anti-Dilma murchar

No momento em que tese do impeachment perde força, andarilhos do MBL passam por celebrações e confusões na sua ida até Brasília

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Por Pedro Venceslau
Atualização:

Quase um mês depois de sair de São Paulo com destino a Brasília, a marcha em defesa do impeachment da presidente Dilma Rousseff começa amanhã seu trecho final. Nos próximos dez dias, os 22 andarilhos do Movimento Brasil Livre, um dos grupos que organizaram as manifestações contra o PT e o governo em março e abril, devem cruzar Goiás, entrar em Brasília e protocolar na Câmara no dia 27 um pedido oficial de impedimento. Será o 28.° inscrito nos escaninhos da Casa. Dessa vez, porém, o barulho será grande. Deputados e senadores dos partidos de oposição prometem se somar ao grupo ainda na estrada a tempo de garantir um lugar na foto. A ideia, dizem, é fazer uma entrada triunfal no Congresso em plena quarta-feira. A ação ajudaria a pressionar os que ainda resistem à tese do impeachment. Ou seja: a cúpula dos partidos. "Há uma expectativa de que, com a chegada da marcha, haja uma movimentação mais objetiva pelo impeachment. Creio que a proposta subirá uns dois degraus", avalia o deputado Bruno Araújo (PSDB-PE), líder da oposição na Câmara. Mas apesar do clima festivo, nenhuma legenda garante oficialmente que assinará embaixo e deixará sua digital na história. Os "louros", dizem, serão todos dos exaustos membros do MBL. Para reforçar o apoio, entretanto, eles serão autorizados a usar no pedido os pareceres jurídicos assinados por estrelas do direito (e que foram encomendados e pagas pelos partidos). Na semana que vem, as siglas oposicionistas se reunirão para azeitar a estratégia de trazer o impeachment de volta ao noticiário. Ocorre que embora a maioria dos deputados do PSDB defenda o "Fora Dilma", a tese perdeu força. Segundo dirigentes, os tucanos devem entrar com uma representação por crime de responsabilidade contra Dilma no STF. Sarau e perrengue. Alheios às mudanças de clima político, os ativistas estão vivendo intensamente a experiência. Após caminhadas diárias de até 30 quilômetros, são recebidos nas cidades do interior como celebridades. Com uma agenda previamente preparada por um membro do grupo em São Paulo, os ativistas dão entrevistas em rádios locais, participam de jantares de confraternização com autoridades e são homenageados por vereadores nas Câmaras Municipais. Em Uberlândia, no triângulo mineiro, a celebração acabou em confusão. Vereadores petistas levaram ao plenário da Câmara integrantes do MST de um assentamento próximo enquanto o porta-voz do MBL, Kim Kataguiri, discursava na tribuna. O ativista de 19 anos passou a bater boca com o grupo e chegou a chamar um parlamentar de "covarde" ao microfone. Acabaram saindo da cidade escoltados pela Polícia Militar. Os andarilhos dormem em pousadas ou locais cedidos por maçons e simpatizantes e gravam os melhores momentos dos trajetos com seus celulares. No fim do dia, as cenas são postadas nas redes sociais e compõem uma espécie de reality show. Alguns vídeos atingiram a marca de 80 mil visualizações. "Estamos em uma fase difícil da estrada. Quase não há acostamento", contou Renan Santos, de 31 anos, um dos líderes do MBL, na quinta-feira passada, quando a marcha cruzou a fronteira entre Minas Gerais e Goiás. Santos, que é microempresário da área de tecnologia, afirma que paga suas contas pessoais com dinheiro de uma poupança e ajuda de familiares. Já o MBL conta com uma estrutura profissional na retaguarda. Um ônibus leva toda a parafernália até a próxima parada e um carro de apoio acompanha o grupo. As contas da operação são pagas com doações e a venda de produtos pela internet. Até agora o MBL arrecadou R$ 38.459,27 para a marcha. Vendem por R$ 500 um combo composto por caneca e uma camiseta do grupo autografada pelo comediante Danilo Gentili. Nas horas de descanso, o grupo faz saraus ou discute teoria política. Três ativistas se revezam ao violão tocando clássicos de Bob Dylan e Raul Seixas. Entre os autores preferidos dos saraus o mais popular é o filósofo liberal John Locke, e o alemão Eric Voegelin, um feroz crítico de Karl Marx. "Marx a gente não lê, mas canta nas musiquinhas. Não dá para levar ele a sério", diz Santos. As bebidas alcoólicas são liberadas, mas para aguentar a caminhada eles dificilmente passam de duas latinhas de cerveja. Com apenas três mulheres no grupo de 22, a marcha já registrou alguns romances. Antes de entrar no Congresso, os andarilhos montarão acampamento em um parque em Brasília para receber as caravanas de todo País. "É uma coisa meio hippie, embora isso seja coisa de esquerda. Será tipo um acampamento hippie liberal. A gente não gosta do termo direita", afirma Santos.

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