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Enfraquecidos, professores desistem de pedir gratificação

Por Agencia Estado
Atualização:

Acuados por resistências nos câmpus das federais do Rio de Janeiro (UFRJ), Pernambuco (UFPE), Rural de Pernambuco (UFRPE) e São Carlos (UFSCar), os líderes da greve dos professores ficaram enfraquecidos e desistiram de pedir a incorporação ao salário da Gratificação de Atividade Executiva (GAE). A exigência era o principal entrave nas explosivas negociações entre sindicalistas e representantes do Ministério da Educação (MEC) durante a paralisação, que completa hoje 94 dias. Com isso, ganha força a proposta de reajuste salarial que privilegia doutores e mestres apresentada pela Associação Nacional dos Dirigentes (Andifes) e aceita pelo governo. Pela sugestão dos reitores, docentes com doutorado que recebem hoje 50% a mais que professores sem titulação teriam adicional de 72%. Já os mestres passariam de 25% para 36%. Menos ganhos teriam os profissionais com especialização de 360 horas (12% para 18%) e os que possuem cursos de aperfeiçoamento (5% para 9%). "Entre a proposta da Andifes e o acordo que defendemos só há um ponto diferente", disse José Domingues Godói, do Sindicato Nacional dos Docentes (Andes), que nega a perda de força do Andes. O "ponto" referido pelo sindicalista se chama "incorporação da GAE", uma reivindicação que não está incluída na proposta dos reitores. A incorporação da GAE fechou as negociações e reacendeu a briga entre o Palácio do Planalto e setores do Poder Judiciário, a partir da determinação do governo em bloquear o salário dos grevistas. A ministra Ellen Gracie, do Supremo Tribunal Federal (STF), ainda não julgou o pedido do governo para derrubar liminar do Superior Tribunal de Justiça (STJ) que exigia a liberação do pagamento de outubro. Saída honrosa As aulas foram retomadas em vários locais da UFRJ. O mesmo deverá ocorrer na próxima semana no câmpus da UFSCar. Hoje, a proposta da Andifes foi aceita pelos docentes de Pernambuco. "Eu não acredito que essa seja uma saída honrosa para a categoria, mas uma proposta muito boa", disse o reitor da federal do Espírito Santo (UFES), José Weber Macedo. Ele já apresentou a proposta da Andifes aos docentes de sua instituição. Na noite de quarta-feira, horas depois de os professores da UFRJ decidirem voltar ao trabalho, o presidente do Andes, Roberto Leher, já admitia que a posição dos docentes da maior instituição federal do País havia minado a continuidade da greve. "Foi um duro golpe", afirmou. Por sua vez, o ministro da Educação, Paulo Renato Souza, comemorou a decisão dos professores da UFRJ. Mas garantiu que não sentiu "gostinho especial" pela derrota do Andes justamente na instituição em que leciona o professor Roberto Leher. "Eu não tenho nenhuma alegria nessa greve e nem vontade de vingança de quebrar o movimento", afirmou. Paulo Renato agora vai discutir sobre universidade bem longe dos sindicalistas. Na segunda-feira, ele viajará para Madri, na Espanha, onde fará palestra sobre A universidade na sociedade de aprendizagem mundial, durante seminário na sede da Organização dos Estados Ibero-americanos (OEI). GAE No dia 26 de outubro, os professores estiveram próximos de fechar um acordo de incorporação da GAE que totalizaria uma despesa extra de R$ 363,5 milhões em 2002. O acordo deixava de fora cerca de oito mil professores contratados nos últimos cinco anos - profissionais que não contam com anuênios. Essa proposta foi rejeitada no último instante pelo líder do governo na Câmara, Arnaldo Madeira (PSDB-SP). O MEC, então, encaminhou projeto de lei ao Congresso, que previa reajuste médio de 34% da Gratificação de Estímulo à Docência (GED). O valor dessa proposta, que não vingou, era R$ 100 milhões inferior à reivindicação do Andes. "Com a falta de acordo da GAE, não havia mais saída", disse a professora Beth Aragão, da seção sindical do Andes no Espírito Santo. "Nós mesmos tínhamos proposta alternativa que nunca foi analisada pelas demais assembléias", disse. Segundo ela, o comando nacional tem sido honesto e não errou ao liderar o movimento, mas ficou "aprisionado" pela estrutura do próprio sindicato. As decisões dos líderes são tomadas de acordo com a maioria das 49 seções em greve espalhadas pelo País. Quase todas as assembléias ratificaram decisão de condicionar a volta às salas de aulas com a incorporação da GAE, um "ponto" no jogo de sindicalistas e governo.

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