‘Empresariado enxerga com bons olhos o impeachment’

Presidente da Fiesp diz que fase é de consulta à base industrial, conselho e diretoria da entidade para, então, fechar questão

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Por Pedro Venceslau
Atualização:
Paulo Skaf é presidente da Fiesp e filiado ao PMDB Foto: Daniel Teixeira|Estadão

Principal interlocutor do vice-presidente Michel Temer entre os empresários, o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, que também é um dos caciques do PMDB paulista, decidiu participar da manifestação em defesa do impeachment da presidente Dilma Rousseff que acontece neste domingo na Avenida Paulista. 

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Ele deixa claro, nesta entrevista ao Estado, que apoia com entusiasmo o movimento pelo impedimento de Dilma. “O empresariado, o mercado e a maioria da sociedade veem com bons olhos uma mudança no cenário político”, diz. 

O pedido de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff acolhido pela Câmara tem fundamento jurídico? Dizer que é golpe é uma apelação. O que posso dizer é que as coisas não podem continuar como estão. Há uma grave crise política e a culpa é do governo brasileiro, que perdeu a sua credibilidade. Acho muito difícil o governo resgatar a confiança da sociedade brasileira. 

Posso concluir que o sr. apoia o pedido de impeachment? Como representante das forças produtivas, como empresário e como cidadão, eu digo que essa situação não pode continuar. A crise econômica é decorrente da crise política, que é causada pela total falta de confiança no atual governo. São dois caminhos: ou o governo resgata a sua credibilidade, o que acho impossível, ou haverá a necessidade de mudança. Essa mudança pode ser por meio do impeachment, renúncia ou outra forma. Estender essa situação vai custar muito caro para a nação brasileira. 

Os empresários veem com bons olhos a opção Temer? O empresariado, o mercado e a maioria da sociedade enxergam com bons olhos uma mudança no cenário político. Existem caminhos legais para a opção do impeachment. O governo perdeu a noção, deixou de estar conectado com a realidade da sociedade.

O sr. estará na manifestação deste domingo na Avenida Paulista pelo impeachment? Coincidentemente, neste domingo vamos levar nossa campanha contra o aumento de impostos e a recriação da CPMF para a Avenida Paulista. Vamos levar o nosso pato maior (símbolo da campanha) e recolher assinaturas.

Em um eventual governo Temer, o sr. continuaria defendendo a saída do ministro da Fazenda, Joaquim Levy? Na verdade, o governo não cortou nada de gasto. Todos os programas foram mantidos. O contingenciamento de última hora foi para fazer de conta. (O governo) reduziu oito ministérios para fazer de conta. Os anunciados cortes nos cargos comissionados não aconteceram. 

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Em relação ao Levy... Essa é uma boa pergunta para ser feita ao Michel Temer. 

Mas o sr., como presidente da Fiesp, fez uma campanha pela saída do Levy. Se acontecer (o impeachment), os ministros serão escolhidos pelo presidente da República. A responsabilidade é dele. 

O que achou da carta enviada por Temer a Dilma? A carta foi um movimento importante no tabuleiro político. Deu uma chacoalhada na situação. A população estava preocupada. </CW>

Sua leitura é que foi um rompimento? Foram dois movimentos muito saudáveis: a carta e a substituição do líder do PMDB, Leonardo Picciani. Ele estava barganhando cargos no governo em um momento em que a população brasileira precisa de deputados lutando por ela. O interesse da Nação não é barganhar cargos. O ex-líder foi muito infeliz. Não tenho dúvida que esses dois movimentos foram uma sinalização de rompimento. Foi mais que apenas uma sinalização.

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Quem o sr. acha que fez vazar a carta?  Pelo que se viu nas redes sociais, a carta teve uma repercussão negativa para o Temer. Soube da carta pela imprensa e soube também que ele teria estranhado o vazamento dela. 

Governistas dizem que o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), estaria usando o impeachment para evitar sua cassação. Isso não contamina o processo? Eu estranho muito as pessoas que ligam a aceitação do impeachment à credibilidade do presidente da Câmara. Ele tem a prerrogativa de analisar os pedidos que chegam. 

A Fiesp pretende se posicionar formalmente sobre o impeachment? Pretende ir para a rua institucionalmente?  Estou consultando as bases industriais, a diretoria e o conselho. Pesquisas estão sendo feitas. Se o governo insistir e aumentar impostos e recriar a CPMF, a Fiesp irá para rua. Não faremos cerimônia em defender o melhor para o Brasil. 

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O empresariado quer o impeachment? Maciçamente, o empresariado e os setores produtivos querem mudança. 

Por mudança eu posso entender um novo governo sem a presidente Dilma? Creio que sim. É maciço em São Paulo. O sentimento no País é de mudança. 

Aliados do governo acusam o vice-presidente Temer de estar se articulando, ou mesmo conspirando. Quem fala em conspiração tem interesse em falar isso. São os mesmos que falam em golpe e que talvez estejam dando um golpe na Nação. Temer não tem perfil conspirador. Pelo contrário. Michel Temer escreveu aquela carta porque se aborreceu com a falta de espaço para ele e o PMDB.