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Em 'crise de identidade', PSDB tenta modular discurso

Legenda busca ‘decodificar’ seu papel de oposição ao mesmo tempo em que enfrenta contradições internas

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Por Erich Decat
Atualização:

BRASÍLIA - Com dificuldades para impor sua agenda mesmo diante de um governo federal enfraquecido, o PSDB vai renovar sua Executiva Nacional no próximo mês buscando superar uma espécie de crise de identidade pela qual passa e saídas para conseguir estruturar um discurso para as eleições municipais de 2016. Embora comemorem a deterioração da imagem do governo Dilma Rousseff e do PT, setores do PSDB admitem que ainda falta à legenda mecanismos para poder capitalizar a insatisfação dos eleitores. 

Internamente há também cobranças para se “decodificar” o discurso apresentado pelos tucanos e críticas à falta de uma postura mais clara em temas que envolvem o dia a dia da sociedade. 

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Recentemente, posições da bancada do PSDB na Câmara dos Deputados foram alvo de ataques de tucanos históricos por contrariar decisões antigas do partido - principalmente o apoio ao fim da reeleição e a flexibilização do fator previdenciário, instituídos no governo presidencial de Fernando Henrique Cardoso, além de outras votações da reforma política e do ajuste fiscal. 

Neste semestre, o PSDB também viveu momentos de dissidências interna e críticas externas ao decidir descartar a possibilidade de pedir o impeachment da presidente Dilma Rousseff. Após queda de braço entre integrantes da bancada na Câmara e a cúpula do partido, optou-se, a contragosto de parte dos deputados, por um pedido de ação penal contra Dilma por causa das chamadas pedaladas fiscais.

Na avaliação de integrantes da Executiva Nacional e da bancada no Congresso ouvidos pela reportagem, a ambiguidade em algumas iniciativas da cúpula do PSDB se deve, em parte, ao chamado “eleitoralismo”, em que por receio impactos eleitorais evita-se um posicionamento ostensivo em assuntos polêmicos. 

“É necessário que o partido tenha mais formulação sobre os temas que a sociedade está discutindo. Acho que precisa ter uma posição política sobre os temas que estão no cotidiano da sociedade. Dentro da bancada não está faltando essa discussão. Mas acho que o partido tem, por exemplo, que integrar mais o Instituto Teotônio Vilela (ITV) na questão da formulação das politicas públicas para que fique claro para a população”, defende o deputado federal Jutahy Junior (BA), ligado ao senador José Serra (SP). 

Integrante do grupo mais próximo de Geraldo Alckmin, o deputado Silvio Torres (SP) defende que a nova Executiva do partido realize um trabalho para estar “sintonizada” com as reivindicações das ruas.

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Recondução. O atual presidente da sigla, senador Aécio Neves (MG), será reconduzido ao cargo em uma cúpula que será reforçada pela ala paulista. Torres deve ocupar a secretaria-geral do PSDB na convenção nacional da legenda em julho. O posto é considerado o segundo cargo na hierarquia tucana, abaixo da presidência. 

“Acho que saímos de uma eleição presidencial com uma carga de votos onde se misturam várias tendências. O PSDB está realmente tentando ser uma resultante disso, mas para isso tem que administrar. Aqueles votos não foram todos de partidos, foram boa parte de rejeição ao que está ai. Uma função importante da nova Executiva é harmonizar isso. Buscar colocar o partido bem mais sintonizado do que estava, e que está agora”, ressaltou Torres. 

Ao falar sobre as “vacilações” em alguns temas controversos discutidos no primeiro semestre no Legislativo, ele considera que a falta de um posicionamento convincente em determinados casos não está relacionado ao receio de possíveis impactos eleitorais. “A verdade é que os temas polêmicos estão vindo muito rapidamente. Não é só o PSDB que não está muito preparado para dar suas respostas. Ninguém lá dentro do Congresso está. Não dá tempo de decantar opiniões sobre temas tão polêmicos”, afirmou Torres. 

