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Em 'Diários da Presidência', FHC avalia que nenhum presidente governa sem o PMDB

Avaliação faz parte do primeiro volume de Diários da Presidência, série de quatro livros com os registros do cotidiano do tucano na chefia do Executivo federal, a ser lançada neste mês pela Companhia das Letras

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Por Pedro Venceslau
Atualização:

SÃO PAULO - No primeiro biênio de sua passagem pelo Palácio do Planalto, o então presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) vaticinava o que ele próprio, além de seus sucessores petistas Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, viveriam: não se governa o Brasil sem o PMDB na base de apoio legislativo. A avaliação faz parte do primeiro volume de Diários da Presidência, série de quatro livros com os registros do cotidiano do tucano na chefia do Executivo federal, a ser lançada no dia 29 de outubro pela Companhia das Letras.

"Essa base de apoio eu a estendi depois das eleições e peguei o PMDB, uma parte importante do PMDB, e vejo assim o futuro também. Seja eu o presidente ou outro que venha a me suceder , ninguém vai poder governar o Brasil sem ampla base de apoio", anotou FHC em registro de 25 de julho de 1996, ao relatar uma reunião com deputados do PMDB. O ex-presidente, embora reconhecesse o papel fundamental do PMDB para compor a base do governo, reclamava da dificuldade de negociar com o partido, por causa de suas divisões internas.

O ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso (PSDB) Foto: Daniel Teixeira/Estadão

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Participaram daquela reunião os hoje tucanos Aloysio Nunes Ferreira, atual senador por São Paulo, e Alberto Goldman, ex-governador paulista, além de Luís Carlos Santos, membro da coordenação política do governo, e o hoje vice-presidente Michel Temer, que no ano seguinte seria eleito presidente da Câmara, com apoio do Planalto.

Na mesma reunião, FHC fez um alerta aos interlocutores: "É melhor que o PMDB se fortaleça nas mãos de gente que não seja caudilho local, tipo (Orestes) Quércia, ou que não fique na base da corrupção. Eles concordaram".

Em outro trecho do livro, em 2 de agosto do ano seguinte, FHC fala sobre o quanto é "delicado" negociar o apoio dos peemedebistas. "À tarde recebi o senador Renan Calheiros, do PMDB de Alagoas, que veio falar da situação desesperadora de seu estado. Mas veio mesmo conversar um pouco mais sobre política e dizer que eu tenho que tomar uma decisão sobre a sucessão no Senado. Por quê? Porque o PMDB está um pouco dividido, eles desconfiam que o Sarney esteja apoiando o Antônio Carlos (Magalhães), o Jader (Barbalho) está um pouco preocupado com o Sarney". A disputa, no ano seguinte, foi vencida por ACM.

Fogo amigo. Ao longo das quase 900 páginas do primeiro volume, FHC também reclama do seu próprio partido, o PSDB. Para o ex-presidente, os integrantes da legenda reclamavam muito e não ajudavam como deveriam no Congresso. "O PSDB se queixa do de sempre, falta de atenção (...) O PSDB tem que assumir a bandeira do governo, e não tem assumido", disse o presidente depois de uma reunião com dirigentes tucanos.

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