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Em congresso de trabalhadores rurais, Lula critica reformas de Temer e afirma que vai viajar o País

Na véspera de prestar depoimento em Brasília no processo que apura suposta tentativa de obstrução da Lava Jato, ex-presidente diz que o Brasil está vivendo 'tempos difíceis' e avisa que vai visitar as obras de tranposição do Rio São Francisco, no próximo domingo, 19

Foto do author Vera Rosa
Por Isabela Bonfim e Vera Rosa
Atualização:

BRASÍLIA - O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse nesta segunda-feira, 13, que o Brasil está vivendo “tempos difíceis” e avisou que voltará a viajar pelo País, começando pela inspeção às obras de tranposição do Rio São Francisco, no próximo domingo, 19. Na véspera de prestar depoimento na 10.ª Vara da Justiça Federal, em Brasília, no processo que apura uma suposta tentativa de obstrução da Operação Lava Jato, Lula criticou as reformas da Previdência e trabalhista e afirmou nunca ter visto um presidente “com tão pouco prestígio e tantos votos no Congresso” como Michel Temer.

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva participa da abertura de congresso de trabalhadores rurais em Brasília Foto: Joédson Alves/EFE

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“É um presidente não eleito, que quase não se elege nem para deputado, que tirou o que vocês tinham conquistado”,disse Lula, na abertura do 12.º Congresso dos Trabalhadores Rurais. “Essa gente não tem noção do que é esse País. Quando o pobre começa a ter direito incomoda. Vocês já viram algum deles cortar a aposentadoria deles? Não. Começa por nós.”

Aplaudido pela plateia, no evento organizado pela Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agriculturua (Contag), o ex-presidente fez discurso de candidato ao Palácio do Planalto e disse que, aos 71 anos, tem disposição “de 35” para voltar a percorrer o País. Ao criticar as mudanças trabalhistas propostas pelo governo, Lula afirmou que “querem diminuir o pouco de conquista” obtida pela classe trabalhadora, nos últimos anos. “Até hoje não aceitaram a reforma que Getúlio fez”, disse ele, numa referência a leis trabalhistas criadas pelo presidente Getúlio Vargas, considerado o “pai dos pobres”.

Vestido com uma camisa preta, o petista foi recebido aos gritos de “Lula/ Guerreiro/do Povo Brasileiro” e “Brasil/Urgente/Lula Presidente”. No Centro de Convenções Ulysses Guimarães, onde se realizou o evento, miltantes do PT gritavam “Fora Temer”. Foi o primeiro ato público de que o ex-presidente participou desde a morte de sua mulher Marisa, em 3 de fevereiro.

Lula estará no próximo domingo em Monteiro, na Paraíba, para visitar as obras de transposição do São Francisco. Temer esteve no mesmo lugar na sexta-feira, 10, e lá inaugurou o Eixo Leste. O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), também visitou um trecho da obra, mas em Pernambuco. O PT, o PMDB e o PSDB disputam os dividendos políticos da transposição.

“Será que eles têm noção do que é a transposição das águas?”, questionou o petista. Ele mesmo respondeu: “Não têm, porque nunca fizeram. Porque de todos os presidentes, só eu carreguei um pote de água na cabeça. Só eu.”

Mulheres. Lula também não perdeu a oportunidade de criticar deslizes de Michel Temer. Ele criticou o discurso do peemedebista no Dia Internacional da Mulher. "O presidente acha que lugar de mulher é na cozinha." E aproveitou para parabenizar a Contag, organizadora do evento, por estabelecer paridade entre homens e mulheres em cargos diretores. 

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"As mulheres não vão se contentar com cotas de 30% ou 40%. Elas querem paridade, depois elas vão querer tudo. As mulheres vão provar que têm tantas ou mais condições de governar o Brasil", afirmou recebendo aplausos das trabalhadoras do evento. 

Segundo o petista, em seu governo, o Brasil era respeitado no exterior. "Hoje o presidente é um doutor que não tem coragem de sair do País, porque não tem respeito lá fora."

Depoimento. Acusado de tentar obstruir as investigações da operação Lava Jato, Lula será interrogadonesta terça-feira, a partir das 10h, na sede da Justiça Federal de Brasília. Esta será a primeira vez que Lula será questionado em juízo como réu numa ação penal relacionada à da Operação Lava Jato.

Também são réus da ação penal o pecuarista José Carlos Bumlai; o ex-senador Delcídio Amaral; o banqueiro André Santos Esteves; o ex-assessor de Delcídio, Diogo Ferreira Rodriguez; o advogado Edson Siqueira Ribeiro Filho, e o filho de Bumlai, Maurício. Os advogados dos réus e o representante do Ministério Público Federal, além do juiz Ricardo Leite, podem fazer perguntas para o ex-presidente.