Para o atual secretário-geral do PSDB e deputado Mendes Thame (SP), a legenda também tem que acabar com uma “cultura” enraizada ao longo dos anos na qual poucos participam das decisões internas. “Não é uma critica à gestão atual ou dos que passaram, é uma cultura interna que está em todos os partidos”, disse Thame. 

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Terceirização. Outro exemplo lembrado por tucanos que dividiu o partido nesse primeiro semestre e passou uma imagem confusa para os eleitores foi a discussão em torno do projeto da terceirização, que atinge principalmente os setores sindicalizados. Na discussão do texto que ampliou a terceirização para atividade-fim o partido não conseguiu votar de forma coesa. Dos 43 deputados presentes na votação, 10 foram contra a orientação, pela aprovação do texto, encaminhada pelo líder da bancada, Carlos Sampaio (SP). 

Embora a maioria tenha se posicionado a favor, Aécio defendeu dias depois, em evento do Primeiro de Maio, que o texto fosse aprimorado. “Vamos propor um limite para que as empresas possam terceirizar algumas das suas atividades. O Senado vai aprimorar o projeto votado na Câmara”, disse no ato comemorativo do Dia do Trabalho, promovido pela Força Sindical, em São Paulo. 

Apesar de o PSDB ter chegado perto da vitória presidencial no ano passado, a avaliação corrente é que o partido foi empurrado no primeiro semestre do segundo mandato para o papel de “coadjuvante” dentro Congresso. 

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O “vácuo de poder” criado pela queda de popularidade do governo e pelas crises econômica e política foi ocupado pelas principais lideranças do PMDB, que não descartam a possibilidade de lançar um candidato à Presidência da República em 2018. No comando da Câmara e do Senado e responsáveis pela liberação dos cargos do segundo escalão do governo federal, os peemedebistas protagonizaram a condução dos principais confrontos com o Palácio do Planalto.

 

“Acho que o PMDB está aproveitando as circunstâncias. Essa situação caiu no colo deles, nem eles imaginavam que o governo iria a pique. Tendo esse espaço no governo e as duas Casas no Congresso, eles estão muito mais prontos para ter esse protagonismo”, disse Torres.

Porém, para o vice-presidente nacional do PSDB, Alberto Goldman (SP), o PMDB ganhou “relevância” apenas pelos espaços institucionais que ocupa, mas não pelo conjunto de ideias apresentados à sociedade. “Não vejo nenhum crescimento do PMDB pelo conjunto de ideias, pelo conjunto de renovação de perspectivas que possam melhorar as condições de vida da população. Não me parece que haja qualquer crescimento qualitativamente substancial do PMDB, que continua o mesmo PMDB de sempre”, afirmou Goldman.

No aspecto eleitoral, a convenção nacional tucana no próximo mês vai marcar o início de uma investida do partido para retomar a Prefeitura de São Paulo e conquistar vitórias nas capitais no Nordeste, onde hoje se concentra a força do PT. 

‘Batalhas’. No radar do PSDB está o fato de que uma derrota do PT em São Paulo poderia colocar em xeque a estratégia do ex-presidente Lula de tentar criar uma nova geração de petistas em cidades polos, além de enfraquecer uma candidatura presidencial do PT em 2018. “As batalhas do partido se estenderão em torno das eleições municipais no País inteiro. Mas claro que quanto maior a cidade, mais importante é o esforço que temos que dedicar. E sendo São Paulo a principal cidade do País é natural que as direções estaduais e nacionais estejam com olhar dirigido para a essa eleição”, disse Goldman. 

Para lideranças do partido, mesmo no Nordeste, onde o PT tem conquistado a maioria dos votos nas últimas eleições presidenciais, a expectativa é de reviravolta. “Todo que ficou para trás que pode servir de referencia (do governo do PT) não tem mais lógica neste momento porque o governo simplesmente ruiu. O governo não perdeu apenas popularidade, ele perdeu credibilidade. A partir dai nem mesmo aquela base sólida que a presidente Dilma tinha no Nordeste existe mais”, afirmou o líder do PSDB no Senado, Cássio Cunha Lima (PB). 

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