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Embaixador na Costa Rica é demitido por desvio de recursos

Por Agencia Estado
Atualização:

Em um caso raro na história da diplomacia brasileira, o Ministério das Relações Exteriores demitiu esta semana um embaixador por improbidade administrativa e desvio de recursos destinados a cobrir despesas com moradia no exterior. O alvo foi Luiz Fernando Oliveira e Cruz Benedini, 56 anos, embaixador do Brasil na Costa Rica até a última segunda-feira e ex-porta-voz do Itamaraty entre 91 e 92, quando ocuparam o posto de chanceler o atual titular, Celso Lafer, e o presidente Fernando Henrique Cardoso. Destituído até mesmo do título de embaixador, Benedini poderá responder à Justiça pelas mesmas infrações e pelo crime de falsidade ideológica. Assinada por Lafer, a portaria que demitiu Benedini foi publicada na edição de segunda-feira no Diário Oficial da União e provocou constrangimento entre os diplomatas. De acordo com o processo administrativo conduzido pela Corregedoria de Serviço Exteriores do Itamaraty desde abril do ano passado, Benedini apropriou-se dos recursos que o ministério destinou para cobrir boa parte dos gastos com o aluguel nas duas vezes em que serviu como cônsul-geral do Brasil em Miami, nos Estados Unidos. Trata-se de um benefício regular aos diplomatas brasileiros que estão servindo em outros países e que cobre entre 60% e 70% do valor do aluguel mensal, conforme os custos locais. O relatório final concluiu que Benedini destinou esses recursos para a aquisição de um imóvel particular em 1986, vendido 11 anos depois. Em seguida, o ex-embaixador comprou outro imóvel em Miami, avaliado em US$ 1 milhão. A investigação concluiu que documentos foram forjados para não provocar suspeitas. Benedini infringiu os artigos 117 e 132 da Lei 8112/99, que regula o serviço público. Acabou demitido, com desonra, por improbidade administrativa e por valer-se de seu cargo para obter proveito pessoal e em detrimento do serviço público. No último dia 29, a Corregedoria encaminhou o relatório final a Lafer, que assinou a demissão, e uma cópia ao Ministério Público, que já vem conduzindo investigações próprias desse caso. Fontes do governo afirmaram que será inevitável a abertura de processo criminal na Justiça contra Benedini por falsidade ideológica. Oficialmente, o Itamaraty não se manifesta sobre o caso. Mas, conforme explicaram fontes do ministério, o processo transcorreu com extrema cautela, garantiu direito de defesa ao ex-embaixador e não deixou dúvida em aberto. O trabalho da corregedoria envolveu a análise de nove embaixadores brasileiros e dois ministros da carreira diplomática, que chegaram às conclusões por unanimidade, e também a avaliação final do consultor-jurídico do Itamaraty, Antonio Cachapuz de Medeiros. ?Ele sempre foi um bom diplomata. Por isso, tivemos de ter absoluta certeza de que cometeu as infrações. Cortamos na carne e isso é muito triste para nós?, afirmou uma das fontes. Na carreira diplomática desde 1970, Benedini serviu em Londres, Assunção, Washington e duas vezes em Miami. Desde outubro de 2000, era o embaixador na Costa Rica. O advogado de Benedini, Otton de Azevedo Lopes, não havia retorna a ligação da reportagem até o início da noite desta quinta-feira. Embora raro, seu processo não é o único da história da diplomacia. Em 1995, o então embaixador do Brasil no Iraque, Mauro Couto, foi demitido por ter se apropriado da diferença das taxas de câmbio ao converter as verbas da embaixada para a moeda local. O desfecho desse caso foi trágico. Couto suicidou-se no Rio de Janeiro.

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