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Em congresso marcado por divergências, PT escolhe presidente do partido

Senadora Gleisi Hoffmann disputa com Lindbergh Farias a presidência do partido

Foto do author Vera Rosa
Por Vera Rosa e Ricardo Galhardo
Atualização:

BRASÍLIA - A senadora Gleisi Hoffmann (PR) deve ser eleita neste sábado, 3, presidente do PT em um congresso marcado por divergências em relação aos rumos do partido no rastro da maior crise de sua história. Líder do PT no Senado e ré na Lava Jato, Gleisi é a candidata do grupo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e concorre com o senador Lindbergh Farias (RJ), apoiado por correntes mais à esquerda.

Os candidatos àpresidência do PTJoséde Oliveira (esq.) e os senadores Gleisi Hoffmann e Lindbergh Farias no6.ºCongresso Nacional do PT, neste 2 de junho, em Brasília Foto: Daniel Teixeira/Estadão

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A disputa para a sucessão de Rui Falcão evidenciou o racha no PT durante a apresentação de propostas das correntes para uma possível candidatura de Lula ao Palácio do Planalto, em 2018. Sem fazer um acerto de contas com quem cometeu irregularidades nem o inventário de seus erros, o 6.º Congresso Nacional do PT minimizou as denúncias de corrupção e culpou a política econômica adotada no segundo mandato de Dilma Rousseff pela crise que levou ao impeachment. A bandeira das "diretas já" e a não participação do PT em eleições indiretas, caso o presidente Michel Temer seja deposto, foram os poucos pontos de consenso.

Ao abrir o encontro petista, na noite de quinta-feira, 1, Lula deu uma bronca nos correligionários ao dizer que as correntes do partido precisam “falar para fora” e não se engalfinharem por assentos na Executiva. Além disso, o ex-presidente disse esperar a eleição de Gleisi, que deve fazer cerca de 60% dos votos. 

O discurso de Lula provocou contrariedade no grupo Muda PT, que apoia Lindbergh e reúne tendências à esquerda no espectro ideológico do partido.

“Se não tivéssemos tendências no PT, com certeza não teríamos sobrevivido a essa crise”, reagiu o ex-prefeito de Porto Alegre Raul Pont, da Democracia Socialista (DS). “Levamos dez anos para aprovar a representatividade proporcional na Executiva e rompemos com a ideia de partido monolítico. Não vamos mudar isso."

Batizada de Construindo um Novo Brasil (CNB), a corrente de Lula deve continuar majoritária no comando do PT, mas as alas à esquerda tentam emplacar tópicos no esboço de programa para 2018, como a estatização de empresas e a defesa mais veemente do socialismo.

“Eu acho que Lula tem razão quando diz que precisamos falar mais para fora. Às vezes, ficamos discutindo muito nossa vida interna”, afirmou o líder do PT na Câmara, Carlos Zarattini (SP), integrante da CNB. "As tendências de hoje, no partido, estão burocratizadas. Não formulam, não dão diretrizes e, portanto ficaram obsoletas", completou o deputado José Guimarães (CE), vice-presidente do PT.

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Apesar da “chamada” nos delegados do Congresso, Luladisse em reuniões reservadas que quer um “núcleo político forte” na direção do partido. A Executiva do PT aumentará o número de cadeiras de 18 para 26 e o Diretório Nacional, hoje com 82 integrantes, ficará com 90. Falcão deixa a presidência e vai concorrer a uma vaga de deputado federal, em 2018, mas deve permanecer na Executiva.

Plano de emergência. O PT também aprovará hoje um Plano Nacional de Emergência, que servirá como base para as diretrizes de um eventual programa de governo. Na lista das propostas em discussão está o uso “criterioso e gradual” de 25% das reservas cambiais em um Fundo Nacional de Desenvolvimento e Emprego, destinado a investimentos em infraestrutura e no setor produtivo.

A proposta chegou a ser apresentada a Dilma, mas foi rejeitada. Depois do escândalo na Petrobrás, revelado pela Lava Jato, o PT também quer “retomar a política de conteúdo nacional” da empresa, modificada no governo Temer, sob a justificativa de que é preciso gerar empregos no País e superar a perda de postos de trabalho dos últimos dois anos.