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Em discurso agressivo, Requião promete radicalizar

Reeleito no Paraná, o governador disse que não vai haver conciliação com adversários, criticou a imprensa e prometeu "governo de esquerda" no Estado

Por Agencia Estado
Atualização:

O governador reeleito do Paraná, Roberto Requião (PMDB), fez um discurso agressivo ao tomar posse, nesta segunda-feira, na Assembléia Legislativa do Paraná, pelo qual descartou a conciliação com os adversários políticos contra quem disputou as eleições. Ele também declarou que fará um "governo de esquerda". Considerando-se injustiçado pela imprensa, Requião disse que, nos próximos quatro anos, a "grande mídia" paranaense não receberá dinheiro do governo. Requião dedicou o discurso de posse ao ex-governador de São Paulo, Cláudio Lembo (PFL), "um político que surpreendeu com a capacidade de dizer o que pensa e demonstrar com clareza sua sensibilidade social". Ele não economizou nas palavras contra os adversários da última eleição, apesar de dizer ter sido aconselhado por alguns colegas a fazer um discurso de conciliação. "Toda vez que se vêem em perigo ou depois de uma derrota, os interesses dominantes - a direita, sejamos claros - ressurge com a conversa mole da harmonia, da concórdia, do somos todos amigos, somos todos irmãos", criticou. Segundo o governador, os adversários fariam o mesmo se ele fosse perdedor. "Prometiam terríveis vinganças", acentuou. Esperançoso de vencer no primeiro turno, Requião ganhou no segundo, e por uma diferença de pouco mais de 10 mil votos. Jogou a culpa nas costas dos adversários. "Nunca se viu uma união de forças tão poderosas, tão obstinadas, tão arrogantes e, ao mesmo tempo, tão sem escrúpulos como a que enfrentamos", salientou. "Nada os deteve. Passaram como uma horda de bárbaros sobre as mais comezinhas regras da convivência, da urbanidade", continuou. "Discursavam com gosto de sangue na boca, com punhal entre dentes". Em contraponto, o governador reeleito disse que optou pelo "lado dos mais pobres, dos trabalhadores, dos pequenos, dos agricultores familiares, do fortalecimento das políticas públicas de saúde, educação e da segurança". "O nosso lado é o lado do povo", afirmou. Mas, segundo ele, há pessoas que "torcem o nariz" quando algum governo declara isso. "E lá vem essa conversa toda de populismo, do horror a um Hugo Chávez (presidente da Venezuela), a um Evo Morales (presidente da Bolívia), a um Rafael Correa (presidente do Equador), a qualquer um enfim, que se oponha ao consenso de Washington, aos ditames do FMI, às receitas do neoliberalismo, à ação sem freio do mercado." Segundo ele, nos próximos quatro anos será "radicalizada" a opção por governar para o povo. "E não é um governo de centro-esquerda, não. Não venham com centrismos, com esse equilibrismo. Somos sim um governo de esquerda. E que a má interpretação ou a distorção daquilo que disse o presidente Lula não sirva de pretexto para que alguns neguem o lado em que nos posicionamos", acrescentou. Como já vinha fazendo desde as eleições, ele voltou as armas contra a imprensa. E não parou mesmo depois que deixou a Assembléia. Em discurso na posse do secretário da Casa Civil, Rafael Iatauro, Requião disse que o primeiro compromisso de seu governo é o "famoso choque de democracia na imprensa". Segundo ele, não haverá dinheiro para a "grande mídia" do Paraná nos próximos quatro anos. "Batam como quiserem, mas os recursos do Estado serão colocados exclusivamente nos programas de infra-estrutura e nos programas sociais", anunciou. Entusiasmado, o vice-governador Orlando Pessuti (PMDB), lançou Requião como candidato à Presidência da República, dizendo que será realizado um governo "para colocar o Paraná no caminho da política nacional". Em resposta, Requião disse que a proposta pode "parecer interessante, mas atrapalha um governo". "O fundamental é a concentração absoluta de todos nós nos objetivos comprometidos com o governo do Paraná", ressaltou. "A Presidência da República fica com o Lula, e nós esperamos que ele faça um governo excepcional". E novamente Requião citou o ex-governador paulista. "Como diria o melhor...como disse o imprevisível e extraordinário conservador brasileiro Cláudio Lembo: não fosse o Lula na Presidência da República, com este vezo de acentuadas políticas sociais, nós veríamos dentro de muito breve um grande conflito social eclodir no País", disse. Trajetória política Controvertido, o governador do Paraná, Roberto Requião (PMDB), reeleito em outubro no segundo turno, é um político com ideais nacionalistas que não se furta a comprar brigas com setores relevantes da economia. No mandato que se encerra dia 31 de dezembro, enfrentou os plantadores de soja transgênica, proibindo o embarque do produto pelo porto de Paranaguá sob o argumento da incerteza sobre o impacto da variedade no organismo e no meio ambiente. Ele apontou ainda o bom desempenho da soja convencional e fez críticas ao poder de monopólio das empresas de biotecnologia. A proibição acabou suspensa após a Justiça Federal considerá-la ilegal. O setor financeiro também não escapou de seus ataques. Com o slogan "dinheiro público em banco público", ele trocou o monopólio do Itaú na movimentação das contas do Estado pelo Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal, instituições da esfera federal. O Itaú havia herdado as operações financeiras do Paraná após a aquisição do Banestado, banco estadual privatizado. Nas estradas, Requião vive uma verdadeira guerra judicial. Tem pelo menos 38 ações em andamento contra as empresas concessionárias, que, segundo ele, conseguiram do ex-governador Jaime Lerner contratos desfavoráveis ao Estado. O governador, eleito em 2002, defende o fim dos pedágios --que considera "uma aberração"-- e é contra a transferência das rodovias à iniciativa privada, alegando que o Paraná arrecada o suficiente para as obras rodoviárias. Em outro front, Requião vem sendo investigado por uma comissão especial da Assembléia Legislativa do Paraná sobre invasões de terras no Oeste do Estado, região que concentra as atividades do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e da Via Campesina. O relatório da comissão indicou que o governador foi conivente com os sem-terra nas invasões.

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