PUBLICIDADE

Em nome da qualidade do ensino, selvageria na Unesp

PUBLICIDADE

Por Agencia Estado
Atualização:

Estudantes da Universidade Estadual Paulista (Unesp) quebraram duas portas de vidro e invadiram, nesta quarta-feira, uma reunião do órgão máximo da instituição. O reitor José Carlos Souza Trindade, todos os diretores de unidades e outros professores se preparavam para votar um plano de expansão que criaria oito novos câmpus no Estado. Os alunos sustentam que o projeto vai baixar a qualidade do ensino na universidade. Durante a invasão ao prédio da reitoria, na Alameda Santos, houve confronto entre professores e alunos e cerca de dez pessoas ficaram feridas. "Foi uma atitude antidemocrática e um desrespeito", disse o reitor Trindade, depois que os estudantes deixaram a sala onde se realizaria a reunião. Desde o momento da invasão, por volta das 10h30, ele não pronunciou uma só palavra nem sequer se levantou da cadeira da presidência do Conselho Universitário, apesar da insistência dos estudantes em ouvir sua posição sobre o projeto. Trindade escutava, atônito, alunos discursarem e se referirem a ele com palavras como "picareta", "palhaço" e "pilantra". "Não quis falar sob pressão", afirmou, completando que vai instaurar uma sindicância para apurar o que houve. Adiamento A ocupação durou cerca de duas horas e só terminou quando um representante da reitoria anunciou o adiamento da votação, garantindo que o reitor receberia na semana que vem uma comissão de estudantes. Os cerca de 150 estudantes vindos de unidades da Unesp, no interior e na capital, começaram a se concentrar na frente do prédio no início da manhã. Quando a reunião começou, eles mantiveram contato com um membro do conselho, também contrário ao projeto, por celular. Lá dentro, ele pedia ao reitor que deixasse a votação do plano para o fim da reunião e discutisse primeiro a criação de cursos em unidades já existentes. Segundo Trindade, a idéia era atrasar ao máximo a votação para que depois fosse adiada, por falta de tempo. A proposta foi negada e essa resposta desencadeou a invasão. A intenção era impedir a votação e contribuiu para a atitude o fato de os alunos estarem provisoriamente sem participação no conselho. As eleições de seus representantes seriam hoje. "Pedimos para entrar e eles não permitiram", disse a aluna Liana Castilho. Com um chute, um estudante destruiu a porta da frente da reitoria e todos subiram para o 17.º andar, onde se reúne o conselho. Nenhum segurança dificultou a passagem. Na entrada da sala, foram impedidos de prosseguir e começaram a pressionar a porta. Funcionários da Unesp empurravam do lado contrário, até que ela se quebrou. Alguns dos presentes à reunião receberam os estudantes com cadeiras na mão. Agressão Durante a permanência dos alunos na sala, houve várias discussões entre estudantes e professores. O assessor da pró-reitoria de extensão Luis Guilherme Wadt recebeu uma cadeirada de um aluno e agrediu com um tapa a repórter do Estado por imaginar que se tratava de uma estudante. Outro assessor da reitoria, José Afonso Carrijo, foi atingido por estilhaços de vidro e levou cinco pontos na testa. Alguns alunos também tinham a camiseta manchada de sangue. A situação esteve tensa durante todo o tempo e muitos professores se refugiaram no fundo da sala. "Também discordo de alguns pontos do projeto, mas impor a opinião pela violência é uma atitute fascistóide", disse o diretor da unidade de Araraquara, José Segatto. "Quem tem o privilégio de estudar em uma universidade pública não pode ter um comportamento desse", completou o chefe de gabinete da reitoria, Luiz Antonio Vane.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.