Emissário da ONU acompanha tensão em MS

Anaya promete relatório imparcial e vê pessoalmente clima de confronto em Dourados

Por João Naves de Oliveira e DOURADOS
Atualização:

Em visita a Mato Grosso do Sul, o relator especial da Organização das Nações Unidas (ONU) para os Direitos e Liberdade dos Povos Indígenas, James Anaya, avisou que fará um relatório objetivo, imparcial e completo sobre as denúncias envolvendo os povos indígenas no Brasil. Ele pôde conferir o grau de tensão no sábado, em Dourados. Enquanto recebia um grupo de caciques, representantes de 50 mil guaranis-caiovás, 500 produtores rurais protestavam do lado de fora do anfiteatro da Universidade Federal de Dourados, ameaçando invadir o local. Anaya está se baseando em fatos veiculados pela mídia para iniciar os trabalhos e, ao final, enviará um relatório ao comando da ONU. Ele informou que a situação nas regiões Norte e Centro-Oeste preocupa a entidade internacional, mas não deu mais detalhes. "Tenho a missão de verificar pessoalmente essas denúncias, fazer um relatório exatamente como a ONU quer", explicou. "Quero ouvir todas as partes envolvidas na situação: índios, políticos e produtores rurais." O emissário da ONU recebeu uma carta com denúncias de 300 líderes indígenas de Mato Grosso do Sul, com temas como assassinatos, suicídios, estupro e tráfico de drogas. Durante a primeira hora do encontro, no anfiteatro, tudo corria normalmente. Foi aí que chegaram ao local os produtores rurais, exigindo participação na reunião. O grupo espalhou faixas contra a demarcação de terras indígenas no Estado e ameaçou invadir o anfiteatro, com capacidade para um máximo de 300 pessoas. Três policiais federais guardaram a porta e uma equipe de choque da Polícia Militar ficou atenta à movimentação. Calmo, Anaya foi avisado sobre a movimentação do lado de fora do anfiteatro e respondeu: "Eu vou atender a todos, sem distinção." Explicou que estava apenas levantando informações e frisou que não existe "interferência" da ONU nas soluções encontradas ou a serem adotadas pelo governo brasileiro. "Nossa participação é apenas de colaboração, na medida do possível", destacou. Anaya, que é índio e nasceu nos Estados Unidos, não cedeu à pressão dos fazendeiros. Ficou até o ultimo momento da reunião com os índios. O que mais irritou os produtores foi uma reza caiová, com dança e chocalhos, que durou pelo menos 40 minutos. Anaya se postou perante os rezadores e, só depois de encerrado o ritual, atendeu aos manifestantes, na Prefeitura de Dourados. Os fazendeiros relataram ao enviado da ONU que a demarcação de áreas indígenas em Mato Grosso do Sul vai tirar 30% da área agriculturável do Estado, algo em torno de 3,5 milhões de hectares. Anaya explicou à imprensa que saiu das reuniões sabendo que não apenas os produtores rurais, mas também os políticos da região, são contra a demarcação. Em Dourados, ele ainda ouviu técnicos da Fundação Nacional do Índio (Funai) sobre a polêmica da demarcação das reservas.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.