Em Portugal, Dilma confidencia ter ‘problema de maioria’

Em conversa reservada, brasileira diz a presidente português ser preciso ‘fazer avaliação caso a caso’ em cada votação

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Por Redação
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LISBOA - Perto de completar 100 dias do governo com a maior base de apoio no Congresso desde a redemocratização, pelo menos na teoria, a presidente Dilma Rousseff confindenciou nesta quarta-feira, 30, ao presidente português, Aníbal Cavaco Silva, ser obrigada a negociar com os parlamentares aliados "caso a caso", prática conhecida como "varejo" em votações importantes no Congresso.

 

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"Nós temos um problema sério de maioria", afirmou Dilma, em conversa reservada com Cavaco Silva, na cerimônia de doutoramento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na Universidade de Coimbra (Portugal). Dilma estava sentada a cerca de um metro e meio do cercado reservado para cinegrafistas e fotógrafos. Enquanto Lula cumprimentava outros doutores da universidade, a presidente explicava a Cavaco Silva que mesmo sua base 366 deputados e 52 senadores exige negociações constantes para aprovação de projetos de interesse do governo, como o valor do salário mínimo, por exemplo.

 

"Tem maioria na Câmara e no Senado, mas a cada votação sempre é necessário fazer uma avaliação caso a caso", disse Dilma. "Agora, sem coligação é muito difícil de governar", completou.

 

O valor de R$ 545,00 mensais proposto pelo governo para o salário mínimo foi aprovado em fevereiro deste ano na Câmara com folga. A emenda que propunha o valor de R$ 560 foi rejeitada com 361 votos governistas, 120 a favor e 11 abstenções.

 

A dupla de presidentes conversava sobre a crise política e econômica que derrubou o primeiro-ministro português, José Sócrates. A perda de apoio da maioria no Parlamento e a rejeição do plano de austeridade prometido pelo país à Comissão Europeia levou o governo socialista a renunciar. Além disso, Portugal está prestes a receber socorro financeiro do FMI.

 

"Todos os regimes políticos tem as suas dificuldades", afirmou Dilma, citando o presidencialismo adotado no Brasil e o parlamentarismo presidencialista de Portugal.

 

Cavaco havia comentado momentos antes sobre o compromisso de alguns partidos portugueses com a redução do déficit, que fechou 2009 em 9,2%. O plano vetado no parlamento era o principal instrumento do governo para trazer, até 2013, o índice para abaixo dos 3% obrigatórios pela União Europeia.

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Dilma também questionou Cavaco Silva sobre os instrumentos de política econômica disponíveis para o país, mas não foi possível ouvir a resposta do presidente português. Como faz parte do euro, Portugal não pode, por exemplo, desvalorizar a moeda para aumentar as exportações - mecanismo usado por países como Brasil e Argentina em épocas de crise. Ontem, a imprensa portuguesa publicou que o Brasil estaria disposto a comprar títulos da dívida portuguesa. Na terça-feira, a Standard & Poor’s baixou o rating dos papéis para BBB-, um degrau acima do que é considerado "lixo" e em que se encontram os da Grécia. Em dezembro, o ministro das Finanças português encontrou o brasileiro Guido Mantega (Fazenda), para falar d o assunto.

 

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